A Arte do Sagrado

Posted on 1/31/2011 by UNITED PHOTO PRESS

O Museu Metropolitano de Arte de Curitiba da Fundação Cultural de Curitiba possui um dos maiores acervos paranaenses. Ao todo, são cerca de 3.500 itens, de arte popular e indígena a objetos diversos, peças de artesanato e obras de arte, divididos entre as coleções: Andrade Muricy, Ben Ami, Cleusa Salomão, Jorge Carlos Sade, Mohamed, Poty Lazzarotto, FCC e Prefeitura Municipal de Curitiba.

Além de doações independentes, efetuadas por artistas que expõem naquele espaço ou outros locais da entidade. É preciso observar que qualquer item acrescentado ao acervo tem que antes passar por um exame técnico, que atesta a integridade das condições físicas da obra, tais como estado da camada pictórica, estado do suporte, etc. e por análise estético-artística efetuada pelos Conselhos do Acervo da Fundação Cultural de Curitiba.

Qualquer acréscimo quantitativo a um acervo é denominado aquisição, que se classifica sob quatro aspectos principais: aquisição por compra de obra de arte, aquisição pela doação de obra de arte, aquisição por comodato – que é uma espécie de empréstimo e aquisição proveniente de projetos feitos com o objetivo de aumentar o acervo na justa medida em que se preencham as lacunas, como as decorrentes da ausência de nomes importantes de artistas que deveriam já estar representados com obras nas coleções.
Nesta exposição, o Museu Metropolitano de Arte de Curitiba - MuMA, se reúne ao Museu de Arte Sacra da Diocese de Curitiba - MASAC, para apresentar obras de arte e peças relacionadas à arte religiosa. Normalmente, as obras do acervo do MuMA são expostas na sua própria Sala do Acervo. Entretanto, o local encontra-se em reforma, fato que contribuiu para a realização desta mostra em conjunto com o MASAC. Lá se pode ver uma pintura sobre papel de Dulce Osinski, uma pintura à óleo de Everly Giller, e três peças de arte popular, estas pertencentes à coleção Poty Lazzarotto.

Dulce Osinski, destacada artista paranaense, possui uma linguagem em que o gestual expressionista é utilizado em registros de acontecimentos que permeiam sua própria vida, ora como protagonista, ora como narradora. Por meio de traços sensíveis e nervosos, somados ao uso de cores vibrantes centradas no vermelho e azul, ela pinta uma figura estática num momento especial na vida da menina católica: a primeira comunhão. A ênfase do desenho desloca-se para os pés, os quais, visivelmente aumentados, sugerem uma base sólida de fé, ao mesmo tempo em que se constituem como uma camisa de força simbólica – grilhões morais que se tornam atuantes, a partir dali, por toda a vida.

A pintura intitulada “Anunciação - Zwiastowanie” de Everly Giller – nascida em Caçador, Santa Catarina, porém adotada por Curitiba – apresenta outro tipo de abordagem conceitual, e conseqüentemente, pictórica.. Daí, surge uma visão extremamente lírica, em que a tela mostra uma série de tonalidades de azul mesclada com verdes, que fascina pelo uso das cores e pela composição fantástica, onírica, de um universo que se complementa nele mesmo, girando numa bolha etérea de formas, estrelas, cometas, flores. Produto intelectual, além do artístico, a obra alude à ícones religiosos, à arte medieval e à lei áulica que determina o tamanho maior para a personagem mais importante: a Virgem Maria. As duas obras em cerâmica pintada, “Santa Eugênia” e “Santa com Menino Jesus”, apresentam similaridades de concepção e execução que apontam para uma única autoria, infelizmente desconhecida.
A arte popular, muitas vezes, não possui registro de quem a executou, como no caso destas peças provenientes do Vale do Jequitinhonha, no Estado de São Paulo. Elas mostram a delicadeza e riqueza das formas ingênuas, em que o sentimento religioso se volta para um trabalho detalhista, de difícil elaboração e extremamente atraente. A escultura em madeira intitulada “Oratório” também é anônima e não possui referência do lugar de origem. Entretanto, produto de um artista ínsito, ela é entalhada com elementos sintéticos que a elevam a um patamar de concentração de significados.

O aspecto “clean” e estrutural, longe de denotar ausências, vem acentuar o caráter forte, vigoroso e direto das formas simples. A tensão contida, que é a mesma empregada pelo entalhador durante a execução da obra, salienta a essência do tema.

O MASAC fica anexo à Igreja da Ordem no Centro Histórico de Curitiba e abre de Terça a Sexta e fecha às segundas-feiras.