Soren Dahlgaard apresenta seus trabalhos que incluem até ação de voluntários

Posted on 3/02/2011 by UNITED PHOTO PRESS



Dahlgaard: “Sou como um homem das cavernas,
não falo e enquanto estou fazendo a performance
estou agindo”
Quando o dinamarquês Soren Dahlgaard começou a fazer arte, há quase uma década, ficou preocupado em não repetir ideias. Concentrado na originalidade — qualidade que ele sabe ser impossível de alcançar mas não se cansa de perseguir — arquitetou a costura entre diversas técnicas e conceitos que permeiam a história da arte para criar um misto de performance, pintura e escultura.

Parte desses trabalhos já passaram por instituições como Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, e Tate Modern, de Londres. Há duas semanas, Dahlgaard desembarcou em Brasília para montar uma versão local de suas instalações. O que se verá a partir de hoje no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco) é apenas o fim de um processo iniciado com intervenções e colaborações de voluntários locais.

A exposição A beleza do caos: pintura expandida começou a tomar forma quando o artista convocou voluntários para figurar em duas séries de retratos. Para os Dough portraits, fotografou 200 brasilienses cujos rostos foram devidamente cobertos com uma molenga massa de pão. Retratos figuram entre os temas nobres da história da pintura e Dahlgaard quis dar à prática um aspecto divertido e questionador. “Quando você olha parece mármore, ou gesso. Mas é uma massa e ela faz um negativo do rosto, está sempre se movendo. Cada foto é fruto de um relacionamento meu com uma pessoa”, explica o artista, que compara o processo à confecção de uma escultura. “Todo mundo tem uma identidade e quando você olha os retratos normalmente olha direto para o rosto. Se cubro o rosto, você precisa olhar para algo mais, algo que você conhece muito bem de forma diferente. Por isso é muito importante que as mãos apareçam, elas se tornam muito expressivas quando você cobre o rosto.”

Dalghaard chama os retratos de escultura-action, uma referência ao movimento action-painting que mudou os rumos da pintura nos anos 1950 ao sobrepor a importância da abstração e do gestual à composição racional. Em outra série, ao invés de massa, são litros de tinta que escorrem pelas faces dos voluntários. Além dos retratos, o público poderá conferir o vídeo que documentou o processo de registro das imagens. Outra parte do trabalho consiste numa performance realizada pelo próprio artista travestido de guerreiro. Paramentado com uma armadura construída com pães, Dalghaard sai de uma caverna — também confeccionada com pães — montada no meio da galeria.

Energia

A performance consiste em se lambuzar de tinta e saltar uma série de obstáculos. As marcas da ação ficam impressas nas superfícies brancas e a energia despendida faz da ação uma furiosa entrega às tintas. A atitude enérgica de se jogar contra as superfícies resulta em manchas desordenadas. Dalghaard se transforma em um gigante pincel humano. “A pintura é a técnica mais antiga da história da arte e todos os artistas pintam. Nunca pintei, mas queria lidar com a pintura porque ela é parte da história. Então criei minha própria técnica. Sou como um homem das cavernas, não falo e enquanto estou fazendo a performance estou só agindo. É também um reflexo de um artista frustrado.” Além do próprio corpo, o artista também utiliza galhos para espirrar a tinta nas paredes e intitula as obras conforme os suportes, os movimentos e os objetos. Assim, escolhe títulos como Slide painting, Landscape painting, Hedge painting e The hurdler paintings. “Quero fazer algo que seja interessante hoje, não quero fazer algo que já foi feito. Quero dar um próximo passo, ter uma boa ideia original e levar as coisas adiante”

O “pincel humano” no qual o dinamarquês se transformou no último final de semana deixou rastros por toda a galeria e ainda imprimiu um colorido vibrante no ficus plantado em frente ao Ecco. “Ele é um artista completo”, avalia Karla Osório, curadora da exposição. “A questão do pão tem a ver com a origem da vida. Todo esse trabalho é permeado pelo trigo. O pão também discute a questão da identidade dele como artista e com o público. Tudo isso se transforma quando ele se traveste de pão.” No total, Dalhgaard utilizou mais de mil baguetes para construir sua caverna e armadura.

Pintura X perfomance

“Quero colocar junto action-painting e performance. Eu venho da escultura, não sou pintor. E da arte conceitual. Como pintar sem o pincel? Onde está a arte? Na tela? No vídeo? Na instalação toda? A ideia é que é importante, é mais importante que a técnica. É uma arte na qual você pode ver o que acontece. Frequentemente as performance são muito sérias, muito entediantes. Por isso pinto a paisagem, não há telas. Muitos pintores trabalham com a ilusão da representação sobre a tela. O meu é muito mais real.”

Escultura

“Gesso, bronze e madeira têm uma longa tradição na história da arte. Se você acorda de manhã e diz quero fazer uma boa peça de gesso você já tem uma longa história de obras de muito bom gosto já feitas. Precisa ter uma boa razão para fazer algo e conseguir não ficar repetindo o que já foi feito. Os materiais de escultura têm anos e anos de uso, então tento fazer outra coisa. O material da minha escultura é muito problemático, não é fácil de fotografar. Minha escultura se torna fotografia e vídeo. A foto é uma espécie de escultura. A escultura é tridimensional e o tempo é a quarta dimensão. Então há uma narrativa acontecendo no cenário que crio, há sempre uma história. E há um tempo na foto e um tempo no vídeo.”

Maneiras de ver

“A coisa fundamental na minha arte é tentar encontrar novos caminhos. E isso sugere que as coisas que você conhece podem ser diferentes. No meu trabalho quero dar uma visão diferente do que podem ser os objetos que as pessoas já conhecem.”