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Entrevista com Daniela Lavra - Questões da pintura
Posted on 11/04/2011 by UNITED PHOTO PRESS MAGAZINE
Curadora Daniela Labra
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Gostaria que você falasse sobre esses "altos e
baixos" da produção pictórica.
A "Morte da Pintura" é um termo
que tem a ver com a decretação do possível esgotamento dessa prática frente às
experimentações formais e conceituais possibilitadas por diversas mudanças do
entendimento acerca da arte, que são propostas por artistas e pensadores no
início do século XX. Desde então a pintura, até hoje compreendida como obra de
arte ´a priori´ (quando vemos uma pintura, sabemos que "é" uma obra de arte,
independente de suas qualidade plásticas, estéticas), tem sido tratada com amor
e ódio por artistas que insistiram na pesquisa pictórica, e por outros que
simplesmente chutaram a velha prática consagrada desde o renascimento como
plataforma nobre para a representação de cenas mitológicas, bíblicas, épicas,
políticas, aristocráticas, entre outras. Se examinarmos rapidamente os períodos
da arte nos últimos 100 anos, iremos constatar que os "altos e baixos" da
pintura também estiveram de acordo com oscilações do sistema da arte moderno, o
qual vai se complexificando ao longo do século XX. Podemos associar a dita morte
da pintura a momentos em que o experimentalismo com outros suportes e as
discussões acerca da representação na arte estiveram mais
prementes.
Qual o lugar da pintura na arte
contemporânea?
De certo modo, acho que estamos vivendo esse
momento de retomada da produção pictórica após muitas experimentações formais e
temáticas nos anos 90 (que veio após o boom da pintura pop e pós-expressionista
dos anos 1980). O mercado de arte e a arte compreendida como "commoditie" é algo
que está muito forte atualmente, e me parece que a pintura nesse contexto, sendo
ela uma forma de arte mais convencional, ganha destaque nas galerias. Por outro
lado, é interessante como artistas contemporâneos traduzem sua visão de mundo
nesse suporte tão clássico. Ao mesmo tempo, a pintura se apresenta como mero
suporte de transposição de imagens, de grafismos sobre tela, que nada tem a ver
com uma discussão sobre a própria pintura, posto que o formato é "vendável". E o
mercado está cheio disso, especialmente quando se trata de algo aparentemente
despretensioso de conceito, como é o caso da produção de ´street art´ em geral,
que sai da rua e vai para uma tela com chassi do mesmo modo que iria parar numa
camiseta. É claro que há artistas excelentes que saíram das ruas, mas o trabalho
deles se torna realmente interessante, como pintura, quando se dão conta que
estão fazendo pintura - com toda a carga histórica desse suporte - e não apenas
grafismos sobre tela.
A pintura contemporânea surge como
contraponto em relação à arte moderna ou como resíduo de uma
continuidade?
A pintura contemporânea, como prática artística,
tende a ser colocada no mesmo patamar da videoarte, da fotografia, dos objetos,
entre outros. Não do ponto de vista formal, claro, mas do ponto de vista de que
não há mais uma hierarquização de práticas, de acordo com a crítica. Já para o
mercado, a pintura e a escultura únicas e originais, sempre serão mais valiosas
do que um desenho em papel ou uma fotografia com tiragem
limitada.
Será que a pintura contemporânea esta fincada no
presente sem ter projetos futuros?
O futuro da pintura vai
depender da trajetória de cada artista como individuo. Não há uma "verdadeira"
pintura nem um "movimento pictórico" contemporâneo. É o artista que deve cuidar
de sua trajetória, independente de sua pesquisa artística, e disso vai depender
o futuro de sua obra. Se ela perdurará ou não.
Em 2009, você
desenvolveu a curadoria da exposição "Investigações Pictóricas". Como foi essa
experiência? De que forma você desenvolveu o diálogo com as obras
expostas?
Desde 2003, desenvolvo projetos relacionados a
formatos menos convencionais como intervenções urbanas, performances e obras
interdisciplinares, e discutir pintura numa exposição foi a possibilidade de
pesquisar um pouco mais o assunto. A exposição ocorreu no MAC de Niterói, sob a
direção de Guilherme Bueno, e reuniu sete artistas. O foco estava na diversidade
temática e formal das obras, e pretendeu um recorte despretensioso da produção
atual e das pesquisas possíveis. Assim, tínhamos obras quase escultóricas, em
suportes tridimensionais, e também grandes pinturas que se aproximavam mais de
uma noção clássica de pintura figurativa.