Segall muito além do expressionismo

Posted on 3/18/2008 by UNITED PHOTO PRESS

Raras são as exposições no Brasil que buscam romper paradigmas estabelecidos e que são, ao mesmo tempo, generosas o suficiente para permitir reflexão sobre a tese levantada.

"Segall Realista", com curadoria de Tadeu Chiarelli, é ousada ao negar o expressionismo como elemento central na obra do artista objeto da mostra. Ao mesmo tempo, ao reunir um conjunto com cerca de 150 trabalhos, a mostra não se torna uma camisa-de-força da curadoria. Lasar Segall (1891-1957), nascido na Lituânia, foi integrado ao modernismo alemão, a começar por sua presença no grupo Secessão, de Dresden. Essa filiação o vinculou ao expressionismo, escola que visava realizar uma crítica social a partir da representação do cotidiano. Ao recriar a realidade, como define Chiarelli, "o artista expressionista a modifica, com a deformação expressiva das figuras, o uso antidescritivo da cor e, sobretudo, a ênfase ao caráter bidimensional do suporte pictórico".
A definição de expressionismo acima citada está presente no robusto ensaio do catálogo da mostra, que é onde o curador irá defender sua tese. Na exposição, com ótima montagem, Chiarelli reuniu um conjunto amplo das várias fases do artista e dos vários suportes que Segall usou: pintura, desenho, escultura. Nessas obras, o artista se revela diversificado em sua pesquisa, como muitos de seus pares modernistas.
Assim, observa-se como Segall discutia a própria história da arte em "Morro Vermelho" (1926), fazendo a imagem da Madonna ser encarnada por uma mãe negra; utilizava o exótico, como no clássico "Bananal" (1927), ao incorporar a cor, a luz e os personagens brasileiros; tinha uma forte preocupação social, como ensejam ambas as obras; ou adquiria contornos mais clássicos, como em "Maternidade" (1936). Ou seja, há muitos Segais.
Além do mais, o curador ainda reúne obras que contradizem sua tese central, a do "Segall realista", ao expor alguns de seus últimos trabalhos, praticamente abstratos, como suas florestas, mas que reforçam como os conceitos não são capazes de abarcar toda a complexidade do fazer artístico e que, no fim, o que interessa mesmo, ao menos para os modernos, é a obra de arte.