A nostalgia pelo bloco soviético presente em grande mostra em Nova York

Posted on 8/06/2011 by UNITED PHOTO PRESS

NOVA YORK, EUA — A saudade de um passado que, embora não tivesse sido precisamente cor-de-rosa, e os pesadelos e temores surgidos durante a experiência comunista na Europa, até a queda da União Soviética, são os eixos de uma grande exposição de arte moderna inaugurada nesta sexta-feira, em Nova York.
Mais de 50 artistas de 27 países da Europa do Leste e das ex-repúblicas soviéticas participam da mostra que ficará aberta até o final de setembro, no Novo Museu de Arte Contemporânea, situado em Bowery, sul de Manhattan.
A exposição recebeu o nome de "Ostalgia", uma derivação da palavra alemã "Ostalgie", que surgiu na década de 1990, para descrever um sentimento de pertencer e de nostalgia do período anterior ao colapso do bloco comunista.
"Combinando confissões privadas e traumas coletivos, traça uma paisagem psicológica, na qual indivíduos e sociedades inteiras devem negociar novas relações com a história, a geografia e a ideologia", explicam os organizadores.
Entre os trabalhos apresentados na mostra, espalhada por quatro andares, estão vídeos, esculturas, fotografias, pinturas, incluindo um espaço dedicado exclusivamente a contar a história desde o final da Segunda Guerra Mundial até a dissolução da URSS, em dezembro de 1991.
Uma das obras mais representativas do sentimento que perdura, depois da aventura comunista, é uma escultura do alemão Thomas Schütte (1954, Oldenburg) "Três homens de capacidade", que consiste em três personagens sombrios de rosto desfigurado e corpo formado por varas de aço.
Segundo o artista, estes três seres "representam os persistentes fantasmas do passado" que, "em vez de desvanecer ou reduzir, parecem ter-se tornado maiores e mais poderosos".
Outro artista, o ucraniano Boris Mikhailov (1938, Karkov), revela em suas fotografias a devastação econômica e também moral, causada pela queda do sistema comunista, com milhares de pessoas sem-teto, emprego e assistência médica adequada.
Mikhailov e sua série "Case History" são objeto atualmente de outra mostra organizada no MOMA (Museu de Arte Moderna) de Nova York.
A repressão daqueles anos está presente em muitos trabalhos de "Ostalgia", como se pode ver nas fantasias eróticas do "Álbum de Leningrado" de 150 páginas, desenhado aos 14 anos pelo russo Evgenikh Kozlov (1955, São Petersburgo).
A necessidade de reinventar-se é um outro eixo: o documentário "Dammi I Colori", do albanês Anri Sala (1974, Tirana), centra-se no projeto de renovação da capital de seu país pelo prefeito Edi Rama.
Consciente da importância da cor na vida cotidiana, Rama iniciou um amplo programa para pintar as fachadas dos tristes edifícios em bloco cinzentos, símbolo do comunismo, de modo a "transformar a cidade em local onde se quer viver, em vez de se estar condenado a fazê-lo".
"Ostalgia" também inclui, entre outras obras, uma filmagem sobre o desmantelamento de estátuas de Lênin, colagens com figuras e imagens emblemáticas do comunismo e um curioso dicionário, com todas as definições apagadas e substituídas pela palavra "Pain" (Dor).