'O Desenho Dito' nos 15 anos da Casa da Cerca

Posted on 4/07/2008 by UNITED PHOTO PRESS

O que têm em comum quatro artistas dos séculos XVII/XVIII e 11 criadores contemporâneos? Que relações poderá haver entre Domingos Sequeira e Pedro Cabrita Reis? A resposta está no traço, ou melhor, na arte do desenho. E é com "O Desenho Dito", uma mostra que reúne obras de 15 autores ao longo de três séculos, que a Casa da Cerca - centro de arte contemporânea desde o primeiro momento associado a esta disciplina - está a comemorar, em Almada, o seu 15.º aniversário."A ideia foi ligar a tradição académica do desenho e a modernidade das suas práticas", explica ao kulturiart Emília Ferreira, que com Alexandra Canelas e Ana Isabel Ribeiro comissaria a exposição.Assim se juntaram, graças a obras cedidas pelo Museu Nacional de Arte Antiga, quatro artistas ligados à própria criação da Academia de Belas-Artes - Cyrillo Volkmar Machado, Domingos Sequeira, João Glama Ströberle e Vieira Portuense -, com 11 artistas dos séculos XX/XXI que, "com ou sem escola ortodoxa, têm trabalhado muito este elemento e feito a ponte com a prática moderna do desenho". A saber: Alexandre Conefrey, Ana Leonor, Gabriela Albergaria, Gaëtan, João Queiroz, Julião Sarmento, Manuel Botelho, Pedro Cabrita Reis, Ricardo Angélico, Rogério Ribeiro e Rui Sanches. Com quase quatro dezenas de obras, patentes na Galeria Principal até 1 de Junho, a exposição divide-se em três núcleos: os desenhos históricos, o corpo e a natureza. Dando primazia à linha, "o desenho mais puro e claro, embora por vezes se transforme em mancha, como podemos ver nas obras do século XX, que trabalham muito essa miscigenação de técnicas", sustenta Emília Ferreira.A par dos trabalhos, a Casa da Cerca exibe curtos testemunhos de cada artista vivo sobre o papel que o desenho tem na sua obra plástica. Segundo aquela responsável, "O Desenho Dito" tem também uma relação simbólica com dois momentos da instituição: um projecto com o mesmo nome, nunca concretizado, de Rogério Ribeiro (artista recentemente falecido, que de 1993 a 2000 dirigiu a Casa da Cerca); e a exposição "O Desejo do Desenho", que em 1995 ali lançou as bases da investigação em torno desta arte.Pioneirismo e investigação"Olhando para o que existia há 15 anos, este foi, de facto, um projecto que se revestiu de algum pioneirismo, no sentido em que assumiu o desenho como pretexto aglutinador do discurso plástico e artístico", afirma ao DN a actual directora da Casa da Cerca, Ana Isabel Ribeiro.Por este centro de arte contemporânea pertencente à Câmara Municipal de Almada - e instalado numa quinta dos séculos XVII/XVIII, que durante as Invasões Francesas terá servido de aquartelamento ao regimento do general Junot -, passaram já três dezenas de exposições. "O balanço é bastante positivo", acrescenta a directora, destacando a "a divulgação dos desenhos de artistas que são mais conhecidos por outras práticas, como a arquitectura, o design gráfico ou industrial, a escultura ou a pintura."Sábado, a par de "O Desenho Dito" e de três exposições individuais foi também "formalmente" aberto ao público o Centro de Documentação e Investigação Mestre Rogério Ribeiro. Além de uma base de dados com informação sobre artistas portugueses, o centro tem um fundo bibliográfico com mais de dez mil títulos, de catálogos a recortes e monografias sobre História da Arte."A investigação a nível interno é outra vertente que tem estado ser cumprida", diz Ana Isabel Ribeiro, referindo a "trama" que se procura tecer entre o sector documental, os serviços educativos e o Chão das Artes, o jardim botânico inaugurado em 2001 com espécies usadas como matérias-primas da pintura, desenho ou gravura.Quanto às comemorações de aniversário, incluem, em Junho, exposições em parceria com a escola de artes Ar.Co (que celebra 35 anos) e o Festival Internacional de Teatro de Almada, e em finais de Setembro uma grande mostra individual de Pedro Calapez, centrada no desenho. Deverá realizar--se igualmente um ciclo de conferências, em data a anunciar.