Mostra coletiva entra em cartaz no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça

Posted on 7/07/2011 by UNITED PHOTO PRESS

Pintar não é pecado nem demodé. Muita gente gosta e faz. E já ficou velho falar em morte da pintura. Parece que a técnica está sempre à beira do abismo, o que é bom motivo para ser sempre salva, recuperada, reabilitada e arrancada da depressão. A mostra Pintura reprojetada é uma tentativa feliz de um desses resgates. O curador carioca Marcus Lontra foi buscar no modernismo as referências para montar a exposição que inaugura hoje no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça. A pintura funciona como tema ou técnica na prática de Alvaro Seixas, Flávia Metzler, Hugo Houayek, Lucia Laguna e Rafael Alonso.

Lontra classifica os artistas como destemidos por não hesitarem em trabalhar com referências modernistas. "Sempre me interessou investigar qual o limite tênue entre o modernismo e a contemporaneidade. Esses artistas representam um tipo de olhar muito importante que é a retomada sem culpa da herança modernista", explica o curador. "A gente tem tendência em achar que o contemporâneo é deixar tudo para trás e fazer uma coisa nova. Isso também é contemporâneo, mas se apropriar de determinados referências que também fizeram nossa história é tão contemporâneo quanto qualquer outra coisa."

Lucia Laguna, uma carioca cujo trabalho ganhou projeção nos últimos cinco anos, admite ser uma herdeira do movimento modernista, embora nem sempre soubesse disso. A artista começou a pintar aos 54 anos, depois de se aposentar como professora. Descobriu que podia traduzir para a tela a arquitetura precária do Morro da Mangueira que visualizava todo dia da janela do apartamento no Rio de Janeiro. Os elementos construtivos tomaram forma em pinturas cuidadosamente desorganizadas, uma matemática muito precisa e espontânea que Lucia, hoje com 70, cultiva há anos. "A questão urbana e construtiva virou um tema. O que me fez tomar esse caminho é o fato de morar bem em frente ao morro. Fui passando um crivo e trazendo para a questão da pintura", avisa.

Para Hugo Houayek o questionamento pode ir além da combinação entre tinta e pincel. O trabalho desse carioca é uma possibilidade de pintura. Com plásticos coloridos, espumas e objetos do cotidiano ele monta as obras que ficam no limite entre a instalação e a escultura. "Minha pesquisa é elaborada pensando o campo pictórico como se fosse um território. Assim, começo a pesquisar as fronteiras da pintura com a escultura, com a instalação, com o cinema. Fico na área de confronto tentando entender onde acaba a pintura", explica. A intenção é enfrentar a rigidez de conceitos modernistas que delimitam as fronteiras da técnica. Materiais alheios à pintura aparecem ainda nas paisagens de Rafael Alonso. Eventualmente, as tintas estão presentes, mas o artista gosta de acrescentar linhas e fitas e criar uma certa ironia na junção de materiais.

Já Flávia Metzler não explora conceitos, mas significados. A artista - única figurativa da exposição - parte de uma brincadeira. No Google, ela faz uma busca de imagens para expressões filosóficas e referentes à história da arte. Se a pesquisa resulta em objetos, Flávia os pinta. "Tento estabelecer relações entre significantes e significados", avisa. "É uma tentativa de estabelecer novas relações, como criar novos códigos. E a pintura é o que estabeleci desde o início." A figuração de Flávia é o contrário da total abstração de Álvaro, que faz alusão à iconografia modernista ao propor um grafismo meio pop.