Artista constrói escultura com gigantes letras de ferro semelhantes às usadas para marcar animais

Posted on 10/26/2011 by UNITED PHOTO PRESS MAGAZINE



Ao pensar na produção de José Paulo, a cerâmica é o primeiro material que nos vem à mente. Mas o artista plástico pernambucano de trajetória consolidada arriscou uma retomada de novas formas de expressão para a exposição Para nunca mais me esquecer, inaugurada nesta quarta, às 19h, no Centro Cultural Correios. Com curadoria do crítico de arte carioca Marcelo Campos, a mostra traz seis trabalhos de José Paulo, onde os tons ocres do barro se fazem presentes, porém não são o único caminho, como se comprova em desenhos, pinturas, esculturas.

Numa estante de grandes proporções, tipos móveis em alto relevo são posicionados ao contrário, como numa placa tipográfica, de modo que as letras cunhadas no barro formem a definição da palavra dor, retirada do dicionário. “A cerâmica é um vício, e a ele me dediquei durante uns dez anos. Mas resolvi retornar a outros conhecimentos, que trago comigo desde minha formação como artista”, admite José Paulo, que escolheu uma escultura para batizar a exposição. Para nunca mais me esquecer é representada por um alfabeto com ferros de marcar animais, ampliados para a grande escala, pondo em xeque a capacidade de ferir e deixar cicatrizes.

Marcelo Campos destaca a possibilidade de materialização da obra de José Paulo, ao abordar conceitos como o da dor. “A escrita é domesticação, embora não queira dizer nada perto do que se sente. Cabe à arte nos apontar estes vínculos”, ressalta Campos, lembrando que as criações do artista se potencializam ao fazer refletir sobre a noção de propriedade ou o ambiente da literatura de cordel ou das olarias, numa interpretação que foge da obviedade.

A exposição se divide em duas salas. Numa delas estão pinturas pequenas e a escultura e o painel. No outro espaço, cinco mesas com carimbos siameses, num jogo de opostos com palavras como caos e ordem; ou cópia e original; esculturas feitas com hastes de máquina de escrever superdimensionadas e ainda três desenhos em grafite sobre papel. Retratam ícones da beleza ocidental com seus narizes mutilados (Grace Kelly, Brigitte Bardot e Liz Taylor). Motivados pela fotografia de uma jovem afegã que estampou a Time, que teve o nariz arrancado pelo marido. “O que desejo questionar é a relação do homem com a natureza. Não tenho as respostas, mas trago isso para minhas preocupações estéticas, pois a humanidade está caminhando numa velocidade descontrolada, sem qualidade de vida”, alerta. 

Saiba mais:
José Paulo e Marcelo Campos se conheceram em 2009, quando o artista foi convidado a expor na 10ª Bienal de Havana, em Cuba.

A escultura-título da mostra, Para nunca mais me esquecer, não é inédita. Integrou a mostra Tripé Escrita, no Sesc Pompéia, em São Paulo, em abril do ano passado, quando José Paulo expôs ao lado dos também pernambucanos Juliana Notari e Delson Uchoa.

Até 29 de outubro, José Paulo expõe no Centro Cultural Correios, no Pelourinho, em Salvador, na Bahia, a mostra Retratos e autorretratos, que já foi vista no Recife, na galeria Amparo 60.

O artista, nascido em 1962, é graduado em Arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Entre os momentos marcantes do barro na obra de José Paulo, estão a mostra Repetir (2005), na qual ele criou um tapete de tijolos maciços, e Quimera (2003), instalação no Mamam.

Serviço
Exposição Para nunca mais me esquecer
Onde: Centro Cultural Correios (Av. Marquês de Olinda, 262, 4º andar, Bairro do Recife)
Quando: Abertura nesta quarta, às 19h. Visitação até 25 de dezembro. De terça a sexta-feira, das 9h às 18h; sábados e domingos, das 12h às 18h
Informações: (81) 3224-5739
Entrada gratuita

Tatiana Meira