ARTE CONCEITUAL - INTRODUÇÃO

Posted on 1/29/2011 by UNITED PHOTO PRESS

Final da década de 1960.
“A própria ideia, mesmo se não é tornada visual, é uma obra de arte tanto quanto qualquer produto”, disse o escultor Sol LeWitt, que deu nome ao movimento.

“É qualquer coisa que não seja pintura ou escultura, que enfatize o pensamento do artista e não a manipulação de materiais.”

"Um cego pode fazer arte se o que estiver em sua mente puder ser transmitido para outra mente de forma perceptível", Sol LeWitt.

I – DADOS CRONOLÓGICOS:

Em 1969, acontecem três exposições que marcam o nascimento da ARTE CONCEITUAL: “Conceptual Art”, “No Object (Leverkusen)” e “Live in your head – whwn actitudes become form (Berna)”.

“A pintura morreu”, proclamava o mundo da arte no final dos anos sessenta e começo dos setenta. Não só a pintura, mas a escultura também, na opinião de um grupo chamado: Artistas Conceituais.
A Arte Conceitual recorre frequentemente, ao uso de fotografias, mapas e textos escritos (como definições de dicionário). Em alguns casos, como no de Sol Lewitt, Yoko Ono (grupo Fluxus) e Lawrence Weiner, reduz-se a um conjunto de instruções escritas que descrevem a obra, sem que esta se realize de fato, dando ênfase à ideia no lugar do artefato. Alguns artistas tentam, também, desta forma, mostrar a sua recusa em produzir objetos de luxo - função geralmente ligada à ideia tradicional de arte - como os que podemos ver em museus.

Sua ênfase durou até os anos 80, porém é muito praticada até hoje.

II – CARACTERÍSTICAS:

Qualquer ato ou pensamento pode ser considerado Arte Conceitual.





A arte deixa de ser o objeto tradicional, a materialização da ideia, para transformar-se na concepção que o artista tem da arte.


“As obras de arte são pouco mais que curiosidades históricas”, disse Joseph Kosuth e esse desenvolvimento era apenas parte de uma tendência chamada “desmaterialização da arte objeto”.

Se uma ideia criativa é fundamental para a arte, produzir um objeto concreto provocado pela ideia é supérfluo. Portanto, a execução é algo mecânico e pode ser desenvolvido com mero exercício; o problema é a ideia do pensamento que pode ser estrito entre o objeto e a palavra (história, texto ou narração, que deve ser expresso através de uma única ideia).
A ARTE CONCEITUAL reside no conceito essencial, não no trabalho real; trabalha os estratos profundos até então apenas acessíveis ao pensamento; às ideias e aos conceitos.
Ela não representa, não exprime, rejeita todos os códigos anteriores, a ponto de alguns críticos proporem uma nova periodização para a história da arte contemporânea: pré-conceitual e pós-conceitual. Afinal, os Minimalistas varreram da arte a imagem, a personalidade, a emoção, a mensagem e a produção manual e os Conceitualistas deram um passo além e eliminaram o objeto.

Além disso, os artistas conceituais reivindicaram uma nova relação entre arte e texto, usando mensagens verbais e escritas como a própria obra de arte.
Em 1961, o artista Piero Manzoni provando que tudo pode virar produto e ser vendido, defecou em 90 latinhas e as etiquetou com o texto “Merda d´ Artista” ( Merda de Artista). Detalhe: todas as latas foram realmente comercializadas. Já Sol LeWitt, dizia que os conceitualistas eram misteriosos e não podiam ser alcançados pela lógica.





“Isto é arte!” Situar nessa esfera como ideia central e expressá-la por meios e métodos, isto é, estarmos no domínio conceitual

Como o espectador tem que ter intelectualidade para entender esse tipo de arte e, como existe uma preguiça em pensar, é muito mais fácil dizer que: “Isso não é arte”. Como se o artista te chamasse de ignorante. Mas, na verdade, ele quer que você pense.

“A arte ajuda a respeitar os outros; as diferenças; os preconceitos e às pessoas preferem dizer que aquilo não é digno de sua atenção. Você acaba satirizando as coisas feitas pelos outros, mas o ignorante é você, que não as entende.”

“Eu faço e alguém executa”. O conceito de propriedade é intelectual (a ideia é autoria própria) e ela está inteiramente apoiada no texto.

O ato de conceber vem do conceito (algo concedido na mente e fruto de operações mentais). Começa-se pensar em conceito através da escrita (palavras) e esses conceitos, são abstrações que pertencem ao individual, pois cada um tem seu próprio conceito.

O conceito não é verbalizado, senão precisaria de outras palavras para existir.

A Arte Conceitual possui uma relação estreita entre o título e a obra, porque dela depende a interpretação que aí está. Por exemplo, a imagem do fogo ou da água. A forma de induzir esse pensamento pode ser qualquer uma (pintura, foto, música, performance) forma, porque a execução não é importante e sim a operação de pensar.

Surgiu no auge do movimento contra cultural (meados dos anos 60) e esse movimento, define-se contra tudo o que é estabelecido; portanto, revolucionário.

Começou a explosão com o Minimalismo (caixotes como obra de arte; produtos industrializados e executados por muitos funcionários e não pelo artista, acarretando muitas despesas); mas, essa detonada não foi suficientemente forte como a Arte Conceitual, ainda que as pessoas não entendam do que se trata.





Algumas obras são feitas dentro do contexto social-histórico e em algum segmento da sociedade, dificultando o entendimento da mensagem. Não eram “coisas” específicas para uma geração e acaba virando uma arte hermética, pois relaciona com particulares e específicas e não, universais. Um artista, por exemplo, dá instruções por telefone aos operários de um museu para montarem uma obra, que o próprio “artista” jamais havia visto ou tocado. Trata-se de uma arte desafiante.

Na arte conceitual, o espaço teórico toma à frente a práxis; se antes havia ainda qualquer preocupação quanto à presentidade da obra, na arte conceitual o objeto, quando também material, é mero sustentáculo das relações pretendidas pelo artista. Pode-se afirmar que na Arte Conceitual é mais importante a teoria, as concepções intelectuais, que o estético em si.

Não há na Arte Conceitual, como consequência, qualquer dos valores tradicionais da arte: nem domínio técnico e/ou resultados estéticos. Ela pode repercutir apenas no plano social (contestatório), no plano intra-subjetivo, psicológico (com intenções liberalizantes), ou no plano intra-artístico (com intenções meta críticas), que suas funções originárias estarão satisfeitas.


“Frases sobre a Arte Conceitual”, de Sol Lewitt

1. Os artistas conceituais são místicos e não racionalistas. Eles saltam para conclusões que a lógica não pode alcançar.
2. Julgamentos racionais repetem julgamentos racionais.
3. Julgamentos ilógicos levam a novas experiências.
4. A arte formal é essencialmente racional.
5. Pensamentos irracionais devem ser seguidos absolutamente e logicamente.
6. Se o artista muda de idéia no meio da execução da obra ele compromete o resultado e repete resultados passados.
7. A vontade do artista é secundária em relação ao processo que ele inicia a partir da idéia até sua completude. Sua obstinação pode ser apenas ima questão de ego.
8. Quando palavras como pintura e escultura são usadas, conotam toda uma tradição implicam uma conseqüente aceitação desta tradição, assim estabelecendo limitações ao artista que ficaria relutante em fazer arte que vai além das limitações.
9. Conceito e ideia são diferentes. O primeiro implica uma direção geral enquanto que a última, seus componentes. As ideias implementam o conceito.
10. Ideias sozinhas podem ser obras de arte; estão em uma cadeia de desenvolvimento que pode eventualmente encontrar uma forma. Nem todas as ideias precisam ser concretizadas.
11. Ideias não necessariamente seguem uma ordem lógica. Podem apontar para inesperadas direções, mas uma ideia deve estar completa na mente antes que a próxima seja formada.
12. Para cada obra de arte que se concretiza há muitas variações que não se concretizam.
13. Uma obra de arte pode ser compreendida como um condutor que parte da mente do artista para as mentes dos espectadores. Porém, pode nunca alcançar o espectador ou nunca deixar a mente do artista.
14. As palavras de um artista para outro podem induzir ideias em cadeia, se eles compartilham do mesmo conceito.
15. Como nenhuma forma é intrinsecamente superior à outra, o artista pode usar qualquer forma, desde uma expressão por palavras (escritas ou faladas), até realidade física, igualmente.
16. Se palavras forem usadas, e ela procederem de ideias sobre arte, então são arte e não literatura; números não são matemática.
17. Todas as ideias são arte se estão relacionadas à arte e cabem nas convenções da arte.
18. Geralmente, entende-se a arte do passado através da aplicação das convenções do presente, assim, compreendendo de maneira equivocada a arte do passado.
19. As convenções da arte são alteradas pelas obras de arte.
20. A arte bem sucedida muda nosso entendimento das convenções por alterar nossas percepções.
21. A percepção de ideias leva a novas ideias.
22. O artista não pode imaginar sua arte nem percebê-la até que esteja completa.
23. O artista não pode ter, em relação a uma obra de arte, uma percepção diversa (entender diferentemente do autor) e, no entanto, isso pode desencadear nele uma cadeia de pensamentos relacionados a essa percepção.
24. A percepção é subjetiva.
25. O artista não necessariamente entende sua própria arte. Sua percepção não é melhor nem pior do que a percepção dos outros.
26. Um artista pode perceber a arte de outros melhor do que a sua própria.
27. O conceito de uma obra de arte pode envolver o conteúdo da obra ou o processo pelo qual ela foi produzida.
28. Uma vez estabelecida a ideia da obra na mente do artista e decidida sua forma final, o processo é desenvolvido automaticamente. Existem muitos efeitos colaterais que o artista não pode imaginar. Estes podem ser usados como ideias para novos trabalhos.
29. O processo é mecânico e não deve ser modificado. Deve seguir seu curso.
30. Há muitos elementos envolvidos na obra de arte. Os mais importantes são os mais óbvios.
31. Se um artista utiliza a mesma forma em um grupo de obras, e muda o material, pode-se presumir que o conceito do artista envolvia o material.
32. Ideias banais não podem ser salvas por uma bela execução.
33. É difícil estragar uma boa ideia.
34. Quando um artista aprende sua arte muito bem, ele faz arte refinada.
35. Estas frases são comentários sobre arte; mas, não é arte.