Quadros de Miró valem 150 milhões

Posted on 8/11/2008 by UNITED PHOTO PRESS

O Banco Português de Negócios (BPN) quer vender os 82 quadros de Joan Miró, um dos mais famosos artistas espanhóis, que tem em sua posse desde que um grupo económico espanhol falhou o pagamento de um avultado empréstimo concedido pelo banco no tempo de Oliveira e Costa. A Christie’s, uma das leiloeiras mais prestigiadas do Mundo, já avaliou as obras e está a preparar um plano para a sua alienação. Estima-se que esta venda permita arrecadar, no mínimo, 150 milhões de euros.


Ao que o Correio da Manhã apurou, os especialistas da Christie’s, leiloeira do Reino Unido, estiveram em Lisboa em meados de Julho passado e, segundo fonte conhecedora do processo, "ficaram surpreendidos com a veracidade dos quadros". A presença dos especialistas da leiloeira britânica em Lisboa destinou-se não só a avaliar a originalidade das obras de arte de Miró na posse do BPN, mas também a estabelecer um valor global para aquele património artístico. Para reforçar a liquidez financeira do banco, a nova administração do BPN, liderada por Miguel Cadilhe, "tem intenção de vender os quadros em momento oportuno", diz a mesma fonte.



A partir da avaliação artística e económica realizada em Lisboa, a Christie’s irá fazer ao BPN uma proposta para a venda dos quadros. Para já, está ainda em avaliação se o BPN irá vender os 82 quadros de Miró, uma das maiores colecções do Mundo do artista espanhol, de uma só vez ou em várias vezes.



Desde que as obras foram parar à posse do BPN – por força de um grupo económico espanhol não ter pago o crédito pedido ao banco – o custo de conservação e manutenção dos quadros, incluindo a verba referente ao crédito garantido, já ronda os 75 milhões de euros. Mesmo assim, esta desp esa corresponde apenas a 50 por cento da receita mínima estimada com a venda dasobras: 150 milhões de euros é quanto poderá render ao BPN a venda dos 82 quadros de Miró.



UM SURREALISTA APAIXONADO PELA FANTASIA NAIF



Natural de Barcelona, Joan Miró nasceu no dia de Natal de 1893, mas ainda jovem escandalizou as mentalidades conservadoras ao proclamar "o assassínio da pintura" como lema da sua actividade. Considerada única, singular e original, a obra que deixou nos domínios da pintura, gravura e escultura é por vezes identificada como surrealista, de toque naïf, embora ele o negasse.



VALOR DAS OBRAS SUPERA EXPECTATIVAS DOS LEILOEIROS



Os quadros de Joan Miró atingiram valores de venda muito elevados em leilões de arte realizados nos últimos tempos. Só em 2007 três obras do famoso pintor espanhol surrealista foram arrematadas por um total de 27,58 milhões de euros.



Num leilão realizado em Paris, no final de Dezembro de 2007, uma dessas telas, a ‘Blue Star’, datada de 1927, foi vendida por 11,6 milhões de euros. Para se ter uma ideia precisa do potencial de valorização dos quadros de Joan Miró, basta referir que a ‘Blue Star’ – que o próprio autor qualificou como "quadro-chave" da sua obra – estava avaliada num valor compreendido entre cinco e sete milhões de euros.



No mesmo leilão foi arrematada uma outra tela de Miró, a ‘Bird’, por 6,2 milhões de euros. Já em Junho de 2007 fora vendido, num leilão organizado pela Christie’s, um quadro do pintor espanhol, o ‘Le coq’, por 9,78 milhões de euros, um valor muito acima dos 6,6 milhões de euros de avaliação máxima prevista pela leiloeira.



Miró, além da pintura, dedicou--se também à tapeçaria e produziu cenários para ballets.



BOM MOMENTO PARA VENDER



A oportunidade para a concretização desta operação por parte do BPN é considerada boa por galeristas consultados pelo CM, que prevêem a realização de altos lucros.



"Aquilo que é caro e valioso, como é o caso, tem sempre oportunidade", diz Lima de Carvalho, director da Galeria de Arte do Casino Estoril. Segundo este especialista, "a cotação será altíssima, mas para quem tem muito dinheiro, não é nada", acrescenta.



Por seu turno, Pedro Serrenho, director da Associação Portuguesa das Galerias de Arte (APGA), sublinha que "artistas como Miró e outros autores de arte moderna, do início do século XX eespecialmente d o pós-gu erra, têm tido ultimamente uma evolução acima do que seria expectável para momentos de crise". Este responsável, ele próprio galerista, argumenta ainda que "o valor dos artistas que possam surgir em leilão, nomeadamente os consagrados, como Miró, tem sido evolutivo e seguro", apesar da crise.



Lima de Carvalho sublinha, numa outra perspectiva, que "a crise também afecta os ricos, mas não tanto como a classe média".