Morreu o pintor português Júlio Resende

Posted on 9/21/2011 by UNITED PHOTO PRESS

O autor do painel de azulejos “Ribeira Negra” morreu esta quarta-feira, em Gondomar. Tinha 93 anos. Personalidades das artes e da política já lamentaram publicamente a morte de Júlio Resende. O artista plástico tem obra representada em seis museus nacionais e sete estrangeiros e a sua mais recente exposição está patente até 09 de outubro, em Gondomar.


"A pintura sempre se envolve no objetivo final de servir a causa dos espaços públicos, sentido esse que a enobrece", declarava o artista portuense na apresentação da última exposição, intitulada “A intuição atenta à razão”.

A mostra é composta por 33 estudos para a execução do painel cerâmico criado para a estação de Sete Rios do Metropolitano de Lisboa e reflete a sua perspetiva quanto à arte pública. A exposição pode ser visitada até 9 de outubro, na Galeria do Acervo da Fundação Lugar do Desenho, em Gondomar. 

Ainda para de Júlio Resende, a pintura não se limita à "decoração" de um dado espaço, mas a dotá-lo de um "sentido próprio e inconfundível".

“Um passado muito forte”
Sobre a mostra “In Media Res”, inaugurada em abril, na Galeria Baganha, no Porto, Júlio Resende dizia tratar-se de “uma exposição única em Portugal” porque "recolhe as memórias do passado e dá-lhes uma nova apresentação".

Prestes a completar 94 anos, a 23 de outubro, Júlio Resende acreditava que "o tempo vai dizendo coisas": "Quando um artista vê uma coisa, ela penetra em si. Podem passar os tempos, mas aquilo que acontece é que a evocação se torna mais eloquente, mais forte do que propriamente o momento em que a viu". "O que conta é a impressão, aquilo que nos magoou de certa maneira, porque não há prazer que não magoe", concluiu.

"Às vezes pergunto: tu achas que valeu a pena? Essas dúvidas também doem muito. Não sei se valeu a pena. O futuro o dirá, talvez. Mas eu não tenho nada a ver com o futuro. Tenho um passado muito forte. O futuro é indiferente", resumiu.

Desenho como “expressão de um consciente que o particulariza”
As suas obras, repletas de malhas triangulares ou quadrangulares, revelavam uma vocação expressionista, com gosto pelo cubismo. Com trabalhos figurativos e abstratos, o pintor estudou e ensinou na Escola Superior de Belas Artes do Porto.

O responsável pela ilustração da obra “Retalhos da Vida de um Médico”, de Fernando Namora, considera que o desenho é a “expressão de um consciente que o particulariza", conforme se lê no sítio da Internet da Fundação Júlio Resende. "Que o Desenho seja entendido no seu mais amplo sentido. Não apenas restrito às Artes-Plásticas mas a todas atitudes criativas do Homem. Não é monopólio de qualquer época nem de qualquer sociedade”, acrescenta.

O Prémio Sousa Cardozo e o prémio nacional de pintura da Academia de Belas Artes destacam-se entre as muitas distinções atribuídas a Júlio Resende.

Onde visitar as obras de Júlio Resende:

Mais de dois mil desenhos e uma exposição permanente estão reunidos na Fundação Júlio Resende, O Lugar do Desenho, em Gondomar, que estará encerrado nos próximos três dias.


Outros trabalhos do artista plástico podem ser contemplados no Museu Soares dos Reis (Porto), Museu Amadeo Souza-Cardoso (Amarante), Museu Regional de Évora, Museu de Ovar, Museu de Arte Contemporânea (Lisboa) e Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Tem obras patentes no Museu de Arte Moderna de S. Paulo (Brasil), Museu Marítimo de Macau, Kunstforening Museum de Aslesund (Noruega) e Museu de Helsínquia (Finlândia).

Também integra a coleção da sede da UNESCO (Paris), a Biblioteca Real Alberto I (Bruxelas), e o Municipal Print Room (Antuérpia).