556 ANOS...!

Posted on 12/23/2009 by UNITED PHOTO PRESS

“De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que, através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, podemos atingir o Céu”

(VASARI)


Quinhentos e cinqüenta e seis anos após sua morte este grande gênio da Renascença ainda é lembrado pelos seus belos trabalhos artísticos, arquitetônicos e esculturais; Leonardo da Vinci é mais que um simples humano ele é considerado quase “divino de modo que, através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, podemos atingir o Céu”, inteligência, esta, que não é fruto da academia formal, mas uma inteligência formada no cotidiano, na sabedoria do atelier e da oficina.


Da Vinci viveu na época do chamado Renascimento Italiano, séculos XIV ao XVI, período marcado pelo renascimento das artes, inspirada na cultura Clássica, da intensificação das trocas comerciais e do renascimento vida urbana, período que também é considerado de transição da Idade Média para a Idade Moderna; período também do humanismo (antropocentrismo), onde o ser humano (e seus pecados) são sacralizados, tempo em que os discursos sobre seguir os mandamentos divinos começam a decair; no meu entendimento, ainda vivenciamos este período em que Da Vinci realizou seus trabalhos artísticos, claro que, com a diferença de que, atualmente, exacerbamos, elevamos às últimas conseqüências a ênfase das qualidades e pecados do homem, podemos dizer que vivemos o auge do antropocentrismo (engenharia genética, clonagem, transgênicos , etc). Antropocentrismo, que os gregos viveram e que foi “abafado” pela idade média (Teocentrismo), agora fica-nos um questionamento: será se algum dia retornaremos aquele estado de contemplação que viveu a idade média devido ao medo e aos perigos da modernidade (guerras nucleares, por exemplo) ?





Segundo Alexandre Koyré existiu dois Da Vincis, um o “homem público” – pintor, arquiteto, escultor – e o “homem interior” – o filósofo, escritor, inventor e anatomista – ambos contribuiu para o desenvolvimento das artes e da idade moderna. Este caráter enciclopédico e universal de Leonardo Da Vinci – a meu ver – pode ser comparado ao de Aristóteles, com a diferença de que Aristóteles é um gênio da arte escrita e Leonardo das artes plásticas; no período medieval Aristóteles era chamado de “Doutor” pelos seus estudiosos e anos mais tarde Da Vinci foi e é chamado de “Grande Gênio Universal” (KOYRÉ, 1982), ambos, em seu campo de domínio contribuíram com a formação do pensamento da civilização ocidental.



Leonardo Da Vinci não era inteiramente Divino como queria Vassari, assim como Jesus Cristo, também era humano e esse lado humano foi defendido e publicado pelo Francês Pierre Duhem, grande sábio e erudito. Duhem em sua obra “Léonard de Vinci, ceux qu’il a lus et ceux qui l’ont lu” (1906-1913), disserta sobre a ciência medieval e sobre o grande Da Vinci; Duhem tenta desmistificar a figura de Leonardo tornando-o um homem iletrado e rude, mas esta nova imagem não agrada aos intelectuais e admiradores da época, opinião que também compartilho, pois apesar de não ser totalmente letrado ele tinha conhecimento do que se passava ao seu redor, sem contar que era um gênio da geometria e da matemática, inspirava-se grandemente em Arquimedes e para se tornar pintor era, e é, necessário saber de perspectiva, cores, anatomia, proporção, geometria, noção de claro-escuro, etc; Da Vinci possuía uma inteligência prática e não tanto teórico-abstrata – o que, atualmente, as escolas e os vestibulares estão, aos poucos, valorizando os vários tipos de inteligência como a artística (que possuía Leonardo), musical, filosófica, literária, etc.




 As contribuições de Da Vinci no campo da geometria foram a “determinação do centro de gravidade da pirâmide e alguns teoremas curiosos sobre as lúnulas, (...) fabricou compassos para traçar as seções cônicas”; foi também responsável por elaborar estratégias de fortificações, máquinas e armas de guerra, carros de assalto, máquinas perfuratrizes, armas e gruas, bombas, teares, palcos giratórios para espetáculos de teatro, prensas para imprimir, embarcações, submarinos máquinas voadoras; claro que as máquinas voadoras ficaram desenhadas no papel (teoria), assim como outras de suas invenções e, além de pintor, escultor e arquiteto foi, também, “inventor”.



Inventor não só de máquinas e projetos arquitetônicos, mas inventor de um outro modo de se viver: o modo humanista-renascentista; modo, este, que acentua a dinamicidade da vida moderna, a sacralização do profano, a valorização da essência do homem: as fraquezas (dualidade), isto segundo a minha visão, e a fraqueza é sinal de dualidade: dualidade entre o que é bem e o que é mau, entre razão e as paixões, segundo a minha visão, a essência do homem é a dualidade (como já dizia Platão) que se traduz nos problemas existenciais.





Assim como fizemos um paralelo de Da Vinci com Aristóteles podemos, igualmente, fazer um paralelo com Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.


Antônio Francisco Lisboa nasceu em Vila Rica, a 29 de Agosto de 1730 e veio a falecer a 18 de Novembro de 1814, filho de português (Manuel Francisco Lisboa) com sua escrava (Isabel).


Aleijadinho, assim como Leonardo Da Vinci, não desfrutou grandes estudos acadêmicos, era considerado iletrado, mas possuía igual inteligência artística para a pintura, escultura e arquitetura, tanto que criou uma nova técnica de esculpir em pedra sabão. Ele viveu o período do barroco brasileiro em pleno Brasil Império. Ambos artistas possuíam temáticas religiosas ou obras feitas em ambientes religiosos, mas com um tom humanista, ou seja, anjos retratados com aspectos não divinos, mas dos escravos brasileiros (no caso de Aleijadinho), e o nu humano nas obras religiosas de Da Vinci.


Não desmerecendo Da Vinci, mas Aleijadinho foi um verdadeiro “guerreiro” para o seu tempo, primeiro por ser mulato, segundo por perder os membros por conta de doença degenerativa e terceiro por estar no Brasil – um país que não valoriza suas artes e nem sua cultura– um guerreiro por elaborar belas obras e não ter seu nome escrito em livros memoriais oficiais por ser mulato e, mesmo assim, continuou com sua arte retratando o povo brasileiro em seus anjos, arcanjos, madonas, pietás e cristos; Antônio Francisco Lisboa, o Da Vinci brasileiro, um exemplo de criatividade e persistência.

Voltando a Leonardo Da Vinci, em conclusão, daqui há quinhentos anos se a humanidade ainda existir este “grande gênio universal”, concerteza, será lembrado por suas contribuições artísticas, filosóficas, físicas, arquitetônicas, epistemológicas, científicas, etc e, juntamente com ele, todos os grandes gênios que contribuíram para o progresso tanto científico como - principalmente – cultural da humanidade.