O Museu Reina Sofia de Madrid em época de mudanças históricas

Posted on 3/21/2009 by UNITED PHOTO PRESS

O diário espanhol El País, que dá a notícia, classifica a decisão como "histórica": a partir de finais de Maio, o Museu Nacional Rainha Sofia, de Madrid, passa a integrar e a mostrar obras anteriores a 1881; para tudo o que for posterior a 1960 ficam reservados dois andares da ala mais recente, a ampliação assinada por Jean Nouvel.

É um corte com a actual lei orgânica do museu, que estabelece a baliza no ano de nascimento de Pablo Picasso. E já se estão a criar sinergias: o Museu do Prado já pôs à disposição duas séries de gravuras assinadas por Goya - Os Caprichos e Desastres de Guerra. Se assim o desejar, Manuel Borja-Villel, o director do Reina Sofia que tomou posse em finais de 2007, prometendo uma era de mudança, está agora à vontade para as integrar como depósito nas colecções do seu museu.

Não é uma pequena mudança de estratégia, mais uma redefinição identitária de fundo: Borja-Villel deixou-se inspirar pelos modelos de associação livre de imagens do conhecido historiador alemão Aby Warburg (1866-1929) e, com a sua nova estratégia, quer contar "a história da arte a partir de Espanha" sem medo de anacronismos e confrontos.

Em vez de uma grande narrativa, um arquipélago de micronarrativas com o cinema e a fotografia a entrar em força: na nova vida do museu, 39 salas em seis mil metros quadrados vão seguir esta lógica idiossincrática, pensando-se, por exemplo, que o negrume de Goya deverá "explicar" a obra de Gutiérrez Solana, que Buster Keaton poderá "explicar" aspectos do cubismo e que as Três Figuras de Dalí fazem todo o sentido lado a lado com uma projecção de Un Chien Andalou, de Luis Buñuel.

Borja-Villel diz que é um modelo único: "Nenhum museu de arte moderna do mundo faz isto. Digo-o como facto objectivo", explicou à imprensa espanhola.

Precisamente, One Week, o filme de 1920 de Keaton em que uma casa se decompõe em vários planos sob a força do vento, surgirá lado a lado com pinturas ligadas ao cubismo, da mesma forma que La Guerre est Finie (1966), de Alain Resnais, surgirá como símbolo de um momento de ruptura histórico, anunciando as salas dedicadas à produção artística posterior a 1960, agora no piso térreo e no primeiro andar do edifício do museu assinado por Nouvel, em vez de no quarto andar do edifício antigo.

Nas palavras de Borja-Villel, esta era uma decisão incontornável: "Era necessário fazer um salto físico, de um edifício a outro, para marcar a distância, a ruptura que se segue aos anos 50, a década de ouro da arte espanhola, que podia ter sido e não foi".

Ainda segundo o director do museu, o novo plano de aquisições terá como objectivo essencial colmatar lacunas sobretudo no que toca às décadas posteriores a 1960. Recentemente, o museu comprou, por exemplo, três cabeças do escultor italiano Medardo Rosso, "vários Picabias, três objectos de Marcel Duchamp, um Tàpies e muita obra contemporânea".