Por que não visitamos galerias de arte?

Posted on 11/14/2009 by UNITED PHOTO PRESS


Prestem atenção ao assunto e, aliás, façam uma enquete junto aos familiares e amigos, sobre quem e quando costuma visitar uma galeria de arte da sua cidade. Faça, também, essa pergunta a você mesmo e verá que, salvo exceção, faz tempo que frequentou alguma exposição de pintura, escultura, alguma instalação e até museus e bibliotecas. Na verdade, uma pequena parcela de nós adquiriu o hábito de prestigiar esses eventos culturais, essas opções de entretenimento. O curioso é que, na maioria das vezes, esses espaços estão abertos ao público gratuitamente, constam das agendas culturais de todos os jornais de grande circulação de nossas cidades, estão bem localizadas e confortáveis, em fim, bem mais perto de nós do que muitas vezes percebemos.

Alguns fatores parecem ser determinantes dessa circunstância: a falta de uma adequada orientação, ainda na escola, de forma a aproximar o aluno desses espaços que, além de serem ótimos ambientes para pesquisa e aprendizado, estabelecem uma dinâmica lúdica e rica em signos e informações culturais. Outro fator é a dependência de uma prévia valorização do evento pelos canais de mídia de prestígio. Ou seja, visitamos aquilo que a mídia joga luz em cima, como se cultura fosse um mero objeto de moda passageira. Aqui, perdemos a oportunidade até de construir um olhar mais crítico que propicie uma melhor compreensão daquilo que a mídia nos mostra no dia a dia. Mas, há uma coisa que temos receio de reconhecer como fator de desestímulo ao programa cultural: o medo do desconhecido.

 Essa dificuldade da qual qualquer ser humano padece ganha corpo à medida que não recebemos adequada orientação sobre do que realmente trata cada um desses espaços. Parecem lugares proibidos, onde circulam pessoas que falam uma língua diferente da nossa, vestindo roupas pouco convencionais, tratando assuntos, digamos, “papo cabeça” demais e que, ao menor vacilo, estaremos à beira da humilhação, do mico, de uma quase vergonha por não sabermos nada ou muito pouco sobre o conteúdo da mostra, do evento. Relaxem. Quando muito, o artista ou curador – brincadeira minha – da exposição domina o tema em absoluto e, ainda assim, necessita da presença, impressão e expressão de um simples ou cativo olhar seu para sua obra.

Bem, que são lugares muito diferentes, isso são. Não temos nem como comparar um lugar desses com a praia, o estádio de futebol, o cinema, as casas de shows e mesmo o teatro – percebem quão diversos são esses ambientes? E tem mais que ser assim. A riqueza cultural decorrente da visita a uma exposição de pintura – por exemplo – está muito apoiada na opção de um olhar diferente, provocado, estimulado, de um encontro entre o artista e seu público, a crítica, especialmente quando nos conduz a outra dimensão intelectual e espiritual. O objeto artístico seja ele um quadro, escultura, uma música, o livro que está sendo lançado, o acervo de museus e bibliotecas, a magia de cores e movimentos cênicos do filme, da peça de teatro ou espetáculo de dança que, por alguns instantes nos desestabilizam e provocam, mas na verdade, dependem da nossa presença, do nosso olhar para cumprirem sua função estética. O mesmo se dá, também, quanto aos projetos de proteção ambiental que tanto nos aproximam da natureza e massageiam nossos corações.

Por outro lado, o sistema de vida ao qual estamos atrelados, que induz ao consumo do fastfood, dos descartáveis, pegue-leve, do tudo pronto e enlatado, parecido com a TV do dia a dia, deixa-nos inibidos diante de algumas necessidades. Vejam que, quando vamos ao jogo de futebol ou show musical, naturalmente, antes, buscamos informações sobre escalação de times, árbitros, histórico de resultados, assim como, das principais músicas, figurino e críticas recentes ao artista que queremos assistir. Então, o ideal é que busquemos nos inteirar de parte do conteúdo da exposição de arte, da biografia do artista e sua trajetória, do contexto de sua obra ou daquela parte dela, agora, aguardando por você. Verá que poderá usufruir muito mais da experiência, dialogará noutro nível e, com o tempo, terá o olhar exercitado e ávido por esse tipo de diversão. Sim, porque, a experiência cultural sempre diverte.

Então, fica o convite para saiam da frente da TV por alguns instantes e usufruam de infinitas opções culturais, com diversas linguagens visuais, sonoras e espaciais, algumas próprias da nossa cultura, outras, de estrangeiros que tanto nos ajudam a compreender melhor o mundo e a nós mesmos. Sozinho ou em grupo, de mãos dadas com uma boa companhia, com os filhos, às vezes com o próprio artista que expõe. Depois, um lanche, um drink, conhecendo o lugar, a comunidade, tão perto de nossas casas… Fica mais fácil, assim, de encontrar ou reencontrar o amor pela arte, pela vida, por alguém…