Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: uma leitura dos trópicos

Posted on 5/11/2008 by UNITED PHOTO PRESS

A Prefeitura do Rio-Comissão D. João VI e o Museu Nacional de Belas Artes apresentam a primeira retrospectiva do artista francês que eternizou em suas telas a força das cores e a luminosidade do Brasil.
Pinturas, desenhos e vídeos compõem a exposição “Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: uma leitura dos trópicos”, que será inaugurada no próximo dia 6 de maio, no Museu Nacional de Belas Artes. A mostra, inserida nas comemorações dos 200 anos da chegada de D. João e da Família Real ao Rio de Janeiro, promovidas pela Prefeitura do Rio-Comissão D. João VI, tem curadoria da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, e apresentará – pela primeira vez – toda a trajetória artística de Nicolas-Antoine Taunay, cujo trabalho estabeleceu um diálogo original entre as telas classicistas francesas, as paisagens iluminadas de Roma e as vistas tropicais do Rio de Janeiro. A exposição marcará a reabertura do MNBA.
71 obras, entre elas cinco pinturas do acervo do Château de Versailles, serão exibidas na exposição, além de trabalhos que pertencem ao Palácio de Queluz, Portugal; Victoria & Albert Museum, Londres; Oliveira Lima Library, Washington D.C.; Musée des Beaux-Arts, Nancy; Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; e Musée des Beaux-Arts, Orleans. Do Brasil, obras do MNBA, Museu I Reinado, Museu Nacional, Museu Imperial, Museus Castro Maya, Museu Paulista, Fundação Eva Klabin e coleções particulares.
Segundo o aecretário Municipal das Culturas, Ricardo Macieira, “Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: uma leitura dos trópicos” será a mais importante mostra do artista já exibida no Brasil. “A compreensão da passagem de artistas franceses pelo Rio de Janeiro colonial ainda demanda aos historiadores profundas investigações. A missão francesa chegou a convite de D.João ou resultou do acolhimento de pintores que fugiam das perseguições que se seguiram à queda de Napoleão? O fato é que os artistas franceses que chegaram ao Rio de Janeiro ficaram fascinados pelas paisagens tropicais, como Nicolas-Antoine Taunay, e contribuíram muito para a formação da história das artes visuais no Brasil. A discussão sobre o mito da Missão Francesa não é nova, mas a exposição Nicolas-Antoine Taunay revela, pela primeira vez, a grandeza do talento de um dos mais célebres pintores do velho mundo, que após o reconhecimento da sua arte nos principais museus e galerias da Europa, chega à colônia e interpreta com maestria as belezas naturais do Rio Antigo. É com muita satisfação que apresentamos aos cariocas a oportunidade de conhecer parte expressiva de nossa história nas telas iluminadas de Taunay.”
Nicolas-Antoine Taunay nasceu em Paris em 10 de fevereiro de 1755 e começou sua carreira de pintor aos 13 anos, dedicando-se a pequenas telas de paisagem. Freqüentou a Academia Real de Pintura e Escultura da França e a Academia de França, em Roma. Conhecido inicialmente como pintor de pequenas paisagens e de gênero, notabilizou-se também com a pintura histórica em telas de grandes proporções, notadamente as relativas ao período do império napoleônico. Com a queda do Imperador, em 1815, Taunay, aos 60 anos, vem para o Brasil, com a esposa e cinco filhos. Aqui chegou no ano seguinte, junto com um grupo de artistas franceses do qual faziam parte, entre outros, Jean-Baptiste Debret e Grandjean de Montigny.
O artista, que morou no Rio de Janeiro durante os cinco anos em que permaneceu no país, ficou impressionado com a paisagem local. E adquiriu um terreno na Tijuca, próximo de uma cascata, que mais tarde foi “retratada” em uma de suas mais belas pinturas produzidas por aqui, “Cascatinha da Tijuca”, onde o pintor misturou realidade e representação, resultando numa síntese de sua estada nos trópicos brasileiros. A pintura, na opinião da curadora “uma visão encantada da natureza”, onde o artista se inclui na tela, transformou a região em pólo de atração de viajantes estrangeiros, entre os quais Maria Graham, Jacques Arago, o príncipe Maximiliano zu Wied Neuwied, Auguste de Saint Hilaire e Spix e Martius, que não só visitaram a propriedade de Taunay como teceram largos comentários acerca do aspecto idílico da paisagem. A obra será um dos grandes destaques da mostra.
A exposição - “Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: uma leitura dos trópicos” ocupará cinco salas do MNBA. Dividida em módulos, conduzirá o público a uma viagem pela obra do artista.
Na primeira sala, os três módulos mostrarão o artista na Europa: a apresentação de Taunay, com os “Auto-retratos”; “O pintor de paisagens e gêneros”, com as telas produzidas no continente europeu, especialmente na Itália; e “O pintor de história: as grandes telas napoleônicas”. Entre os destaques, Vue de la place du Peuple à Rome ( Vista da " piazza del Popolo" em Roma), do Musée des Beaux-Arts , Dunkerque; e Hôpital militaire en Italie, (Hospital militar na Itália), 1797, do Musée National des Châteaux de Versailles et de Trianon, Versailles.
A videoinstalação “Cascatinha da Tijuca” introduz o visitante à produção brasileira da obra de Taunay. No mesmo espaço estarão os módulos “No Brasil: Os trópicos como espetáculo”, com as paisagens brasileiras; e “A escravidão como detalhe”. Destaques: Scène maritime à Rio (Cena marítima no Rio), c. 1817, do Victoria & Albert Museum, Londres; e.Le Largo do Machado à Laranjeiras (O Largo do Machado em Laranjeiras).1816-1821, da Catholic University of America, Oliveira Lima Library, Washington, D.C.
Na sala Ubi Bava estarão a videoinstalação “A pintura de detalhes” e os módulos “Nobreza reluzente”, com a corte caracterizada pelo requinte da moda do Velho Continente; “Vistas urbanas - O Rio de Janeiro como uma vila italiana”, onde a paisagem carioca é influenciada pelas vistas italianas; e “De volta, mas com o Brasil na bagagem”, que mostra a influência tropical na produção européia de Taunay após a sua volta à França. Destaques: D. João e D. Carlota Joaquina passando na Quinta da Boa Vista perto do Palácio de São Cristóvão, 1816-1821, Museu Nacional / UFRJ, Rio de Janeiro; Vista do Rio tomada do alto da Boa Vista, c. 1820, Museus Castro Maya, Rio de Janeiro; Vista do Pão de Açúcar a partir do terraço de Sir Henry Chamberlain, 1816-1821, coleção particular, São Paulo; e Moisés salvo das águas, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
O módulo “Retratos íntimos” (telas dos príncipes e princesas da família Bragança, da nobreza brasileira, dos filhos e esposa do artista), entre os quais destaca-se Retrato da princesa D. Isabel Maria, 1816-1821, do Palácio Nacional de Queluz, ocupará a mesma sala onde será exibida numa tela de LCD a imagem da obra Chat avec un perroquet uma (rara) natureza-morta de Taunay, com comentários em áudio da curadora.
Na última sala, Le Breton, será apresentado um vídeo biográfico sobre Taunay (19 minutos), com roteiro e narração de Lilia Schwarcz e direção de Carlos Assunção Filho - Cafi.
A editora Sextante editará o catálogo-livro (272 páginas, onze textos), com design de Victor Burton e coordenação editorial de Lilia Moritz Schwarcz e Elaine Dias. Essa edição completa a exposição, produzida pela Imago Escritório de Arte.
Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: uma leitura dos trópicos, de 7 maio a 6 de julho, de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, sábados, domingos e feriados, das 12h às 17h. Entrada gratuita aos domingos. De terça-feira a sábado, ingressos a R$5, no Museu Nacional de Belas Artes, Av. Rio Branco, 199 – Cinelãndia - Rio de Janeiro - telefone: (21) 2240-0068 Site: http://www.mnba.gov.br/