1898: Art Nouveau conquista Viena

  • No dia 26 de março de 1898, foi inaugurada na capital austríaca a primeira mostra da Secessão de Viena, um grupo formado por novos artistas que se opunham à dominação da Casa do Artista.
No final do século 19, reinava um clima de inovação nas artes e um novo estilo começou a se impor na Europa. Ele floresceu de 1890 até a Primeira Guerra Mundial e teve nomes diferentes. Na França, foi chamado Art Nouveau; na Alemanha, Jugendstil; na Áustria, Secessão; na Itália, Liberty e, na Inglaterra, Modern Style. Um dos principais centros de propagação da nova arte foi Viena. Na capital austríaca, 19 artistas renomados formaram o chamado grupo Secessão de Viena, independente do meio artístico reconhecido pelo Estado. Segundo o diretor da Galeria Austríaca, Gerbert Frodl, esse grupo procurou se firmar na cidade sem passar pelos meandros da Casa do Artista, que ditava as regras no setor cultural. No dia 26 de março de 1898, a nova associação de artistas, liderada por Gustav Klimt, Kolo Moser, Joseph Hoffmann e Alfred Roller, lançou a pedra fundamental de sua própria galeria. O edifício branco com um hemisfério em folhas douradas na cúpula lembra um planetário, que se destaca exoticamente da suntuosa arquitetura de um dos principais anéis viários de Viena. As exposições da Secessão – como foi batizada a galeria – tiveram forte repercussão pública e aumentaram rapidamente a fama do grupo.
  • Oposição ao historicismo neobarroco

Nessa época, ainda dominava em Viena o historicismo neobarroco, marcado por quadros pomposos e detalhistas do pintor Hans Markart. Provocativo, o novo estilo Secessão (Art Nouveau) valorizava o decorativo e o ornamental, determinando formas tridimensionais delicadas, sinuosas, onduladas e sempre assimétricas. Foi uma reação individualista de conteúdo romântico frente às tendências ecléticas e ao classicismo acadêmico. A pintura do austríaco Gustav Klimt (O Beijo), as ilustrações eróticas do inglês Aubrey Beardsley, as luminárias, bibelôs e vidros dos franceses Émile Gallé e René Lalique, os projetos arquitetônicos do belga Victor Horta, do francês Hector Guimard (que desenhou as saídas do metrô de Paris) e a arquitetura do catalão Antonio Gaudí são os exemplos mais típicos desse estilo. A Art Nouveau – também chamada "estilo 1900" – valorizava a linha curva, inspirada no mundo vegetal (Bélgica, França) ou na geometria (Escócia, Áustria). O propósito comum era acabar com a imitação de estilos do passado, substituindo-os por uma arquitetura florida, que explorava o artesanato, os materiais coloridos e revestimentos exóticos. Foi também uma tentativa de integrar a arte à vida social.

  • Todo um estilo de vida

O novo estilo estendeu-se a todos os campos da arte. A música extrapolou lentamente os limites da tonalidade. Dança expressiva foi o nome dado ao novo balê sem sapatilhas. Os costureiros libertaram o guarda-roupa feminino do clássico espartilho. Arquitetos dessa corrente construíram nas metrópoles européias estações de metrô tão elegantes quanto casas de ópera. O novo estilo invadiu também as fábricas de tecidos, cristais e jóias. Em poucos anos, o Jugendstil tornou-se onipresente, a ponto de ser criticado pela revista Jugend – principal porta-voz do movimento. Uma das características marcantes da Art Nouveau foi o fato de ter sido um "estilo de artistas", que procurou a unidade e igualdade das artes. Vinculado intrinsecamente à literatura, pintura, escultura, música, às artes decorativas e gráficas, o movimento propagou ideais estéticos inexplorados e, em sua fase final, tentou conciliar a arte com a indústria. A Primeira Guerra Mundial (1914–1918) pôs fim à Art Nouveau, que foi sucedida pela Art Déco, o estilo Bauhaus e o expressionismo.

Colecção Ensarte

  • A análise e apreciação do crescimento das artes plásticas ao longo dos anos será o objectivo principal da amostra que a organização do Ensarte vai realizar, no próximo dia 17 de Abril, no Salão Internacional de Exposições (Siexpo), do Museu de História Natural, com o intuito de mostrar às várias expressões criativas dos artistas nacionais.
Com uma amostra dos quadros e esculturas de todos os vencedores do Prémio Ensarte, desde a sua fundação, o concurso que este ano será regido pela expressão tridimensional sobre a evolução económica, social e política de Angola, tem-se mostrado numa das apostas de incentivo ao desenvolvimento das belas artes angolanas, segundo o historiador e crítico de arte, Simão Souindoula.
“Principal iniciativa de envergadura lançada no sector das artes visuais em Angola, o Ensarte contribui, a diversos níveis, na promoção da pictural e escultural arte plástica nacional”, realçou. Tendo em conta o seu objecto artístico-social, a organização do Ensarte decidiu ainda criar, em Maio próximo, uma exposição fotográfica que reunirá, no Museu de História Natural, os melhores trabalhos do artista José Silva Pinto.Trazendo uma ideia do que será a edição deste ano, onde as criações cingir-se-ão à reprodução artística dos esforços efectuados em prol da reconstrução do país, o concurso de pintura e escultura Ensarte exibirá aos luandenses as novas tendências artísticas de antigos e novos criadores angolanos expressas a partir das suas proféticas previsões.“Outra das inovações notadas na Bienal da Seguradora da Marginal deste ano é a realização até ao pró- ximo mês de Agosto, no quadro da sua celebração trintenária, de um conjunto de actividades conexas ao concurso”, explicou Simão Souindoula.
Com “Artistas Confirmados” e “ Jovens Talentos” em disputa, o evento que encerrará às suas portas ao público no próximo dia 15 de Junho do corrente, permitirá, segundo Simão Souindoula – que também é consultor da Bienal da Arte Africana Contemporânea de Dakar – efectuar uma retrospectiva institucionalizada de 17 anos da história do país.Realizada bianualmente pela Empresa Nacional de Seguros de Angola (Ensa), o prémio que estará aos olhos público este ano com o lema “ As expectativas de Angola em Paz”, ajudará a reforçar o nível da qualidade das belas artes nacionais e colocar novos criadores no crescente artístico nacional.

Artistas polivalentes

  • A influência foi das escolas Bauhaus, da Alemanha, e De Stijl, da Holanda, que a partir da primeira metade do século passado difundiram a integração de artes plásticas, arquitetura e design. Inspirados por elas, brasileiros como Abraham Palatnik, Lygia Clark e Willys de Castro seguiram os princípios estéticos do construtivismo.
Aquela arte não figurativa, que se caracteriza pela abstração geométrica, tornou-se de fácil assimilação ao ser usada na criação de objetos de consumo diário. Na mostra Diálogo Concreto, essa ponte está representada por pinturas e esculturas de onze importantes artistas exibidas ao lado de cartazes, poltronas e outros trabalhos que estes assinaram como designers. No acervo escolhido, imagens do filme Balé Neoconcreto, feito em 1958 por Reynaldo Jardim e Lygia Pape, revelam os grafismos que a artista viria a utilizar nas embalagens de uma famosa marca de biscoitos carioca. No que pode render outra comparação curiosa, o óleo sobre tela Cornucópia (foto), de Aluísio Carvão (1920-2001), será exibido com as várias capas de livros e revistas feitas pelo pintor.

Diálogo Concreto ­ Design e Construtivismo no Brasil. Caixa Cultural (Galeria 3). Avenida Almirante Barroso, 25, Centro, 2544-7666, Metrô Carioca. Terça a domingo, 10h às 22h. Grátis. Até 27 de abril. A partir de terça (25).

Retábulo desvendado

  • Obra fundamental do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, o retábulo de Santos-o-Novo, atribuído a Gregório Lopes (sec. XVI), terá, no fim da tarde de amanhã, uma abordagem especial no âmbito do projecto de visitas guiadas a dez obras de referência do acervo do espaço localizado na Rua das Janelas Verdes.
Adelaide Lopes e Anísio Franco - especialistas em História de Arte e técnicos do MNAA - satisfazem os olhares curiosos que, a partir das 18 horas de amanhã, queiram a ficar a saber algo mais sobre a obra em questão."Gregório Lopes, agraciado em 1520 como cavaleiro espatário, uma singularíssima distinção para oriundos de profissões ditas 'mecânicas' (como na época se considerava a de pintor), era decerto o mestre mais "institucional" e qualificado para o cumprimento de uma empreitada de dimensão e brilho como a do retábulo de Santos-o-Novo", lembra uma nota do MNAA.

Segundo os técnicos do museu, "a historiografia da arte portuguesa tem geralmente consignado a autoria deste retábulo a Gregório Lopes, embora não se conheçam quaisquer documentos relacionados com a execução da obra. Segundo argumentos de leitura visual, constata-se a sua grande proximidade, não só cronológica como fundamentalmente estilística, como as obras documentadas deste pintor régio para a Charola do convento de Cristo em Tomar (1536-39) e painéis afins da Igreja de São João Baptista da mesma cidade".O projecto "Visita guiada a dez obras de referência do MNAA", iniciado em 2006, decorre todas as últimas quartas-feiras de cada mês (com excepção para Agosto e Dezembro).O objectivo desta iniciativa, iniciada pela então directora do MNAA, Dalila Rodrigues, e agora continuado pelo actual director, Paulo Henriques, "é a divulgação e promoção do património cultural, permitindo aos diversos públicos do MNAA uma visão imediata da importância histórica e da diversidade tipológica das obras em exposição.O público participante nestas visitas, de entrada gratuita, recebe, momentos antes do início de cada sessão, folhetos informativos que apresentam uma imagem e um pequeno resumo sobre a obra-prima que se exibe, de modo a permitir a sua contextualização.

O ciclo de visitas guiadas prossegue dia 30 de Abril com a visita à tapeçaria Baptismo de Cristo (Bruxelas, inícios do séc. XVI). A 28 de Maio, será a vez da pintura "Deposição no Túmulo" (Giambattista Tiepolo, 1765-70); a 25 de Junho, a peça de mobiliário "Cadeira de D. Afonso V" (último quartel do séc. XV) e a 30 de Julho a pintura "Família Visconde de Santarém (Domingos Antonio Sequeira, 1816).Após as férias de Agosto, o programa será retomado, a 24 de Setembro, com a visita guiada a uma peça de ourivesaria, "Custódia da Bemposta (2º metade séc. XVIII). Segue-se, a 29 de Outubro, a "Conversação" ( pintura de Pieter Hooch, 1663-35).

O ciclo encerra a 26 de Novembro, com a visita à escultura "Presépio do Marquês de Belas" (1796-1812).Instalado no Palácio dos Condes de Alvor desde a sua criação (1884), o Museu Nacional de Arte Antiga começou por reunir o vasto espólio artístico proveniente dos conventos extintos pela lei liberal de 1834. Enriquecido posteriormente por aquisições e doações, apresenta colecções de arte europeia do século XII ao século XIX, bem como a mais completa colecção de arte portuguesa do mesmo período, entre pintura, escultura, cerâmica, faiança, joalharia, ourivesaria, desenho, gravura, iluminura, tapeçaria, têxteis e mobiliário. Além disso, apresenta também um conjunto de arte ornamental da África, Índia, China e Japão, reunindo um total de mais de 44 mil peças. Presentemente, além da exposição permanente, o MNAA tem patentes três exposições temporárias "Olhar de perto. Os Primitivos Flamengos do Museu de Évora", que decorre até 20 de Abril e "Objectos de Culto" e "Cenas da Vida Mariana", que podem ser visitadas até 4 de Maio.

1919: Inauguração da escola Bauhaus

  • No dia 21 de março de 1919, o arquiteto Walter Gropius inaugurou a Escola Bauhaus em Weimar, no leste da Alemanha.

Ao fundar o movimento Bauhaus – que significa "casa de construção" –, o arquiteto Walter Gropius criou uma instituição de ensino com idéias vanguardistas, numa época em que o mundo enfrentava séria crise econômica. Engenheiros e arquitetos buscavam uma maneira simples de produzir em série objetos de consumo baratos. No primeiro manifesto da Bauhaus, publicado em 1919, Gropius declarou que a arquitetura é a meta de toda atividade criadora. Completá-la e embelezá-la foi, antigamente, a principal tarefa das artes plásticas. "Não há diferença entre o artesão e o artista, mas todo artista deve necessariamente possuir competência técnica", pregava o fundador da Bauhaus.

Aprendizado em três fases

Entre professores e alunos, havia liberdade de criação, desde que obedecendo a convicções filosóficas comuns. O currículo da Bauhaus previa três fases: o primeiro semestre era o fundamento da própria Bauhaus. Inspirava-se nas idéias de Alfred Hozel, da Academia de Stuttgart. Ele havia elaborado um método de ensino para libertar os estudantes de preconceitos em relação ao "belo" e à "estética" adquiridos nas escolas primárias e nos ginásios. Era a preparação intelectual para a próxima fase. Na segunda etapa, eram desenvolvidos problemas mais complexos e mais diversificados, como projetos industriais, pintura, escultura, arte publicitária, teatro, arte cênica e dança. Concluída esta fase, o aluno recebia o diploma da Bauhaus e podia começar o curso de arquitetura propriamente dito. Em 1925, o governo cortou os subsídios à escola, obrigando sua transferência para outra cidade, Dessau, também no leste alemão. Lá se construi uma universidade seguindo os planos de Walter Gropius, que foi fechada pelos nazistas em 1932. A difusão do movimento se deu através de exposições na Alemanha e no exterior, além de publicações. Quando a perseguição nazista se acirrou, seus principais expoentes emigraram para a Inglaterra e os Estados Unidos. Hoje, a Bauhaus de Weimar é uma escola superior, enquanto a de Dessau abriga a Fundação Bauhaus.

Buda por US$ 14,38 milhões

  • Oferta pela escultura estabeleceu um novo valor recorde para a arte japonesa.

A rede de lojas de departamento japonesa Mitsukoshi arrematou uma imagem de Buda por US$ 14,38 milhões. O lance foi feito no famoso leilão da Christies, que ofereceu a escultura de 66 centímetros que reproduz a figura de Dainichi Nyorai, que significa "Buda Supremo". A autoria da escultura é atribuída a Unkei (1151 - 1223), que era discípulo da escola Kei, estilo que floresceu no período Kamakura (século 13). Unkei era especialista em produzir estátuas de Buda e de outras figuras budistas. Unkei é o mais conhecido dos artistas Kei e suas peças são conhecidas pelo realismo, técnica que o Japão não conhecia com tanta perfeição até a sua chegada. O lance oferecido pela rede Mitsukoshi em Nova York estabeleceu um novo recorde na casa de leilões para a arte japonesa. A estimativa da casa de leilões era de que a peça atingisse um valor entre US$ 1,5 milhões a US$ 2 millhões. O recorde anterior era de uma pintura de Rakuchu Rakugai, que foi vendida em 1990. O Buda foi feito de madeira cipreste e está numa posição de lótus, com vestes nobres e usa uma coroa, jóias e um coque na cabeça. O antigo proprietário, cujo nome não foi revelado, chegou a levar a imagem para o Museu Nacional de Tokyo, que submeteu a escultura a um exame de raio-x e constatou a existência de três objetos de oferenda representando símbolos budistas e amarrados com um arame de bronze: um pagode de madeira, um pagode de cristal e uma bola de cristal em um suporte de bronze.

Segall muito além do expressionismo

Raras são as exposições no Brasil que buscam romper paradigmas estabelecidos e que são, ao mesmo tempo, generosas o suficiente para permitir reflexão sobre a tese levantada.

"Segall Realista", com curadoria de Tadeu Chiarelli, é ousada ao negar o expressionismo como elemento central na obra do artista objeto da mostra. Ao mesmo tempo, ao reunir um conjunto com cerca de 150 trabalhos, a mostra não se torna uma camisa-de-força da curadoria. Lasar Segall (1891-1957), nascido na Lituânia, foi integrado ao modernismo alemão, a começar por sua presença no grupo Secessão, de Dresden. Essa filiação o vinculou ao expressionismo, escola que visava realizar uma crítica social a partir da representação do cotidiano. Ao recriar a realidade, como define Chiarelli, "o artista expressionista a modifica, com a deformação expressiva das figuras, o uso antidescritivo da cor e, sobretudo, a ênfase ao caráter bidimensional do suporte pictórico".
A definição de expressionismo acima citada está presente no robusto ensaio do catálogo da mostra, que é onde o curador irá defender sua tese. Na exposição, com ótima montagem, Chiarelli reuniu um conjunto amplo das várias fases do artista e dos vários suportes que Segall usou: pintura, desenho, escultura. Nessas obras, o artista se revela diversificado em sua pesquisa, como muitos de seus pares modernistas.
Assim, observa-se como Segall discutia a própria história da arte em "Morro Vermelho" (1926), fazendo a imagem da Madonna ser encarnada por uma mãe negra; utilizava o exótico, como no clássico "Bananal" (1927), ao incorporar a cor, a luz e os personagens brasileiros; tinha uma forte preocupação social, como ensejam ambas as obras; ou adquiria contornos mais clássicos, como em "Maternidade" (1936). Ou seja, há muitos Segais.
Além do mais, o curador ainda reúne obras que contradizem sua tese central, a do "Segall realista", ao expor alguns de seus últimos trabalhos, praticamente abstratos, como suas florestas, mas que reforçam como os conceitos não são capazes de abarcar toda a complexidade do fazer artístico e que, no fim, o que interessa mesmo, ao menos para os modernos, é a obra de arte.

30 artistas no Museu do Chiado

  • Obras de trinta artistas representativos do movimento cinético, que teve um impacto revolucionário no século XX, podem ser vistas a partir de hoje no Museu do Chiado, numa exposição inédita em Portugal, segundo o director daquela entidade.

Pedro Lapa, director do Chiado Museu Nacional de Arte Contemporânea, fez uma visita guiada aos jornalistas acompanhado pelo comissário da exposição "Revolução Cinética", Emmanuel Guigon, director do Musée des Beaux-Arts et Archéologique de Besançon e a galerista francesa Denise Renée. O cinetismo - ligado ao estudo do movimento nas obras de arte - surgiu nos anos 50 do século XX, com a primeira grande mostra a ser realizada pela Galeria Denise René, em Paris, em 1955, intitulada "Le Mouvement", que reuniu trabalhos de Calder, Duchamp, Agam, Pol Bury, Tinguely e Yves Klein. "Revolução Cinética" reúne cerca de 70 obras de artistas estrangeiros e portugueses, nomeadamente pintura, escultura, e um núcleo de filmes, provenientes de colecções públicas e privadas tais como o Museu Pérez Comendador Leroux, a Carlotta Films, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação da Colecção Berardo e a Filmoteca da Andaluzia. Originalmente a exposição foi apresentada em Sevilha e Palma de Maiorca sob o título "La Utopia Cinetica", mas com menos obras e abrangendo um período entre 1955 e 1975. Em Lisboa, "Revolução Cinética" foi ampliada a outros artistas e também alargada a obras mais recentes, incluindo os portugueses Nadir Afonso e Eduardo Nery, do acervo do Museu do Chiado, e outras obras de António Pedro, Artur Rosa e René Bertholo. As restantes são de Yaacov Agam, Martha Boto, Pol Bury, Carlos Cruz-Diez, Hugo Demarco, Ángel Duarte, Marcel Duchamp, Equipo 57, Horacio García, Rossi, Karl Gerstner, Julio Le Parc, Darío Pérez Flores, Bridget Riley, Nicolas Schöffer, Eusebio Sempere, Francisco Sobrino, Joël Stein, Gregorio Vardanega, Victor Vasarely e Jean-Pierre Yvaral. De acordo com o comissário, "o interesse pelos fenómenos cinéticos é cada vez maior por parte do mercado de arte e dos jovens artistas, com a diferença que agora usam materiais e tecnologias diferentes". Emmanuel Guigon recordou que o movimento cinético "teve um impacto revolucionário na arte, na arquitectura e no design porque apresentava obras que o espectador podia tocar, experimentando sensações que o levavam também a participar". "Com o cinetismo, a arte deixa de estar apenas no suporte em que foi criada e começa a existir nos olhos e percepção do espectador, que se torna também seu autor e participante", sublinhou o comissário. Denise Renée, a galerista que acolheu a exposição pioneira em 1955, disse à Lusa que as obras apresentadas na época "provocaram grande curiosidade e estupefacção". Mostrar aqueles artistas numa galeria foi para ela também "uma aventura, porque estas peças não se vendiam, só existiam nalguns museus", comentou, acrescentando que também ficou surpreendida com "a grande riqueza e inventividade demasiado audaciosa para a época". Pedro Lapa disse à Lusa que o impacto do movimento cinetista em Portugal "revelou-se em casos isolados, esporádicos, de alguns artistas", tais como Eduardo Nery, Nadir Afonso e René Bertholo. Na apresentação da exposição, o director do Museu do Chiado agradeceu aos representantes da Caja Duero, mecenas da exposição, que financiou mais de 60 por cento do seu custo - cerca de 200 mil euros - e também ao director do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), Manuel Bairrão Oleiro, que, "num contexto de absolutas dificuldades e limitações, encontrou os meios complementares para viabilizar este projecto. "Revolução Cinética" poderá ser vista no Chiado Museu Nacional de Arte Contemporânea até 15 de Junho.

Prémio Ensarte

O comissário do Prémio Ensarte, o pintor angolano Jorge Gumbe, disse hoje, em Luanda, que a criação de um prémio especial para as províncias deste concurso cultural da Empresa Nacional de Seguros de Angola (Ensa) visa dinamizar o movimento dos artistas plásticos em outras regiões do país. Em declarações hoje à Angop, Jorge Gumbe fez saber que, embora, o concurso Ensarte se destine aos artistas plásticos residentes no país e no estrangeiro, mas houve a necessidade de se criar um prémio especial para os criadores das províncias, avaliado em 2500 dólares (pintura e escultura), porque as possibilidades de vitória no concurso geral é escassa, já que têm várias dificuldades para conceber o seu trabalho artístico. " Foi pensando nas dificuldades dos artistas plásticos que não vivem em Luanda, como ausência de material artístico e fraco movimento cultural, que a organização do Ensarte decidiu motivá-los com a criação deste prémio especial", referiu. A organização, disse, ainda tem o objectivo de em Agosto deste ano deslocar-se para uma boa parte das províncias de modo a saber as preocupações concretas e os anseios dos criadores do belo nestas regiões do país, uma vez que, estamos em paz e já se é possível circular por Angola inteira. " Nas províncias, vamos realizar palestras e outros encontros, bem como procurar saber quais são as novas tendências artísticas e as disciplinas que mais são utilizadas para execução dos seus trabalhos, contribuindo, assim, para as expectativas de Angola em paz, lema da nona edição do Concurso Ensarte/2008", sublinha. A nona edição do Prémio Ensa-Arte será apresentada quinta-feira, pela Empresa Nacional de Seguros de Angola (Ensa) numa conferência de imprensa a realizar-se quinta-feira, no Museu Nacional de História Natural. Com a obra "O sonho de uma criança de rua", o artista plástico angolano Marcos Ntangu foi o vencedor do Grande Prémio de Pintura-Ensarte/2006, enquanto na categoria de Grande Prémio de Escultura, o júri escolheu a obra "Vuata N`Kampa ku Makaya Katekela, do artista angolano João Domingos Mabuaka "Mayembe".Ainda no Ensarte/2006, o prémio juventude de pintura coube a artista Fineza Sebastião Teta " Fisty" com a obra "Em busca das minhas raízes-autoretrato" , enquanto em escultura foi escolhido como prémio juventude António dos Santos Ngola com a obra "Kuxixima".O concurso Ensarte, instituído pela Empresa de Seguros de Angola em 1990, tem como objectivo contribuir para a elevação da cultura nacional, incentivando a criatividade do artista plástico angolano adulto com mais de 30 anos e jovem, com menos de 30 anos. Realizado de dois em dois anos, a ENSA já premiou igualmente os artistas plásticos adultos nas especialidades de pintura e escultura, designadamente Victor Teixeira “Viteix”(a título póstumo), António Ole, Francisco Van-Dúnem "Van" (duas vezes-1996 e 2004), Jorge Gumbe, Massongui Afonso "Afó"(três vezes - 1998, 2000 e 2002), Luandino de Carvalho e Álvaro Macieira. Quanto à juventude, em pintura e escultura, a ENSA já galardoou os artistas plásticos Fernando Nunes, Oliveira, Catarina de castro "Katya", Mateus Mário, Zizi, e António Sebastião "Ngola". No período de 1993 a 1995, não foi realizado o concurso Ensarte, devido à situação política e militar do país, na altura.

Amostra de Arte Mulher

A qualidade e abrangência do projecto cultural “Amostra de Arte Mulher”, promovido pela galeria Celamar, em Luanda, tem aumentado anualmente, segundo Marcela Costa, que organiza o evento. Estritamente ligado à mulher artista, a quinta edição foi inaugurada sábado, dia 8, com uma diversidade de actividades.Além da exposição de arte que contempla pintura, escultura, bijuteria e moda, o acto de inauguração estendeu-se à música, dança, declamação de poesia e teatro dominado por mulheres.No decorrer da cerimónia presenciada pelo director provincial da Cultura, Manuel Sebastião, houve desfile de moda da estilista Tabita Zau, declamação de poesia com a poetisa Zullini Bumba e Tonicha Miranda que é ainda cantora, e representação teatral com os grupos Mona Muazanga e Uachala-Uachala.Os motivos e as mensagens das obras de maneira alguma estariam distantes das virtudes que caracterizam a mulher, como a sensibilidade pela natureza e suas cores ténues, porém recheados de harmonia, beleza e equilíbrio frequentemente visível em acções femininas. Os amantes da arte puderam apreciar quadros de diferentes autoras mas com temas semelhantes.No total são 61 obras elaboradas por artistas angolanas, maioritariamente, e estrangeiras que aderem ao evento de maneira a tornar a exposição internacional, de um projecto que ultrapassou as fronteiras de África. Embora tenha manifestado satisfação pela presença de artistas angolanas residentes no exterior como Helga Gamboa e Carla Peairo, residentes na Inglaterra e Suíça, respectivamente, que enviaram os seus trabalhos. Marcela Costa apelou às artistas a aderirem ao projecto nas próximas edições.“A exposição continua diversificada, uma boa razão para que várias artistas possam participar,” salientou a tecelã Marcela Costa que participa com duas tapeçarias.As artistas Josefina Manzaila, Clara Monteiro, Patrícia Cardoso, Yana Van-Dúnem, Fineza Teta, Kiana, Cristina Gaspar, Giza Nzinga dos Santos, Madalena Coelho, Leopoldina Etossi (residente na Zâmbia), entre outras, constam da amostra.Participam igualmente as estrangeiras Andrea Barth (Brasil), Stephanie Sheppard (Austrália), Sonja Alven Skang (Noruega), Anita Ornberg (Suécia), Virnolic Mirjana (Sérvia), Elizabeth Bourne (Grã-Bretanha), Marie Gisele (Madagáscar), Gabriela D’Arlach (EUA), Emaculada Sahaa (Ruanda) e Maria Soko (Zimbabwe).

Pierre Mendell - Cartazes

Após passar por São Paulo, está na Caixa Cultural, até o dia 6 de abril, a exposição Pierre Mendell - Cartazes. A mostra apresenta, pela primeira vez no Brasil, obras do premiado design gráfico alemão, membro da Alliance Graphique Internationale e membro honorário da Royal Society of Arts, em Londres.Com curadoria de Bebel Abreu, estão em exposição 53 cartazes criados para importantes instituições da Alemanha nos últimos 30 anos. São peças que apresentam espetáculos de ópera, balé, exposições de fotografia, design e trabalhos feitos com propósitos humanitários e mensagens de igualdade e tolerância.Mendell utiliza técnicas como recorte e colagem, fotografia e lettering no computador, poucas cores e tipografia concentrada. Com formas diretas e cores fortes, Mendell transformou a cidade de Munique em uma galeria a céu aberto.

Desejos de Mulher

A Exposição “Desejos de Mulher” apresenta uma pequena parte da produção plástica de acadêmicas do Curso de Artes Visuais da UNIJUÍ, desenvolvida ao longo do ano de 2007 em diferentes Componentes Curriculares.

Em comum, além do vínculo a uma produção acadêmica, é o fato de que todas já foram expostas em outras mostras no estado, algumas recebendo prêmios ou menções. Essas pesquisas plásticas abrangem linguagens da pintura, objeto arte, instalação, e objeto escultórico.

Encontramos máscaras pintadas, pratos cerâmicos, maçãs, abajur, móvel de madeira, manequins, jóias, vestidos, sementes, vidros, madeira, ressignificados para o universo da arte. Tais Gettens Goi, com a obra “Manzanas” expõe um móvel de madeira (criado mudo). Na parte superior do móvel um abajur e no seu interior maçãs de cerâmica e plástico todos estampados com imagens de maçãs feitas com xilogravura. Organiza, neste trabalho a união das linguagens da cerâmica, gravura e objeto numa proposta de Instalação. Esse trabalho fez parte da exposição “Manzanas” que aconteceu na Sala Java Bonamigo/Campus UNIJUI e na vitrine da Loja Eletrocenter de Ijuí ambos no ano de 2007.

Berenice Bitencourt Serra Pereira, com os trabalhos “Flutuando” e “A Dimensão” desenvolve um diálogo entre a pintura e uma “quase escultura” com o confronto entre cores e formas do universo da pintura e máscara gessada fundida no suporte da tela. O trabalho “Flutuando” foi selecionado na mostra local, concurso “SESI Talentos”, sendo exposto no Clube Ijuí.

Janine Cristina Thalheiner apresenta um fragmento da Instalação “Você tem Fome de Quê?” exposta na Sala Java Bonamigo/Campus UNIJUI no ano de 2007. Nela encontramos uma produção de pratos cerâmicos com imagens, palavras e diversos símbolos gráficos, um banner e pequenos cartazes contendo frases e uma letra de música, todos remetendo ao entendimento do título da obra. Esse trabalho foi selecionado na mostra local, passou para a regional e posteriormente para a estadual do concurso “SESI Talentos”, sendo exposta, na última fase, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul no ano de 2007.

Alessandra Darui Pinheiro apresenta a obra “Translúcida”, um manequim feminino coberto com um “vestido” confeccionado com silicone e fragmentos de espelho. Esse Objeto/Instalação foi selecionado na mostra local, passou para a regional e posteriormente para a estadual do concurso “SESI Talentos”, sendo exposta, na última fase, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul no ano de 2007. Maria Suzana Loureiro dos Santos com os Objetos escultóricos “Afinatas Mu: não te falei...” apresenta pequenas esculturas de tecido na cor preta, confeccionadas pela artista unido três em três em suportes planos na cor vermelha. Estabelece uma relação de diálogo e/ou comprometimento entre esses objetos. Esse trabalho foi selecionado na mostra local do concurso “SESI Talentos”, sendo exposto no Clube Ijuí e também fez parte da exposição “Afinatas Mu” realizada na Sala Java Bonamigo/Campus UNIJUI ambas acontecidas no ano de 2007.

Marilene Stahlhöfer apresenta a obra “Narciso” um Objeto Escultórico contendo sementes diversas, fragmentos de madeira, vidros e espelho s/ peça de piso cerâmico. O trabalho “Flutuando” foi selecionado na mostra local, concurso “SESI Talentos”, sendo exposto no Clube Ijuí.

Suele de Mattos Rodrigues apresenta a obra “Submissão”, uma instalação contendo um manequim feminino, tecido de veludo preto, pulseira e tiara com vidros quebrados. Esse trabalho participou do III Salão Universitário de Artes, promovido pelo Curso de Artes Visuais no ano de 2007. Essa exposição tem inicio amanhã, 7, às 8:30h na Câmara de Vereadores de Ijuí, onde também acontecerá um café da manhã para as servidoras da casa em homenagem ao dia internacional da mulher. A exposição vai se estender por todo o mês de março. Sendo que sete mulheres artistas, vinculadas ao Curso de Artes Visuais da UNIJUÍ expõem suas pesquisas artísticas, suas percepções acerca do seu tempo. Falam de hoje, falam do mundo contemporâneo, falam de arte...

Arte-Via e as experiências

Durante quatro dias, o workshop "Raízes e Asas" junta, na capital espanhola, pessoas de diferentes nacionalidades num encontro em que a língua não é obstáculo.São graúdos, mas não se acham velhos, muito pelo contrário. Apesar da sua média de idades rondar os 50 anos, conservam ainda o brilho no olhar perante novas descobertas. A Arte-Via Cooperativa, uma instituição regional sem fim lucrativos com sede na Lousã, vocacionada sobretudo para a população sénior, está agora em Espanha, a desenvolver o Projecto Roots and Wings/Raízes e Asas.O objectivo é reunir diferentes instituições, de vários países, envolvidas na educação formal e não formal dos mais velhos. Até amanhã, os participantes vão poder conviver, partilhar experiências e fazer novas descobertas, ganhando "asas para o futuro". Ana Filomena Cabral é a presidente da Arte-Viva e coordenadora do projecto, que, antes de chegar a Madrid, já passou por Dornbirn (Áustria), Tampera (Finlândia), Lousã e Eberswalde (Alemanha).“Que dias demorem a passar”A partida da Lousã para a capital espanhola teve lugar às 08H00 da manhã de quarta-feira e nem os cerca de 580 quilómetros que separam a pacata vila portuguesa da cidade cosmopolita de Madrid fizeram desanimar os 21 membros que decidiram rumar até Espanha. Depois de chegadas ao destino, a recepção decorreu num hotel, em Pozuelo, nos arredores madrilenos. Música, comida típica e muito divertimento marcaram o reencontro, que não podia ter corrido da melhor maneira. Adultos com necessidades educativas especiais fizeram uma breve actuação, durante a qual a interacção com o público esteve constantemente em destaque. " Aqui está o verdadeiro significado da palavra integrar, coisa que em Portugal ainda percebemos muito pouco", sublinharia Filomena Cabral. Quinta-feira foi dia de partir à descoberta de Madrid, onde se visitou o Museu do Prado. O dia foi também marcado por celebrações alusivas ao Dia Internacional da Mulher e por um colóquio sobre a igualdade.A opinião é unânime – "que os dias que faltam, demorem a passar".Comitiva encantada com Museu do PradoAs participantes nesta deslocação a Madrid não esconderam, ontem, o deslumbramento que lhes causou a visita ao Museu do Prado. "Andamos nós a aprender pintura, a aprender para quê?", questionava-se, por exemplo, Maria José Fontes, perante a magnificência das "Meninas" de Velásquez.As artes plásticas são uma das vertentes da formação contínua da Arte-Via, daí a razão desta visita ao Prado, o mais importante museu espanhol e um dos mais famosos do mundo. Mandado construir por Carlos III e inaugurado por Fernando VII, alberga inúmeras e valiosíssimas colecções, designadamente de pintura e escultura.Poderão ser ali apreciadas, entre outras, obras relevantes de Dürer, El Greco, Murillo, Goya, Rubens, Rembrandt, Ticiano e Tintoretto.A colecção de pintura espanhola é a mais importante do museu, sendo a que lhe concede o renome internacional que actualmente tem.

Stela Barreto em Loulé

A Galeria de Arte do Convento de Espírito Santo, em Loulé, recebe, entre 14 de Março e 13 de Abril, a exposição de pintura “Transfigurações”, de Stela Barreto. Paralelamente, a artista vai promover um curso de pintura criativa durante o período desta exposição, das 10h00 às 13h000 e das 15h00 às 18h00, num total de 16 horas. Nesta acção pretende-se dar a conhecer aos formandos algumas bases sobre técnicas de desenho, pintura e desenvolvimento, Cubismo, grafismos, o nú e a cor (teorias de Kandinski e Iltten), simetria e pintura (métodos compositivos), formas livres, composição com rectas, composição com ângulos, curvas e superfícies e o movimento.

O custo do curso é de 75 euros, e engloba todo o material e lanche. No final do curso, cada aluno recebe um diploma de participação, o trabalho executado, uma sebenta com toda a parte teórica do curso e um DVD do curso. As inscrições podem ser feitas para a Câmara de Loulé, Divisão de Cultura e História Local, através do telefone 289 400 600. Nascida em Portimão, Stela Barreto foi aluna durante anos na Escola de Álvaro Torrão, tendo concluído mais tarde o Curso de Artes dos Tecidos na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa.

É membro da SNBA, da ANAP e da AIAPS. Foi aluna, em 1984, do pintor Jean René Thellier, teve como mestre o artista Carlos Lança e ainda, durante alguns anos, o apoio crítico do mestre Fernando Azevedo. Reside actualmente na cidade natal onde trabalha e tem atelier. Dá aulas de Desenho Artístico, Pintura e Técnicas Criativas no ensino secundário e na escola de Pintura, em Portimão.

Foi distinguida com quatro Menções honrosas em certames da especialidade nos anos 1985/86/93/96, um primeiro e um segundo prémio em 2000 e uma Menção Honrosa em 2001, no Salão dos Sócios da Sociedade Nacional das Belas Artes, um primeiro prémio em 2006 (Lisboa – Inatel) e um terceiro prémio em 20007 (Olhão). Conquistou também um primeiro prémio em Espanha, no Concurso Lucena Punto de Encuentro.

Expõe regularmente em galerias em Portugal e no estrangeiro.

Arte vs Instituições

Paulo Herkenhoff é um dos principais críticos de arte e curadores do Brasil. Esteve à frente da mais marcante Bienal de São Paulo, a 24ª edição da mostra, dedicada à antropofagia, em 1998, que recebeu rasgados elogios da crítica internacional, foi curador-adjunto do Departamento de Pintura e Escultura do MoMA, em Nova York, da Fundação Eva Klabin Rapaport, da 9º Documenta de Kassel e durante três anos dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes (RJ). Hoje é curador independente. Saiu do Museu de Belas Artes entre polêmicas que comprometiam a administração anterior e ataca o Ministro Gilberto Gil, que o convidou para o cargo. "Não ia continuar trabalhando com um stalinista, que emparellha o Museu em função de uma eleição. Dá prioridade a uma obra externa, no lugar de uma obra interna de segurança. Eu não estou no mundo para brincar de política, estou em função da arte", conta. Mestre em direito constitucional pela Universidade de Nova York, Herkenhoff, foi professor de Direito na PUC, mas escolheu aderir a arte. Em Fortaleza para um debate com artistas no Alpendre, dentro da programação do projeto Circuito Intensivo, aprovado no Edital Conexão Artes Visuais MinC/ Funarte/ Petrobrás 2007, Herkenhoff conversou com KULTURIART. Traça um panorama da arte no Brasil, aponta que a solução para uma produção artística efetiva é uma política de cotas geográficas. "A Lei Rouanet não presta para o Nordeste, o que chega aqui são migalhas que servem muito mais para legitimar a existência da lei do que realmente ajudar no nível que deveria ser a produção dos artistas". Pela segunda vez na cidade, faz rasgados elogios a produção audiovisual cearense. "O Ceará me ensina a ver vídeo", enaltece. Lamenta a falta de uma universidade e instituições para a formação de artistas e prevê o futuro próximo. "Se continuar essa inércia das instituições em relação a produção contemporânea, se continuar esse marasmo vão acontecer duas coisas: uma dispersão, que já acontece, e por outro lado o Ceará vai conhecer sua arte depois de outros estados e outros países até".
  • KULTURIART - Qual o espaço ocupado pela arte na vida dos brasileiros?

Paulo Herkenhoff - Espaço pequeno, no entanto, não é menos importante por ser pequeno. O que eu acho é que, em termos mais gerais, isso reflete a crise da educação da qual nós saímos e pela qual a geração eletrônica ainda está. Não se pode compreender o processo educativo sem a experiência do olhar, para falar mais amplamente, a experiência do sensível. Digamos, mais do que ser uma causa essa pequena presença da arte na vida das pessoas, corresponde a um sintoma da crise educacional do Brasil. Porque o público se forma desde cedo e as relações com os artistas os sistemas de apoio a medida em que a arte vai sendo posta, conquistando o lugar que se percebe hoje que é necessário para uma cidadania plena. A pessoa que vê melhor, pensa melhor o mundo. Então, de fato, uma das tarefas da educação brasileira é incorporar a arte no processo educacional e aí parte desse desafio vai ser entender as maneiras que isso será feito, porque, evidentemente, tem que se pensar num contexto diverso.

  • KA - De que maneira o senhor acredita que isso deve ser feito?

Paulo - Eu acho que tem tarefas que estão sendo aí cumpridas, o Instituto Arte na Educação, da Fundação Iochpe, tem tido um papel extraordinário porque tem trabalhado muito nas universidades brasileiras, então, eu sou otimista de que isso vá melhorar até porque hoje não se pode pensar a cultura sem educação. Se existe uma disponibilidade mais aberta para a música na sociedade brasileira, é porque a música é mais simples, em termos da sua transmissão e de seus conteúdos também, eu acho que hoje a arte ela é muitas vezes posta de lado pelo sistema de poder, e no fundo talvez seja uma das expressões mais envolvidas na construção da má consciência de nossa época.

  • KA - O brasileiro tem um gosto específico ou bem definido por algum tipo de arte?

Paulo - Não sei dizer, mas sinto que o brasileiro é mais próximo da música, por várias razões, mas ao mesmo tempo existe uma inteligência visual brasileira que é forte. Tem gerações mais novas, tem tido um processo de avanço, um estabelecimento de intimidade com as tecnologias que é impressionante, então, na verdade, a gente está apenas começando a observar o futuro, porque toda criança que tem acesso a um computador, logo ela terá acesso a cultura visual do computador, porque essa sim é muito forte.

  • KA - Porque a cultura de visitar museu é restrita a visitação turística, passeio de lazer em viagens, nunca o museu da própria cidade?

Paulo - É verdade, porque se a gente pensar concretamente, a visitação dos museus brasileiros, é menor que a proporção das cidades. E aí, eu acho que o desafio é esse: as atividades, museus e centros culturais elas não podem se esgotar no próprio financiamento dos eventos, elas tem que pensar na arte. Na arte e na educação, na inclusão. Hoje estamos muito mais ligados a uma cultura de celebridades, que aí tudo o que é célebre entra na mesma sopa, podendo ter alta qualidade ou não. A música clássica não tem o seu lugar, porque nós não temos celebridades em música clássica, ou seja, acho que a gente vive um tempo que ele tem muita imagem, mas ao mesmo tempo ele é obscuro. Há uma certa cegueira.

  • KA - Numa avaliação local, isso significa o que?

Paulo - No Ceará, a sensação que eu tenho é que essas instituições precisam ser desestabilizadas, profundamente questionadas, profundamente avaliadas. Se a dinâmica que eles estão adotando corresponde a condição e sobretudo à necessidade de um processo de inscrição da arte na sociedade. Se essa mediação está realmente sendo feita. Porque quem teve dois anos para instalar um sistema educativo e não instalou, significa que não tem competência para dirigir uma instituição. E a pessoa tem que compreender que isso tem um custo, que aquele dinheiro tem um valor social que é justamente estabelecer a conexão com certos sistemas da sociedade para formação de platéia, então a minha visão pode ser um pouco antipática, mas eu sinto que é uma estagnação que não condiz com os artistas. A arte no Ceará ela é extremamente criativa, tem um grupo de artistas que efetivamente tem um porte nacional, estão trazendo contribuição singular, mas existe essa falta de programação. Se falta público a crise não é dos artistas, a crise é de direção das instituições.

  • KA - O que exatamente deveria ser feito pelos dirigentes dessas instituições?

Paulo - Eu não tenho receita para isso, porque eu acho que cada contexto tem suas respostas. Mas eu acho que é uma instituição que seja mais permeável à conversa com os artistas, com a comunidade e que seja mais concentrada nesse eixo produção de arte e responsabilidade social com a comunidade, menos dispersa com outras situações. Por exemplo, eu acho que hoje, o sistema brasileiro de incentivo à cultura é extremamente perverso, a Lei Rouanet é uma lei que é uma espécie de colesterol da cultura brasileira, porque ela vem concentrando recursos onde não existem. Então o próprio Ministério da Cultura reconhece que falhou na descentralização, ou não vejo essa descentralização sem um sistema de cotas geográficas. Tem que ter um mínimo de cotas geográficas. Porque não adianta receber exposições que estejam acontecendo fora, porque os museus da cidade não são hotéis, e a gente sabe que hoje em dia há uma economia, um sistema econômico de produzir exposições e levar para circular, mas eu acho que não haverá de fato um avanço, quando também não houver recursos para que os estados do Nordeste, Norte não tenham como fazer suas exposições. Mas isso é um grande desafio que a Lei Rouanet não está dando conta. A Lei Rouanet não presta para o Nordeste, o que chega aqui são migalhas que servem muito mais para legitimar a existência da lei do que realmente ajudar no nível que deveria a produção dos artistas, a produção do Nordeste. Então eu vejo que tem que ter uma palavra chamada redistribuição, se há uma dificuldade de fazer projetos, deveríamos então treinar as pessoas para fazer projetos, porque não é possível haver qualidade, mas não haver recurso, por que? Por causa da condição geográfica? Em 69 aconteceu um manifesto em que artistas diziam que não era possível que um condicionamento econômico acabasse influindo na própria linguagem, por causa dos materiais, dos preços, etc. Então, nós estamos falando de um desequilíbrio que não é só do capitalismo, mas é um próprio desequilíbrio da sociedade brasileira. E aí eu creio que uma articulação do Nordeste, do Norte das regiões que tem tido menos apoio seria muito interessante para buscar uma solução concreta e estável, que não dependa da boa vontade de quem estiver num lugar x ou y. E a processos estáveis.

  • KA - Então a gente pode dizer que o problema da arte no Nordeste é econômico?

Paulo - As coisas estão embricadas. Existe uma discriminação Sul em direção ao Norte, em relação à Lei Rouanet. Não se pode deixar que a distribuição dos recursos públicos se baseie num departamento de marketing das empresas com exclusão, porque elas não estão fazendo bem em termos geográficos. Estão fazendo muito mal ao País.

  • KA - Como crítico de arte, qual a avaliação que o senhor faz da produção artística cearense?

Paulo - Eu tenho interesse notável por alguns estados brasileiros, porque neles eu encontro artistas que me trazem questões novas e um diálogo, nem que seja por ano ou de seis em seis meses é importante. Quando eu digo que me trazem questões novas, eu digo é estar aberto para que o seu olhar seja transformado pelos artistas. Tem que ter uma porosidade, invés de ser uma barreira que tenha os critérios da verdade, eu acho que o crítico deve ter um olhar poroso para absorver linguagem que ele não conhecia. O que eu tenho visto hoje são muito mais respostas do que eu vi quando vim aqui a primeira vez do que propriamente dizer coisas. Porque as coisas estão aí, estão nos livros, nos debates, mas eu acho que pensar junto certas questões pode ser muito interessante.

  • KA - E o que em específico no Ceará...

Paulo - O Ceará me ensina a ver vídeo. Eu acho que tem uma maneira de fazer vídeo aqui que é muito interessante.

  • KA - Que maneira é essa?

Paulo - Me chama atenção uma questão chamada liquidez, o trânsito da imagem. Que acho que é diferente de outros lugares. Fotografia e vídeo aqui são muito fortes. Me interessa ouvir os artistas sobre isso.

  • KA - O que de mais interessante surge dessa conversa?

Paulo - Eu acho que o vídeo como arte, ele hoje tem um peso muito importante com relação a nova sociedade em que a cabeça das pessoas é totalmente deformada pela televisão comercial. É uma bomba de Hiroshima ou destrói ou deforma, então o vídeo não vai mudar a televisão, mas vai mudar a maneira que eu vejo televisão. E ao mesmo tempo, eu acho que essa situação de estar submetido ao excesso de televisão comercial, uma das maneiras de se resolver é justamente uma produção poética videográfica. Já podemos falar de gerações de artistas do Ceará produzindo vídeo. Isso é muito promissor em termos de uma linguagem do futuro, porque veja bem, se nós pensarmos historicamente, o descompasso do Ceará com relação ao que se produz no resto do País, a gente também pode pensar: e o Brasil em relação ao resto do mundo? Mas é uma história unívoca, a história tinha um caminho, o modernismo tinha um caminho, tinha uma verdade moderna. Ao mesmo tempo, por mais que fosse moderno, essa arte ainda estava pautada no domínio da capacidade de usar criticamente várias técnicas profissionais. A pintura, a gravura, o desenho, e hoje não. Um vídeo é tanto novidade no Ceará quanto no Rio, São Paulo. Quer dizer: não tem mais esse gap. O fato de ter acolá um laboratório super capacitado tecnologicamente, isso não vai criar um gap muito significativo. O que cria gap significativo são as condições financeiras para realizar as idéias, mas a sensibilidade ao vídeo, se a gente pensar que qualquer telefone pode filmar, nós estamos falando de algo que escapa, escapa ao controle. Mas nós aqui temos um curso de arte que foi desmobilizado, um dos cursos mais bem sucedidos do Brasil, da antiga faculdade Gama Filho, porque para mim uma escola de arte de experiência bem sucedida são os artistas que dela egressam, não é a quantidade, é a qualidade. Às vezes saem três artistas, mas esses três valem mais do que 300. Então eu sinto que a experiência aqui é um laboratório daquilo que poderia ser uma universidade de arte, era um processo baseado na experimentação, no questionamento, na dúvida no não-saber e aí explorar, que são valores muito importantes para os artistas. Cada vez menos os artistas querem regras predeterminadas para a construção de linguagem, o mundo hoje não permite uma hieraquização. Como dar conta disso é um desafio muito importante e não vejo uma universidade humanista que dê conta da sociedade, sem ter um olhar para a arte, sem pensar a condição artística. A UFC tem um museu. Uma das poucas que tem museu de arte, então eu fico pensando seriamente o que vai ser do futuro do Ceará em termos de formação dos artistas.

  • KA - Hoje em dia não há luz no fim do túnel?

Paulo - Existe uma crise que precisa ser pensada em ternos sociais que é mais ampla. O Alpendre é uma instituição que precisa ser estabilizada, porque vive com muitos percalços de manutenção. E é muito pouco o que o Alpendre precisa para ter essa estabilidade. O que ocorre quando um grupo de artistas se reúne para discutir arte, mas eles tem que correr atrás de pagar a conta de luz? Se continuar essa inércia das instituições em relação a produção contemporânea, se continuar esse marasmo vão acontecer duas coisas: uma dispersão, que já acontece e por outro lado o Ceará vai conhecer sua arte depois de outros estados e outros países até. Porque hoje as coisas acontecem com uma certa rapidez, é comum um artista sair do seu estado, nem passar por Rio e São Paulo e ir direto para outras nacionalidades. Eu tenho certeza, basta um curador estrangeiro razoavelmente aberto a vir ao Ceará, que ele vai descobrir jóias.

Dom João VI e as artes do Brasil

A primeira escola de artes do Brasil está prestes a completar 192 anos. Fundada por dom João 6º, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios ajudou a transformar o Rio de Janeiro na sede do império e a dar ao Brasil a cara de um país. A instituição foi inaugurada no dia 12 de agosto de 1816. "Mais do que uma escola de artes, d. João queria trazer profissionais que preparassem a mão-de-obra para as manufaturas, permitidas na então colônia desde 1808", afirma o historiador Milton Teixeira. Foi Antonio de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, o principal idealizador do projeto. Ele chegou a trazer pintores, serralheiros e mecânicos, mas morreu em 1817. "Sua morte interrompeu o projeto original", diz Teixeira. A morte do conde da Barca contribuiu para o fracasso da tentativa de industrializar o Brasil, em 1808. Mas contribuiu para a especialização da academia em artes. A escola buscava formar artistas, organizar exposições, conservar patrimônio e criar coleções. "A nossa academia foi inspirada na francesa, a principal de sua época", diz a historiadora Ângela Ancora da Luz, diretora da Escola de Belas Artes, nome atual da academia. Nem em Portugal havia uma academia de artes. "Para d. João, a instalação de uma escola desse porte no Brasil ajudaria a projetar o reino a uma estatura européia de desenvolvimento", afirma a historiadora. Para implementar a instituição, foi trazida para o Brasil a missão artística francesa, formada por artistas que ficaram sem emprego com a queda de Napoleão em 1815. Com a independência do Brasil, em 1822, a instituição muda de nome. Primeiro recebeu o nome de Academia Imperial das Belas Artes e, logo depois, de Academia Imperial de Belas Artes. Foram necessários mais quatro anos para que ela ganhasse um edifício próprio. "É quando o ensino artístico no Brasil começa de fato", afirma a diretora. Foi nela que aconteceu a primeira exposição de arte no Brasil: a "Exposição da Classe de Pintura Histórica", visitada por mais de 2.000 pessoas em 1829. No ano seguinte, foi organizado um evento ainda maior com duração de oito dias. A terceira exposição só aconteceria 10 anos depois, em 1840. "Esse evento foi importante porque foi aberto para artistas que não eram da escola", afirma a diretora.
  • Identidade nacional

Entre 1850 e 1880, durante o Segundo Reinado, a Academia Imperial de Belas Artes passou a produzir obras de estilo Romântico. As pinturas recontavam a história brasileira de forma heróica e idealizada. "Nesse período, a instituição era tão prestigiada que dom Pedro 2º fazia questão de comparecer às solenidades da academia", diz Angela. Com o fim da monarquia, a instituição passa a se chamar Escola Nacional de Belas Artes. Em 1965, ela é incorporada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e recebe o atual nome. Depois de formar artistas como Candido Portinari e Oscar Niemeyer, a Escola de Belas Artes se moderniza. "Estamos inseridos no contexto na arte contemporânea", afirma a diretora. Hoje, a faculdade ministra oito cursos de bacharelado (pintura, escultura, gravura, composição de interiores, composição paisagismo, desenho industrial, artes cênicas e educação artística) para 1.893 estudantes, enquanto o programa de pós-graduação atende a 120 alunos.

Arte pela Amazônia

Arte pela Amazônia é a ampla mostra que será inaugurada hoje à noite para convidados e amanhã para o público, no terceiro andar do prédio da Fundação Bienal de São Paulo. Há de tudo: fotografia, instalações, pinturas, esculturas, objetos, vídeos e gravuras criados por três diferentes gerações de artistas. Essas obras são abrigadas na mostra dentro de núcleos livres (leia ao lado), concebidos pelo curador Jacopo Crivelli Visconti de forma a promover aproximações entre as criações. Os núcleos não têm títulos próprios. Cabe ao espectador fazer suas relações.A iniciativa contou com a adesão de 150 artistas de todo o Brasil, incluindo os grandes nomes de nosso cenário de artes visuais, como Tomie Ohtake Tunga, Nelson Leirner, Paulo Pasta, Regina Silveira, Sandra Cinto, Thomaz Farkas e Maria Bonomi. Eles cederam suas criações para a mostra e, depois, para a realização de um leilão, previsto para o dia 3 de abril, em um shopping da cidade.As escolhas das obras foram feitas pelos próprios artistas. Muitos criaram trabalhos específicos para o projeto; outros decidiram apresentar peças já prontas e há criadores que optaram por reeditar obras realizadas há tempos. 'Não gosto de tema para trabalhos, então resolvi colocar uma obra inusual minha, uma monotipia de uma série de 2005 que nunca havia mostrado. Essa exposição é bacana, é um jeito de ajudar em algo', diz o pintor Paulo Pasta, referindo-se aos possíveis desdobramentos do projeto, voltado para uma criação de reserva natural na Amazônia. Sandra Cinto também entrou com a vontade de ajudar. 'Nunca fico preocupada com o literal.
Meu trabalho em si já tem relação com a paisagem e resolvi participar com um desenho inédito e novo', afirma a artista, que também indicou as jovens Michele Lerner e Alice Ricci a participar.Preocupada em realizar ações de preservação da floresta e programas para a população ribeirinha local, a produtora da mostra é a Base 7 Projetos Culturais. 'É fundamental chamar a atenção para a Amazônia e promover sua preservação consciente', diz o artista Ricardo Ribenboim, proprietário da Base 7, ao lado de Arnaldo Spindel e Maria Eugênia Saturni e principal articulador do projeto.Como conta Ribenboim, que criou, ele próprio, a obra Intangível para a mostra, as primeiras conversas para a realização do projeto vêm sendo feitas há oito meses em parceria com a CO2 Soluções Ambientais. Com a verba do leilão, será criado um fundo para o recém-nascido Instituto Arte + Meio Ambiente, que, concebido este mês, poderá ter estrutura própria.Tudo será focado para o plano de criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) a ser comprada em local já definido, no sul do Amazonas. 'É uma área equivalente a 5,3 vezes o Parque do Ibirapuera', afirma Ribenboim. 'As reservas particulares são uma solução saudável para a Amazônia. Os recursos são particulares, mas a guarda é do Governo', ainda diz. Segundo ele explica, quando se constitui uma reserva, não se constrói nada no local, mas se instalam censores em núcleos estratégicos que indicam se há queimadas e desmatamento na área. 'Eles acionam a segurança', conta.O local escolhido para a reserva particular, perto da divisa com o Mato Grosso, é, segundo Ribenboim, um lugar estratégico dentro da área de cinco Estados brasileiros que compreende a Amazônia. 'Com o Amazonas sentimos mais firmeza. É o Estado com menor índice de desmatamento; que quer trabalhar para a preservação da floresta em pé e pela sustentabilidade; e que tem um Instituto Socioambiental seriíssimo', diz. No leilão, que será comandado pelo martelo do leiloeiro James Lisboa, 70% do valor de cada obra (os lances mínimos foram estipulados pelos próprios artistas) serão destinados ao projeto e 30% vai para o criador. 'Mas há os que cederam integralmente sua obra', diz Ribenboim.Mundos, Esferas e Universos SEM FRONTEIRAS: Este é um segmento que, como afirma Ribenboim, fala de 'rasgar a idéia das fronteiras' - ele completa que problemas ambientais como o aquecimento global são de responsabilidade do mundo todo.
A fotografia Nem Lá...Nem Cá, realizada em 2005 por Rafael Assef, é uma feliz representação da idéia de abstração de fronteiras: nela, a pele é tomada em uma grande área pela tatuagem lisa feita com tinta escura, ficando apenas uma pequena tira ilesa na composição. Já Tunga, como conta Ribenboim, criou uma obra especialmente para a mostra, uma aquarela que 'faz a representação de fumaça diluída.' Na mesma linha, Shirley Paes Leme exibe suas telas em que os desenhos são feitos com fumaça congelada. Já em fotografia, Cao Guimarães apresenta duas pequenas bexigas penduradas em um bastão em uma rua qualquer: uma delas está murcha, a outra, aparece como um frágil corpo inflado. Carmela Gross exibe a instalação Alagados, feita com barras de ferro articuladas . 'Cada um contribui com um tijolo imaginário, e o que conta é o resultado desse esforço coletivo, desse movimento. O objetivo é começar a colocar limites, traçar no chão uma linha que não pode ser ultrapassada, uma tentativa de fronteira que delimite o nosso universo, o dos ideais que não podem e não devem ser negociados. O trabalho propriamente artístico sublima-se, aqui, no gesto democrático, e seu valor precisa, portanto, ser repensado, medido com novos parâmetros', define em texto o curador Jacopo Crivelli.Natureza Deturpada FLORESTA ASSASSINADA: Dentre os quatro núcleos da exposição, está o que trata, como não poderia deixar de ser, da devastação da natureza pela visão poética dos artistas. Ao se ver o conjunto de obras reunidas em toda a mostra, tem-se a impressão de que elas tratam mais do tema de forma poética e lírica do que de maneira radical. 'Denúncia não é preciso mais', diz Ribenboim. Segundo ele, as primeiras propostas que trataram da natureza, e que fizeram intervenções sobre ela, ocorreram nas décadas de 1950 e 1960, visando 'à transformação das artes pela sua aderência à vida cotidiana' e manifestando 'não apenas o interesse pela paisagem, mas a efetiva integração do ambiente no fazer artístico'. A land art e seus similares ' aparecem hoje desdobradas em inúmeras proposições referidas ou não às questões ambientais', afirma ainda. É assim que, nesse núcleo, estão, entre outros, a fotografia de peixes cortados com intervenções pictóricas realizada por Alex Flemming; a aquarela de Janaína Tsch‰pe; o delicado objeto Spilling (Derramamento), de Jeanete Musatti; a pintura Floresta, de Sergio Fingermann; a gravura sobre papel Gracias a La Vida, Gracias a La Muerte, de Alex Cerveny; e a grande instalação de teto Man at First, feita com xilogravura e colagem sobre papel Nepal por Maria Bonomi, uma das maiores, em dimensão, da mostra, que talvez vá itinerar por outras cidades brasileiras - 'por enquanto, a primeira aproximação é realizá-la na Espanha, em Madri ou Barcelona', como adianta Ribenboim.Retratos PRESENÇA DA FOTO: O gênero fotográfico é meio valioso tanto para a realização de obras de caráter documental quanto para os trabalhos que se transformam em visões mais livres - e até abstratas - sobre a floresta e seus habitantes.
É também nas obras fotográficas que aparece a cor verde tão característica da ampla mata. 'Cada geração escolhe as suas batalhas: algumas lutaram pela paz, outras defenderam os direitos das minorias, outras, ainda, exigiram um mundo mais justo e igual. A batalha mais urgente e iniludível, hoje, é voltada para o planeta', afirma o curador Jacopo Crivelli. Os retratos presentes no segundo núcleo da exposição são, portanto, os realizados por criadores de diversas gerações. Uma das mais emblemáticas desse conjunto é o retrato O Derrubador, realizado por Thomaz Farkas, fotógrafo e cineasta com uma das carreiras mais extensas entre os participantes. Nesse seu trabalho, um homem, com forte expressão, está sentado na ponta de um barco segurando um machado. Há também outras fotos, como, por exemplo, a Paisagem Bovina, de Tadeu Jungle; A Mata, de Claudia Jaguaribe; Perto de Manaus, de João Luiz Musa; Piraguaçu, de Caio Reisewitz; Rosa no Arraial, de Luiz Braga; trabalho realizado por Miguel Rio Branco no Pará; e e Dilúvio, por Gal Oppido. Mas não se pode dizer que esse segmento se encerra na fotografia. Há também, entre outros, a pintura realista O Tempo e o Improvável, de Mariana Palma; e um belo desenho de paisagem em preto-e-branco de Gil Vicente.AbstraçãoLIBERDADE: Nesse segmento figuram obras não que tratam de uma representação da floresta, mas interpretações abstratas livres e carregadas de sentidos. A monotipia de Paulo Pasta, assim como o desenho de Sandra Cinto. E há ainda as gravuras da consagrada Tomie Ohtake e a recente tela Lembranças do Tocantins, realizada especialmente para o projeto, por Feres Khoury. É um segmento amplo, repleto de obras diferentes em que a natureza foi cada vez mais abstraindo, transformando-se em figura aquosa e orgânica, como na peça de Manoel Veiga, no emaranhado de linhas de aço feito por Angelo Venosa ou de tinta sobre espelho, por Carlito Carvalhosa. A Amazônia sobre tela de Carlos Matuck é composição de apenas cores. A abstração não vem do nada, ela tem o seu referencial no mundo. Como conta o artista Pazé, que apresenta a tapeçaria Labirinto, produzida com Tomi Roman e com a Associação de Moradores do Bairro Jardim Indaiá, seu desenho foi retirado de série de desenhos recolhidos pelo antropólogo Darci Ribeiro em 1949, produzidos pelos índios Cadiwéu do MT. 'Ele é exatamente o mesmo desenho (abstraindo-se os desenhos das folhas em sua lateral) cunhado nas moedas encontradas na Ilha de Creta, referente ao Labirinto onde se encerrava o Minotauro', completa Pazé. O mesmo ocorre no tríptico Dormentes, de Edith Derdyk, feito com fotos de trilhos que remetem à história da comunicação e do ciclo da borracha assim como à adormecida e 'afundada Transamazônica'

João Cutileiro

O consagrado artista plástico João Cutileiro esteve este sábado em Santarém para inaugurar uma exposição na Casa do Brasil, intitulada “Pedras na Praça”, que vai estar patente até 30 de Março. Francisco Moita Flores, presidente da Câmara de Santarém, enalteceu a figura de João Cutileiro, um dos maiores vultos da pintura e sobretudo da escultura. “Um homem do que é mais universal da cultura portuguesa, pelas rupturas que, as inquietudes e o desassossego jovem que demonstra, que vem mostrar o talento em Santarém e a forma como lida com a pedra”, descreveu o autarca. A exposição de Cutileiro, que dá conhecer algumas das obras de arte pública que o artista realizou ao longo das últimas décadas. Integra maquetas de cada uma delas e fotografias de grandes dimensões das esculturas colocadas em espaços públicos. Como da polémica escultura de forma fálica evocativa do 25 de Abril, em Lisboa. Aliás, o conceito de ocupação do espaço é um dos fundamentos do trabalho do escultor, que procura tornar artístico o espaço público em rotundas, artérias ou praças. Francisco Moita Flores disse que sábado não foi apenas um encontro de Cutileiro com Santarém e que haverá um reencontro com uma escultura do artista plástico no futuro jardim da Liberdade, a construir no espaço do actual campo de Sá da Bandeira, no centro da cidade.

Festa das Artes

Mais de 20 galerias juntaram-se à "Festa das Artes" pela segunda vez este ano. A inauguração simultânea das galerias de Miguel Bombarda deu o mote para um sábado diferente. Durante a tarde de 1 de Março as pessoas responderam ao apelo e visitaram a "rua das galerias" para integrarem o Circuito Cultural de Miguel Bombarda. O dia começou sereno às quatro da tarde. Timidamente, as portas das galerias abriam e lançavam convites a quem passava. A tarde pintou-se de cores com dezenas de pessoas a calcorrearem Miguel Bombarda, em busca de arte ou de uma tarde diferente. Arte para todos os gostos e em todos os estilos. Da pintura à escultura, passando por instalações áudio e vídeo, foram vários os nomes que inauguraram as suas exposições, como o contemporâneo Jorge Martins, a figurativa Carla Gonçalves ou o criativo Thierry Simões. Por exemplo, na galeria Por Amor À Arte, o suíço Pascal Nordmann surpreendeu com uma curiosa exposição chamada "L'Esprit des Lieux": um conjunto de máquinas com motor onde um lápis risca, desenfreadamente, um papel ou uma parede. Nordmann salientou que estava nervoso com esta terceira visita a Portugal. "No princípio tinha muito medo", explicou o suíço, que se considera um escritor e que, num espaço de artistas fica sempre "muito tímido".
Entre as reproduções de quadros de Magritte ou Picasso que decoravam as ruas, as pessoas deambulavam entre as galerias. De copo na mão, a boa disposição reinou e as únicas queixas foram para os carros que, de quando em quando, incomodavam a travessia. Foram várias as pessoas que defenderam que, pelo menos em dia de inauguração, a rua devia ser vedada ao trânsito. "Ponham os olhos na ‘rua das galerias'" De cigarro na mão e um silêncio inquiridor, Fernando Santos lança apelos à iniciativa camarária. É o galerista mais antigo e conta com três espaços na rua Miguel Bombarda. Há oito anos imaginou um futuro sem carros para a "rua das galerias". É o autor de um projecto que transforma a rua numa travessia pedonal, numa obra orçada em cerca de 500 mil euros. No entanto, até hoje não obteve resposta da autarquia. "A câmara tem de olhar para a 'rua das galerias' de uma forma mais séria porque isto é um pólo cultural com uma actividade incrível. E a câmara não pode pensar apenas noutros pontos da cidade. Ponham os olhos na ‘rua das galerias'", apela Fernando Santos. O galerista confessa que houve vontade camarária, em conjunto com a Porto Lazer, de "dinamizar a rua e trazer novo público". Ainda assim, Fernando Santos apela a um maior envolvimento da autarquia nas actividades culturais: "Porque é que a câmara não dá mais interesse a este projecto? Faço um convite ao senhor presidente da câmara que nunca cá pôs os pés. O senhor presidente da câmara tem de ver a realidade da cidade nestas ocasiões porque é para a cidade que estamos a trabalhar."

Arte em Socorro do Homem

  • A exposição traz criações de 32 artistas e está avaliada em 176 mil dólares. A exposição “Arte em Socorro do Homem” abriu ontem as suas portas ao público, para mostrar, no Salão Internacional da União Nacional dos Artistas Plásticos (Unap), as obras de pintura, cerâmica, escultura e fotografia de 32 criadores angolanos. Projectada pela Comissão Nacional de Protecção Civil do Ministério do Interior e pelo Atelier Etona, para valorizar o homem, em particular as vítimas de calamidades e os artistas plásticos, a amostra decorre até ao dia 16 do corrente.



Numa diversidade de formas, conteúdo, tonalidades e cores, a exposição “Arte em Socorro do Homem” abriu ontem as suas portas ao público, para mostrar, no Salão Internacional da União Nacional dos Artistas Plásticos (Unap), as obras de pintura, cerâmica, escultura e fotografia de 32 criadores angolanos.Projectada pela Comissão Nacional de Protecção Civil do Ministério do Interior e pelo Atelier Etona, para valorizar o homem, em particular as vítimas de calamidades e os artistas plásticos, a amostra, em exibição até 16 do corrente, junta, num só recinto, duas gera-ções de criadores.A exposição vem, segundo o artista António Tomás Ana “Etona”, reforçar a ideia de identificar, uma das mil maneiras que os homens, em geral, e os artistas, em particular, utilizaram para “se proteger” e passar o seu testemunho às gerações vindouras.“Não é fácil para um criador viver da arte, em qualquer parte do mundo.

Portanto, são acções como estas que vão ajudar, em parte, a minimizar as carências, tanto dos artistas como das vítimas de calamidades, que receberão das receitas obtidas com este projecto, orçado em 176 mil dólares, 50 por cento.”Do valor restante, de acordo com a fonte, serão tirados 45% para os criadores convidados – alguns deles já abdicaram do valor – e 5% para os organizadores.Com amostras de referência da arte angolana, como Costa Andrade “Ndunduma”, Francisco Van-Dúnem “Van”, Matondo Alberto, Massongui Afonso, Horácio da Mesquita, Dálio, António Tomás Ana “Etona” e muitos outros da nova vaga, a exposição transmite aos apreciadores de arte a ideia de segurança, confiança, auto-estima e esperança, que cada um dos artistas transmite nas suas obras, segundo o crítico de arte Patrício Batsikama.