Sexo cabeça

Posted on 11/06/2011 by UNITED PHOTO PRESS MAGAZINE


Uma exposição do cacete. É esse o resumo de quase três horas perambulando pela mostra "Em Nome dos Artistas", em Sampa. Já nos primeiros passos pela mostra coletiva, o inglês Damien Hirst exibe sua referência bíblica na obra "Adão e Eva": dois corpos cobertos por um pano, em mesas de cirurgia, isolados em caixas de vidro.

Um em frente ao outro. De perto, os corpos não estão tão cobertos quanto imaginam as mais pudicas mentes. Dois rasgões no tecido revelam os sexos feminino e masculino com seus pelos e cores. De uma realidade surpreendente. Dois sexos mortos.

Mas você só vê a nudez de Damien Hirst se quiser. Os textos alertam, antes de você s se meter na sala, sobre a faixa etária indicada: maiores de dezoito de anos.

Os punhados de avisos norteiam os pais com seus rebentos. Num outro momento, em dois grandes quadros, o estadunidense Jeff Koons homenageia sua ex-mulher, a ex-atriz pornô Cicciolina.

Na primeira tela, a loiraça húngara Cicciolina surge encarando o público, com um olhar profundamente intenso, enquanto pratica sexo oral no artista. A tela, de tão real, mais parece uma fotografia.

Na segunda, Koons está penetrando sua ex, em pé, enquanto a beija de uma forma delicada. Engraçado é assistir o grupo de seis senhoras prestes a entrar na sala proibida. Transformadas em voyeurs, as velhinhas penetram serenas, mas logo abrem um sorriso, cochichando, quase em êxtase.

E cruzam as obras, quase sem graça, perturbadas, olhando de soslaio, como se presenciar o sexo do artista fosse atear fogo num índio no centro da cidade. O grupo de velhinhas ligeiramente constrangidas corre para ver o nome de Koons, identificado apenas do outro lado da sala.

Há cheiro de sexo a cada quinze minutos, em cada um dos três andares do pavilhão em que a mostra está instalada. Enforcados, nove homens – desenhos deles – estão pendurados com seus pênis à mostra.

A delicadeza do desenho, marcado por uma série de cores quentes, contrasta com a violência do conteúdo. Uma sutil ironia, instalada próxima de uma estátua de um homem nu e de um parto inusitado, com duas pernas abertas saindo de uma parede, parindo a perna de um homem, cabeluda, com um sapato.

Além do sexo

Nas obras para menores, uma projeção intrigante de Paul Chan dá uma ideia do que é o fim do mundo. Projetadas no chão, as imagens, em preto, exibem o solo se abrindo, o poste de luz, que treme, afundando junto com a terra, estilhaços de objetos voando, carros destruído, corpos humanos se jogando... é o caos, o fim do mundo, e a possibilidade de presenciar os últimos momentos. Sombras que aterrorizam dão um frio na espinha, passando pelas suas costas sem aviso prévio.

A mesma sensação de estranhamento vem das "Mil Cabeças", de Mike Bouchet. Espalhadas pelo chão, as cabeças te encaram enquanto você anda entre elas. Alguém sempre está te vigiando, atento aos seus passos.

A obra, nesse sentido, pode ser lida como uma metáfora do sujeito contemporâneo, que escancara sua rotina nas plataforma sociais – você sempre será vigiado – e dá ao público a sensação claustrofóbica,de ser notado por desconhecidos.

Rica em meter espanto – com ou sem sexo – e gozar o corpo humano, "Em Nome dos Artistas" é uma mostra do cacete.

Em São Paulo
Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Pavilhão da Bienal), Parque do Ibirapuera, Portão 3. De terça a domingo, das 9 às 19h, e quinta-feira, das 9 às 22h. Fechado às segundas.