Berlim: capital cultural da Europa e do mundo

Posted on 7/06/2008 by UNITED PHOTO PRESS

Discussão antes do jantar: Berlim é a cidade mais cultural da Europa? Você pode elaborar esse argumento, certamente, depois de caminhar em silêncio e sozinho através do majestoso Gemaldegalerie, parando por um momento diante do “Martírio de Santa Ágata”, de Tiepolo, para refletir sobre as agonias da fé. Você pode acompanhar os turistas maravilhados com o esplendor grego do Altar Pérgamo no museu que leva seu nome, ou sob sons de aplauso ao final da ópera “Tannhäuser” na (Staatsoper) Ópera Estatal de Berlim, ou ao ler Brecht no Tiergarten, o parque mais verde da cidade. Fato: Você pode ir a galerias de arte em Berlim durante uma semana inteira e não chegar nem à metade do acervo de um mestre. Você pode passar duas semanas vagando pela Museumsinsel e ainda deixar para trás alguns pintores românticos; pode passar uma vida no Bode Museum.

Foto: Oliver Hartung/The New York Times

Grafite em Prenzlauer Berg, na capital da Alemanha

De forma menos ambiciosa, você pode pegar um barco no canal ao longo do rio Spree e se encantar com a arte urbana de alguns dos mais famosos grafiteiros – Banksy, CBS, Kripoe – que deixam suas marcas. É uma viagem bonita. Você pode debater os méritos do Memorial do Holocausto da cidade, projetado por Peter Eisenman, um labirinto de placas altas de concreto.

Então você deve se dirigir ao glamuroso centro de uma cidade que foi testemunha tanto de horror quanto de glória, e fazer uma ótima refeição em um dos restaurantes.

Porque, realmente, onde há cultura tem que haver comida. Não precisa ser elogiada pelo guia Michelin. Tem de ser simplesmente boa, e deve ser bem servida e permitir a ampla e livre discussão sobre artes durante o tempo que você quiser.

Foi esse desejo que ocasionou uma viagem a Berlim esta primavera: um desejo de vagar entre as prostitutas que se acham artistas e comer lado a lado com os habitantes locais, falar sobre instalações de vídeo e conjuntos de trabalhos, críticos, prêmios do governo, sonhos das galerias, crimes das galerias – e comer animadamente.

O Grill Royal, em Mitte, o bairro mais central da cidade, oferece uma vista do restaurante que só uma cidade que tem dinheiro e espaço pode oferecer: um salão de jantar amplo e arejado acomodado em teto baixo, com mesas grandes e luz suave, lotado de artistas, curadores, negociadores, gente das galerias, novos executivos de óculos e inteligentes em ternos de três peças, gordos habitantes locais comendo bife irlandês, entrecosto francês, bife argentino.

A comida é excelente. Comece com ostras Fine de Claire provenientes da região de Marennes-Oléron no oeste da França, ao longo da Baía de Biscaia – de tamanho médio, frias e com um leve gosto de nozes. Tente uma salada do tamanho de um chapéu de cabeça para baixo, banhada em molho vinagrete suave e cremoso. Contemple os pratos de carne relvada e suave, grelhada e servida acompanhada de um molho picante, com deliciosas batatas assadas com um pouco de alecrim, um prato de espinafre puro cozido a vapor, outro de rodelas de cenoura levemente cozidas.

Para beber? Um garçom trouxe um Château de Beau Vallon de St. Émilion 2000 – um Bordeaux encorpado e feliz por estar na Alemanha divertindo com americanos. E o fez muito bem.

Há vários outros lugares para comer em Berlim enquanto se explora a cena artística. Para o café da manhã, você tem que ir para Charlottenburg, na região oeste, para tomar café e comer bolo no Café Wintergarten na Literaturhaus na Fasanenstrasse, antes de mergulhar na Springer & Winckler Galerie para ver as novidades (alguns Sigmar Polkes assustadores).

Você pode ir em direção leste para a Unter den Linden, talvez o boulevard mais esplêndido da cidade, para comer uma omelete saborosa com batatinhas e pedaços grandes de bacon no aconchegante e lotado Café Einstein, depois aventurar-se em um passeio institucional. A Unter den Linden abriga, entre outros, o velho Deutsches Historisches Museum, rosa, fascinante e um pouco assustador, cuja construção terminou em 1706, com os acréscimos delicados de I.M. Pei (que finalizou o trabalho em 2003). Há também a Staatsoper e o posto avançado do Guggenheim em Berlim, no piso térreo da sede do Deutsche Bank, onde algumas sofisticadas fotografias de Olafur Eliasson estavam sendo exibidas.

Foto: Oliver Hartung/The New York Times

Pedestre passa o anexo de I. M. Pei para o Deutsches Historisches Museum, em Berlim, em maio de de 2008.

Após uma omelete no Einstein, uma caminhada através do Brandenburg Gate e até o Reichstag não seria uma má idéia, nem que seja para fazer a digestão. Além disso, claro, há a absoluta magnificência da fachada do edifício, ainda com buracos de bala da época da guerra, que surge exibindo sua ampla base até a cúpula de vidro no topo, projetada por Norman Foster.

Depois, pegue o metrô para o Checkpoint Charlie, as galerias de Kreuzberg, e então o almoço. Os aristocratas da arte andam pela antiga Berlim Oriental como a realeza andaria em uma parte distante do seu domínio, pisando com cuidado sobre poças usando mocassins de camurça e saltos perigosos, passando por terrenos vazios cheios de vazio da guerra fria, grafites antigos, a penumbra do comunismo, em direção aos espaços cheios de luz de homens procurando parceiras. Muitos estão indo ao Sale e Tabacchi, um restaurante italiano perfeito na Rudi-Dutschke-Haus, chamada assim pelo líder do movimento estudantil de esquerda de Berlim dos anos 1960, que morreu em 1979, após ter sido alvo de um atentado mais de uma década antes.

Você obrigatoriamente vai lá. Mas antes absorva um pouco mais de arte.

São muitas as galerias no Kreuzberg, que se aproxima ao Chelsea tanto na densidade da arte quanto na força de mercado. O espaço de Max Hetzler é o lar de Berlim para Kara Walker, Thomas Struth e Bridget Riley, para mencionar alguns. Há também o marchand Claes Nordenhake, na Lindenstrasse, onde uma mostra de desenhos e colagens da artista sueca Ann Bottcher era exibida, e a Jablonka Galerie perto de Kochstrasse, onde as pinturas de Alex Katz estavam dispostas amplamente, bonitas. Também na Kochstrasse, Julius Werner tem um espaço térreo, onde as pinturas que se assemelham a grafites de A.R. Penck e as esculturas figurativas estranhas eram exibidas, em uma evocação a Nova York e aos anos 1980 ao mesmo tempo. O tipo de exibição que faz você querer fumar um cigarro.

Mas, em vez disso: basta. Pasta! O Sale e Tabacchi fica atrás de enormes janelas de vidro e um bar elegante, que se estica sob um teto imenso até um jardim no fundo. Peça uma vitela tonatto, um prato de ravióli à pasta de sálvia, pães macios, e um espresso para finalizar.

O Paris Bar ficava perto do centro da cena de galerias de Berlim Ocidental nos dias finais da guerra fria; sofreu um golpe doloroso com a queda do muro, quando o mundo das artes voou em direção ao leste para Mitte e o agitado Charlottenburg ficou adormecido, um lugar para o velho.

Foto: Olivier Hartung/The New York Times

Fachada do Paris Bar, em Berlim, fotografada em maio de 2008

Esse ciclo agora está voltando para o oeste, sendo o Paris Bar um importante beneficiado. O restaurante é reduto de artistas e marchands, talvez o mais importante do mundo das artes em Berlim. O cardápio é antigo e perfeito. E tem sopa de cebola francesa, com sabor intenso, e mais daquelas salgadas e maravilhosas Fine de Claires, além de uma salada de espinafre e bacon, com ovo poché com molho a base de leite. Há taças e taças de rosé, e entrecosto com molho béarnaise e batatas crocantes, pato à l’orange com cenouras, uma omelete macia de tomate e bacon. Familiar? Sim, é um bistrô, boêmio e correto quanto ao fígado de coelho sautée servido com uma salada brilhante temperada com endívia e iluminada com vinagrete. Só um provavelmente vai ser suficiente para a mesa: os coelhos na Alemanha, ao que parece, têm fígados enormes. Enquanto saía do restaurante em uma noite fria de Berlim, dois rapazes passavam diante do restaurante. Um deles parou; algo atraiu seu olhar. Ele apontou para um pôster pendurado na janela, anunciando a exibição de Jablonka, em toda a cidade.

“Ha, ha, Alex Katz”, ele disse, empolgado. Cidade das artes!

Onde comer
Café Einstein (Unter den Linden 42; 49-30-2043-632) é um café simpático e aconchegante próximo ao Brandenburg Gate, com excelentes ovos com bacon para combinar com o café forte. Gente das antigas irá lhe dizer que a localização original na Kurfurstenstrasse é melhor. Que seja: o café da manhã está por volta de 36 euros para duas pessoas.

O Grill Royal (Friedrichstrasse 105B; 49-30-2887-9288) é um restaurante chique especializado em carne em Mitte, situado na margem do rio Spree, perfeito para ser apresentado aos prazeres das ostras Fine de Claire. Continue com um bife grelhado e batatas excelentes, algumas taças de vinho, e você não sai do lugar por menos de 65 euros.

O Sale e Tabacchi (Kochstrasse 18; 49-30-2521-155) serve como um tipo de cafeteria elegante para os donos da galeria Kreuzberg e o pessoal do mundo das artes que realiza negócios com eles. Excelentes massas e saladas, acompanhadas de litros de água com gás, custam cerca de 20 euros por pessoa no almoço.

O Paris Bar (Kantstrasse 152; 49-30-313-80-52) é uma cantina artística agitada em Charlottenburg que serve comida de bistrô da melhor qualidade: excelentes bifes com batata frita, saladas brilhantes. A política de reservas é curiosa. Se você ligar de um hotel, o recepcionista pode dizer que o restaurante está cheio. Se você aparecer na porta sem avisar, no entanto, há chances de ser levado para uma mesa imediatamente. Jantar para dois, com muito vinho, custa cerca de 125 euros.

O que ver
Além do Museu Island, Unter den Linden e os museus do Kulturforum, o conjunto vibrante de galerias oferece dias de possibilidades. Os pontos altos incluem:

Na Max Hetzler Galerie (Zimmerstrasse 90-91; 49-30-229-24-37), uma elegante galeria perto do Checkpoint Charlie, há uma exibição da artista de instalação Mona Hatoum.

The Johann König, Berlin (Dessauer Strasse 6-7; 49-30-26-10-30-80), uma galeria ampla, esparsa e iluminada próxima a Potsdamer Platz, é o abrigo de verão para a exibição de Andreas Zybach.

A Springer & Winckler Galerie (Fasanenstrasse 13; 49-30-315-7220) é um espaço arejado acomodado em um quarteirão tranqüilo fora da Kurfurstendamm; uma exibição de desenhos e objetos de Andy Goldsworthy acontece até o fim de junho.

Finalmente, a Staatsoper, em Unter den Linden, oferece tours da casa e do palco no verão. A Companhia de Dança Martha Graham terá um stand lá a partir de 4 de julho.