Mao é pop

Posted on 7/27/2008 by UNITED PHOTO PRESS

Mao imponente na Praça da Paz Celestial

Tatiana Klix

A 14 dias da Olimpíada de Pequim, a China é assunto recorrente em tudo que é lugar. Com algum conhecimento da história recente do país antes da viagem, fui com o interesse de observar (e quem sabe entender um pouco) como é a relação do povo com a figura do ex-presidente Mao Tsé-tung. Sem mandarim, óbvio que não consegui conversar profundamente com chineses sobre isso, mas quem não tem boca, tem olhos (e máquina fotográfica para registrar um pouco do que enxergam).

O que eles viram foi que o controverso ditador está, ainda, muito presente na vida e no imaginário da população. Além da emblemática e imponente foto (ou seria pintura?) na praça da Paz Celestial (aquela que todo mundo já viu um dia por foto), dos soldados que guardam sua tumba ali pertinho e das cédulas de dinheiro que levam seu rosto estampado, a imagem de Mao é figurinha repetida também fora do cenário oficial. Mao é ídolo, é pop. Está em chaveiros, souvenires, pingentes de carro, paredes de restaurantes etc. A cada nova imagem que flagrava, não me continha em fotografar, um pouco já pensando no blog, outro tanto como forma de registrar o que meus olhos observavam assustados, concluindo que ainda vai levar um bom tempo até que a China consiga fazer a crítica adequada sobre os atos irracionais da Revolução Cultural e tantos outros que ocorreram durante todo o regime de Mao.

Somente no último dia, consegui ter um contraponto. Em visita ao distrito Dashanzi em Pequim, também conhecido como 798, onde há várias galerias de arte, encontrei obras que ironizavam ou escancaradamente criticavam o passado do presidente comunista. Ao mesmo tempo, outras pinturas e esculturas humanizavam Mao e reproduções do ex-ditador eram vendidas banca sim, banca também, como souvenir, o que muito me confundiu. O que é crítica e o que é idolatria? No livro Um Brasileiro na China, do jornalista Gilberto Scofield Jr, encontrei uma resposta. Dono de uma das lojinhas, o senhor Wang explica que estas imagens não têm mais valor ideológico, e agora isto é arte.

Será? Continuo pouco convencido.


De cima para baixo, da esquerda para a direita:

1 - Botons decoram parede de bar na descolada rua Nanluoguxiang, em Pequim

2 - Restaurante em Yangshuo

3 - Loja de quadros com reproduções de trabalhos de Andy Warhol em Macau

4 - Souvenires vendidos na Muralha da China

5 - Pingente no carro do guia de turismo em Guilin

6 - Reproduções de imagens antigas à venda no Distrito 798