Artistas exploram cada vez mais a videoarte

Posted on 8/16/2009 by UNITED PHOTO PRESS

Televisão, máquina de fazer doido. E foi justamente a partir da linguagem televisiva que surgiu a videoarte. Nascida a partir do cruzamento da arte e tecnologia, a videoarte apesar de ser considerada “de vanguarda”, não é uma ideia nada nova. Eram os anos de 1960 e o mundo das artes passava por uma verdadeira revolução. Cada vez mais as obras articulavam diferentes modalidades de arte, como dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura, desafiando as classificações habituais, questionando o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte.
Alguns artistas decidiram ganhar as ruas e produziram intervenções na paisagem urbana. Outros passaram a utilizar o próprio corpo como suporte artístico e converteram suas obras em performances no espaço público. Outros ainda procuraram mesclar os meios e relativizar as fronteiras entre as artes, produzindo objetos e espetáculos híbridos como as instalações e os happenings.
E houve também aqueles que foram buscar materiais para experiências estéticas inovadoras nas tecnologias geradoras de imagens. “A videoarte surge de uma crise de suportes tradicionais, como a pintura e a escultura. Na busca por uma nova forma de se expressar, os artistas incorporam o vídeo a sua linguagem e a mídia ganhou uma nova dimensão”, explica Val Sampaio, videoartista e artista plástica paraense.
Movimento através do tempo Inovações tecnológicas e a necessidade de romper barreiras permitiram a criação de mais uma forma de arte
As primeiras incursões na videoarte no país 40 anos atrás produziram uma arte instigante, independente, moderna e desvinculada de qualquer regra ou padrão pré-estabelecido, um rompimento total com os esquemas estéticos e mercadológicos da pintura de cavalete e a arte das grandes galerias e museus. O vídeo até então era associado com a televisão e aquela fita caseira das suas férias na praia quando criança, não com arte.
Era acessível e fácil de usar. Porque não tinha uma estética nem uma história, era simplesmente uma ferramenta, a videoarte não criou nenhuma expectativa. Isso permitiu os pioneiros da nova mídia, nomes como Antonio Dias, Artur Barrio, Iole de Freitas, Lygia Pape, Rubens Gerchman, Agrippino de Paula, Arthur Omar, Antonio Manuel e Hélio Oiticica, a abrir um outro capítulo na história da arte. “Houve uma sincronia entre o que aconteceu lá fora e aqui no Brasil. Acho até por razões tecnológicas inclusive, foi a partir da implementação da tecnologia que se pode interagir com o novo equipamento e experimentar com o suporte. O que se vê então, a partir daí, é a relação do artista com a natureza da imagem eletrônica.”, diz Val.INCOMPREENDIDA
É importante notar que o vídeo não é um meio estático. Pintura e escultura podem, a sua maneira, contar uma histórias, mas só o vídeo pode fazer histórias se moverem através do tempo e continuarem se movendo indefinidamente. Porque era relativamente barato, você podia brincar com isso, improvisar e deixar sua imaginação correr durante a edição. Experimentações, claro, resultaram em pretensão, muita pretensão.
Teve uma quantidade enorme de vídeos terrivelmente chatos na década de 1970. Mas com certeza teve a mesma quantidade de quadros terrivelmente chatos no mesmo período. E algum desses quadros ainda estão pendurados nos museus enquanto os vídeos estão jogados em alguma prateleira empoeirada. “A videoarte sempre foi meio marginal, incompreendida. É um meio que te impõe um desafio a mais como receptor, porque ele rompe com a ideia tradicional de narrativa. É o meio como obra de arte.”, revela Mariano Klautau, fotógrafo e videoartista paraense.
Com o tempo a videoarte ganhou credibilidade, ou seja, achou seu mercado. Os valores de produção aumentaram: melhores equipamentos, cores ricas, projeção em alta definição. As diferenças entre o vídeo e filme paulatinamente começam a desaparecer. Os primeiros videoarte eram mais curtos, contidos e conceituais, como se fossem objetos de arte. Por uma questão estritamente mercadológica, as instalações estavam ainda atreladas ao espaço físico das galerias de arte. Mas hoje em dia, com o advento da internet, a relação desse tipo de trabalho com o mundo da arte estruturado ao redor de museus, galerias e festivais, desfragmentou-se.
INTERNET
Você pode experienciar através do seu computador, como por exemplo os trabalhos do coletivo de videoartistas franceses do Instants Vídeo (www.instantsvideo.com), em qualquer lugar e a qualquer momento que você queira. Encabeçado pelo diretor francês Marc Mercier, de passagem por Belém como curador de uma oficina e exposição sobre videoarte esta semana, no IAP, o projeto tem como objetivo salvar, digitalizar e classificar uma grande parte do patrimônio europeu da criação de vídeo e multimídia, e disponibilizá-lo na internet. Quebrando a última barreira entre arte e público.
“Era uma passagem natural. A videoarte veio inclusive como um movimento de questionamento do espaço da arte. De entender o que é arte e onde pode acontecer. É mais um lugar onde uma coisa não exclui a outra. A videoarte também tem seu espaço nas galerias. Mas, não importa a maneira que os espaços fazem apresentação, a videoarte é uma relação de tempo como obra de arte”, observa Val Sampaio
Isso representa uma maneira possível de produzir algo sem a tirania do preciosismo da arte e fora do mercado de arte que vem se transformando atualmente em uma grotesca estrutura que prioriza muito mais o dinheiro e transforma a obra de arte em si em algo pequeno e dispensável. Em um tempo de produção veloz e mercantilização voraz, os videoartistas estão fazendo arte sob uma perspectiva diferente. Eles estão também fazendo arte que outros suportes físicos não podem fazer. E eles estão atingindo audiên-cias de uma maneira totalmente diferente. Afinal de contas, quem precisa de uma galeria de arte quando se tem Youtube?