Esculturas inéditas de Manuel Baptista ganham corpo passados quarenta anos

Posted on 2/24/2011 by UNITED PHOTO PRESS

Vinte esculturas inéditas, pensadas há quarenta anos pelo artista Manuel Baptista, mas só agora concretizadas, vão estar expostas a partir de sexta-feira no Museu da Eletricidade, em Lisboa, com desenhos criados nos anos 1960 e 1970.

Agora com 75 anos e uma vida dedicada à pintura e ao desenho, Manuel Baptista conseguiu "a concretização de um sonho" com a exposição "Fora de Escala", comissariada por João Pinharanda, que é inaugurada às 19:30, no museu da Fundação EDP, em Lisboa.

"Foi uma grande surpresa", disse o artista numa entrevista à agência Lusa na véspera da inauguração, sobre os trabalhos de escultura pensados há mais de quarenta anos e só agora produzidos.

As obras foram selecionadas em conjunto por Manuel Baptista e o comissário da exposição com base em desenhos criados em cadernos que o artista guardou e nunca teve a possibilidade de dar corpo.

Nascido em Faro, em 1936, Manuel Baptista frequentou o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, que depois abandonou para se dedicar inteiramente à pintura.

Foi para Paris como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, onde residiu até 1963. Esteve em Itália com uma Bolsa do Instituto de Alta Cultura e regressou a Lisboa, onde foi professor de pintura na ESBAL até 1972.

Ensinou futuros artistas como Eduardo Batarda, Cristina Reis, Fátima Vaz e Helena Lapas.

A paixão pelo desenho despertou em Manuel Baptista quando, ainda criança, via filmes de animação da Disney: "Comecei a desenhar os bonecos em papel e até usando um prego, para criá-los na parede e a minha mãe castigava-me", recordou.

Ainda menino, o sonho de Manuel Baptista era trabalhar com Walt Disney. Não o concretizou, mas o treino a desenhar bonecos dos filmes, mesmo mais tarde, em aguarela, "foi muito positivo para estudar pintura".

Participou em mais de três dezenas de exposições individuais e quase quarenta exposições coletivas, e conquistou, entre outros, o Prémio Soquil de Artes Plásticas (1970) e o Grande Prémio de Pintura da IV Bienal internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira (1984).

Por iniciativa da Fundação EDP, e por sugestão do curador João Pinharanda, foram agora produzidas em grandes dimensões as vinte esculturas, que se reúnem na exposição a outros tantos desenhos dos anos 1960 e 1970.

Falésias, camisas, mesas, novelos de lã, envelopes e outros objetos do quotidiano passaram do desenho à tridimensionalidade através da madeira, fibra de vidro, plástico e alumínio.

"Eram ideias com décadas, mas resultou muito bem", avaliou Manuel Baptista, mostrando-se satisfeito com o resultado.

Os motivos têm a ver com memórias de infância: a mãe tricotava, as falésias são parte do ambiente algarvio onde nasceu, os envelopes marcaram "porque tinham coisas lá dentro".

"É a primeira vez que faço escultura. Talvez agora me transforme num escultor", disse à Lusa, com grande entusiasmo.

João Pinharanda, comissário da exposição, comentou que, tal como Manuel Baptista, muitos outros artistas portugueses só décadas mais tarde realizaram projetos antigos: Jorge Pinheiro e Ângelo de Sousa são disso exemplo.

“Se estes artistas portugueses - que não o conseguiram, na época - tivessem concretizado essas obras, a História da Arte em Portugal teria sido diferente", comentou Pinharanda em declarações à Lusa, sobre esta exposição.

"Fora de Escala" vai estar patente no Museu da Eletricidade, em Belém, até 15 de maio de 2011.

AG.
Lusa