Dom João VI e as artes do Brasil

Posted on 3/04/2008 by UNITED PHOTO PRESS

A primeira escola de artes do Brasil está prestes a completar 192 anos. Fundada por dom João 6º, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios ajudou a transformar o Rio de Janeiro na sede do império e a dar ao Brasil a cara de um país. A instituição foi inaugurada no dia 12 de agosto de 1816. "Mais do que uma escola de artes, d. João queria trazer profissionais que preparassem a mão-de-obra para as manufaturas, permitidas na então colônia desde 1808", afirma o historiador Milton Teixeira. Foi Antonio de Araújo e Azevedo, o conde da Barca, o principal idealizador do projeto. Ele chegou a trazer pintores, serralheiros e mecânicos, mas morreu em 1817. "Sua morte interrompeu o projeto original", diz Teixeira. A morte do conde da Barca contribuiu para o fracasso da tentativa de industrializar o Brasil, em 1808. Mas contribuiu para a especialização da academia em artes. A escola buscava formar artistas, organizar exposições, conservar patrimônio e criar coleções. "A nossa academia foi inspirada na francesa, a principal de sua época", diz a historiadora Ângela Ancora da Luz, diretora da Escola de Belas Artes, nome atual da academia. Nem em Portugal havia uma academia de artes. "Para d. João, a instalação de uma escola desse porte no Brasil ajudaria a projetar o reino a uma estatura européia de desenvolvimento", afirma a historiadora. Para implementar a instituição, foi trazida para o Brasil a missão artística francesa, formada por artistas que ficaram sem emprego com a queda de Napoleão em 1815. Com a independência do Brasil, em 1822, a instituição muda de nome. Primeiro recebeu o nome de Academia Imperial das Belas Artes e, logo depois, de Academia Imperial de Belas Artes. Foram necessários mais quatro anos para que ela ganhasse um edifício próprio. "É quando o ensino artístico no Brasil começa de fato", afirma a diretora. Foi nela que aconteceu a primeira exposição de arte no Brasil: a "Exposição da Classe de Pintura Histórica", visitada por mais de 2.000 pessoas em 1829. No ano seguinte, foi organizado um evento ainda maior com duração de oito dias. A terceira exposição só aconteceria 10 anos depois, em 1840. "Esse evento foi importante porque foi aberto para artistas que não eram da escola", afirma a diretora.
  • Identidade nacional

Entre 1850 e 1880, durante o Segundo Reinado, a Academia Imperial de Belas Artes passou a produzir obras de estilo Romântico. As pinturas recontavam a história brasileira de forma heróica e idealizada. "Nesse período, a instituição era tão prestigiada que dom Pedro 2º fazia questão de comparecer às solenidades da academia", diz Angela. Com o fim da monarquia, a instituição passa a se chamar Escola Nacional de Belas Artes. Em 1965, ela é incorporada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e recebe o atual nome. Depois de formar artistas como Candido Portinari e Oscar Niemeyer, a Escola de Belas Artes se moderniza. "Estamos inseridos no contexto na arte contemporânea", afirma a diretora. Hoje, a faculdade ministra oito cursos de bacharelado (pintura, escultura, gravura, composição de interiores, composição paisagismo, desenho industrial, artes cênicas e educação artística) para 1.893 estudantes, enquanto o programa de pós-graduação atende a 120 alunos.