Morreu Reys Santos, figura destacada no restauro da pintura

Posted on 5/14/2012 by UNITED PHOTO PRESS MAGAZINE

Manuel Reys Santos era actualmente o vice-presidente
da Academia Nacional de Belas Artes
 (Pedro Melim) 
Manuel Reys Santos, vice-presidente da Academia Nacional de Belas Artes de Portugal e considerado uma figura de destaque no restauro de pintura, morreu na madrugada desta segunda-feira aos 91 anos, disse António Valdemar, presidente da Academia Nacional de Belas Artes. 

De acordo com António Valdemar, Manuel Reys Santos, mais conhecido por Mestre Reys Santos, sofria de problemas respiratórios e estava internado já há uns dias no Hospital da CUF, em Lisboa. O corpo de Reys Santos vai estar em câmara ardente na Basílica da Estrela ao final do dia, e o funeral é na terça-feira, às 11h, no cemitério dos Olivais.

Bisneto do escultor Pedro Carlos dos Reys, foi também na arte que Manuel Reys Santos se destacou. Especialista no restauro da pintura, Reys Santos foi responsável pelo restauro do tríptico criado pelo holandês Hieronymus Bosch, “As tentações de Santo Antão”, bem como pelos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, que se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Mas não se dedicou apenas à arte antiga, tendo estado também envolvido no restauro de obras de artistas portugueses contemporâneos como Eduardo Viana e Almada Negreiros, recuperando deste último, os frescos das Gares Marítimas que se encontravam em processo de desagregação.

“Passaram-lhe pelas mãos 500 anos de pintura portuguesa e estrangeira, o mestre Reys Santos tinha um olho para a pintura como poucos”, recorda ao PÚBLICO o presidente da Academia Nacional de Belas Artes, explicando que nos últimos anos o mestre dedicou-se “ao serviço da Academia”. “Trabalhou até ao fim. O seu último grande trabalho foi o inventário do acervo de pintura que pertence à instituição.”

Para o professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e historiador de arte, Fernando António Baptista Pereira, Manuel Reys Santos é “uma figura fundamental da conservação e restauro”, destacando os anos em que esteve ao serviço do MNAA e do Instituto de Restauro José de Figueiredo (actual Laboratório de Conservação e Restauro José de Figueiredo), onde foi responsável pela oficina de restauro. “Portugal deve-lhe muito e as Belas Artes também”, disse Baptista Pereira, destacando a “carreira longuíssima” de Reys Santos. “Passaram-lhe pela mão grandes obras de arte”, afirmou o historiador, recordando que Reys Santos foi também pintor. “Não se pode restaurar uma obra de arte sem se saber como se faz uma”, garante o professor. 

Reys Santos foi homenageado pela Academia Nacional de Belas Artes ao completar 90 anos, em Dezembro de 2011, numa iniciativa conjunta com o Instituto de Restauro e Conservação no qual trabalhou mais de meio século. 

Os 90 anos do especialista em restauro ficaram também assinalados com uma medalha comemorativa da autoria do escultor Joao Duarte.

De Reys Santos, António Valdemar recorda ainda a vontade constante de se actualizar e aprender. Fez diversos cursos na Europa e nos Estados Unidos também. “Foi colega de Júlio Pomar, Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas. Foi uma pessoa excepcional, de uma bondade, integridade e competência enorme”, atestou o presidente, lembrando a entrega de Reys Santos em 1967 quando as cheias em Lisboa atingiram o espólio da Fundação Gulbenkian. “Ele teve 3 anos fechado a restaurar as obras todas. Foi uma das melhores pessoas que conheci."