A Figura Maior da Pintura Portuguesa

Posted on 6/14/2008 by UNITED PHOTO PRESS

  • Centenário. Fez ontem 100 anos que nasceu Maria Helena Vieira da Silva. Reconhecida como um dos nomes mais importantes da arte do pós-guerra e em diálogo intenso com as vanguardas europeias, só em 1970 teve em Portugal a primeira exposição individual.


A pintora que Portugal expulsou e que por isso preferiu ser francesa Descrita como tendo uma personalidade forte e uma presença discreta, Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1908 e foi a mulher artista que mais longe chegou em termos de reconhecimento e aceitação internacionais na história da arte portuguesa. As suas paisagens urbanas eram complexas e densas, mas conseguiram seduzir todos e entrar nos melhores museus do mundo. Internacionalmente, tem obras nas colecções no MOMA de Nova Iorque, no Pompidou, no Getty Museum, etc. Aos onze anos começou a estudar pintura e desenho na Academia de Belas Artes de Lisboa e, motivada pela escultura, estudou Anatomia na Faculdade de Medicina de Lisboa. Mas foi aos 20 anos que se deu o ponto de viragem decisivo. Apoiada pela família, partiu para Paris, onde estudou pintura com Fernande Léger, e trabalhou com Duffrene e Waroquier. Nestes anos, o seu campo de interesses era muito vasto. Pintura, escultura, gravura e os têxteis constituíam o seu horizonte. 1930 é um ano importante para a artista. Casa--se com o pintor húngaro Arpád Szenes, nome ao qual ficará para sempre associada, e faz a sua primeira exposição em Paris. E é em 1931 que participa no importante Salons d'Automme e Surindépendents. São desta época as importantes telas Les Balançoices e Le Quai de Marseille, onde, como escreve Maria Almeida Lima, " se começou a manifestar a autenticidade das suas qualidades artísticas." (in Roteiro da Colecção do Centro e Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, da Fundação Gulbenkian).Em 1932 foi para a Academie Ranson, onde foi aluna de Bissière. Uma estada importante porque foi onde Vieira da Silva descobriu, continua Maria Almeida Lima, "a repetição das perspectivas, das malhas e dos quadrados". Em 1940 surge a pintura L'Atelier, que é uma das obras mais importantes, tida por muitos como perfeita.Com a II Guerra Mundial foge com o marido para Lisboa, onde são fortemente hostilizados pelo Governo de Salazar, o que os leva a uma nova fuga para o Brasil. Estes são tempos de grandes dificuldades, financeiramente na ruína com um casamento a dar sinais de mau funcionamento. A relação com a cultura brasileira não é das mais estimulantes, à excepção dos poetas amigos do casal Cecília Meireles e Murilo Mendes, que apoiam e divulgam o seu trabalho. Em 1947 regressa a Paris. Regresso este que deu início a um conjunto de trabalhos que vão fazê-la mundialmente famosa. São dos anos do regresso do exílio que datam pinturas como La Bibliothèque e Gare Saint-Lazare e é considerada como uma das principais figuras do abstraccionismo lírico da Escola de Paris.Até meados dos 50 o trabalho de Vieira da Silva caracteriza-se pela complexidade formal e composições densas e complexas, os espaços que insistentemente pinta são labirínticos e a repetição de que tanto faz uso baralha e maravilha a perspectiva do espectador. As formas fragmentadas, as ambiguidades espaciais e o modo como o seu trabalho ecoa a palete de cores do cubismo e da arte abstracta fazem de Vieira da Silva umas das artistas abstractas mais importantes do pós-guerra. Tocada pelo surrealismo e pelo expressionismo abstracto vindo dos EUA, as suas pinturas deste período assemelham-se a procuras do infinito no interior de uma cidade, procura e tensão estas que encontram nas bibliotecas que pintou a sua maior intensidade. Há quem veja nesta sua obsessão pela cidade e pela planta irregular e irrequieta da cidade um desejo do Absoluto feito pintura.Era assim que Vieira da Silva, como escreve José Manuel dos Santos, "pintava ateliers, cidades, pontes, bibliotecas, labirintos, gares, estrelas, desastres". Neste mesmo texto a propósito da relação entre a pintora e o poeta Cesariny, continua: "Para Cesariny, Vieira era a grande feiticeira que via a visão e a cegueira, o verso e o reverso, o abaixo e o em cima, o exterior e o interior, o visível e o invisível. Diotima, bruxa, mágica, pitagórica, pitonisa, iniciada, vidente, possessa, mulher-xamã, a do voo imóvel, dizia ele dela e da sua álgebra geométrica."A partir de 1948 o estado Francês começa a adquirir as suas pinturas e em 1956 tanto ela como o marido obtêm nacionalidade francesa. Em 1960 o Governo Francês atribui-lhe uma primeira condecoração, em 1966 é a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e em 1979 torna-se cavaleira da legião de honra francesa.