E se o desenho lá de casa for um Rubens?

Posted on 3/14/2012 by UNITED PHOTO PRESS MAGAZINE

Muitas vezes os peritos levavam poucos minutos a avaliar a peça
(Rui Gaudêncio)
 
A Christie"s fez no Estoril uma avaliação gratuita de jóias, pintura e mobiliário. Encontrou um desenho que pode ser de Rubens. 

Pinturas, desenhos, jóias, esculturas em marfim e até instrumentos musicais. Vêm em sacos e mochilas, embrulhados em plástico, panos e papel de seda. Nalguns casos acabam de sair da parede da sala, noutros estavam há anos num armário. 

Na pequena sala do Hotel Palácio, no Estoril, onde a Christie"s fez ontem a sua primeira sessão pública de avaliação de peças em Portugal, os três especialistas da leiloeira britânica, uma das mais importantes do mundo, não tinham mãos a medir. Começaram a trabalhar às 10h e, em menos de uma hora, tinham atendido mais de 20 pessoas e identificado três itens que lhes pareciam interessantes: um relógio da marca suíça Patek Philippe com quase 100 anos e uma pintura e um desenho holandeses do século XVII. "Para darmos uma estimativa destas peças temos de fazer uma investigação mais aprofundada", diz ao PÚBLICO um dos avaliadores holandeses, Koen Samson, explicando que estas sessões são uma óptima forma de conhecer clientes. "O desenho não está assinado mas é bem possível que seja um [Peter Paul] Rubens." 

Para dar resposta a muitas das perguntas que tem sobre as duas obras holandesas ou sobre um violino que apareceu a meio da manhã, talvez um Stradivarius, Samson e os colegas fotografam as peças com luz natural e tiram notas pormenorizadas. "Não sou especialista em violinos e o facto de vir assinado não quer dizer que não seja uma cópia", explica ao potencial cliente. "A nossa perita está em Nova Iorque. Dentro de três semanas ligamos-lhe."

Muitas das pessoas que levaram peças preferem o anonimato ou escondem o apelido. António tinha uma gravura debaixo do braço; a pedido da mãe, João foi ao hotel com uma pregadeira que o avô ofereceu à avó e que deixou Bernadette de Bruijn, a leiloeira especializada em jóias e pratas, com vontade de a usar. 

"As pessoas querem saber o que têm em casa, mais por curiosidade do que por necessidade", diz Mafalda Pereira Coutinho, agente da Christie"s em Portugal desde 1996. "Com a crise, os pedidos de avaliações aumentam, mas o primeiro impulso é o de querer saber mais. As pessoas vêm na esperança de ter uma boa surpresa." No caso de Diogo Moreira, foi um tio-avô que lhe deixou o Patek Philippe dos anos 20 que cativou De Bruijn. As esculturas, cachimbos e porcelanas que levou também são herança de família, mas na maioria não interessam ao mercado internacional, explicou-lhe a avaliadora. Para o relógio e um anel com um brilhante, o caso já é diferente. Moreira considera vender algumas das peças e não põe de lado a hipótese de viajar para o fazer. 

Segundo Pereira Coutinho, na sessão da Christie"s, que tem por hábito convidar peritos portugueses e estrangeiros para fazer avaliações privadas, surgiram algumas peças que podem ser levadas à praça em Londres e Amesterdão, entre elas duas obras de Paula Rego e Vieira da Silva. Mas, para isso, o dono terá de decidir se, dado o valor estimado de venda e os custos de transporte, licença de exportação e margem da leiloeira, vale ou não a pena. A Palácio do Correio Velho, leiloeira portuguesa, fez já três sessões deste género em Guimarães, Coimbra e Braga e tenciona este ano cobrir mais capitais de distrito.

Lucinda Canelas