Entrevista com GIJS BAKKER | á maneira flamenca

Posted on 12/23/2010 by UNITED PHOTO PRESS

Desenhou jóias nos anos 60, roupa em 70, mobiliário em 80. Em 90 fundou a carismática droog e fecha 2010 apresentando ao mundo o melhor que taiwan tem para oferecer. Espere: o melhor de Gijs Bakker ainda está para vir.

Como entrou no mundo da moda nos anos 60?
Não lhe chamaria moda. Na altura trabalhava em joalharia, de uma forma muito experimental. Jóias, roupa e objectos são familiares muito próximos entre si. Em 70 pareceu-nos – a mim e à minha falecida mulher – um passo lógico usar em roupas os mesmos conceitos que tínhamos desenvolvido para as jóias.

Porque fundou a Droog?
No fim dos anos 80, princípio de 90, o clima para jovens designers era muito difícil na Holanda. A indústria tinha fugido para países com produção mais barata, como Portugal, e não havia uma plataforma de trabalho. A Droog surgiu instruindo os jovens designers a mostrar o seu produto como peças de alto artesanato, e apresentá-lo em protótipo, sem esperar que a indústria viesse até eles. No início de 90, o Salão de Milão tornava-se cada vez mais um ponto privilegiado de contacto entre designers, produtores e compradores, e por isto era lógico levarmos os nossos talentos até lá, onde estava o poder internacional e comercial.

Porque abandonou a Droog?
É como um casamento: ao fim de 15 anos, por vezes, cansamo-nos. O atelier tornou-se cada vez mais comercial. Eu gosto de explorar novas direcções no design, tem sido sempre o meu desígnio, o meu desejo, a minha vida. Deixou de ter interesse para mim.

Como começou esta nova aventura com a YII?
Estive pela primeira vez em Taiwan em 2006, para executar um projecto para o Museu do Palácio Nacional. O Taiwan Craft Research Institute pediu-me ajuda para encontrar uma identidade unificadora para a fantástica produção artesanal, secular e tradicional, treinada nos adornos dos templos budistas que abundam em Taiwan. A ideia foi pegar nestes artesãos e nesta arte e dar-lhes um novo significado.

O que gostaria de desenhar a seguir?
Uma cadeira de escritório que verdadeiramente juntasse na mesma peça beleza e conforto.

Para onde adivinha que o design vai num futuro próximo?
Em 10, no máximo 15 anos, tenho a certeza que todos nós teremos em casa uma impressora 3D, ou seja, um dispositivo que permitirá executar uma peça real a partir de um desenho. Se der um jantar, desenha os pratos, os talheres e as cadeiras, carrega num botão e terá na sua impressora 3D os objectos como os idealizou. No fim da festa, entram num recipiente de reciclagem e a massa é usada para produzir novos objectos. Não está assim tão longe.


1. SHOULDER PIECE, colar, desenho de 1967, alumínio anodizado a verde e púrpura. 2. e 3. EXEMPLOS da aventura de Gijs em Taiwan, como director criativo da YII. Os objectos partem da produção da Ikea e graças à perícia dos artesãos e à sábia condução de Gijs transformam-se em peças de arte.

GIJS BAKKER, EM PRIVADO

Quais são os essenciais numa casa sua?
A minha casa está cheia de essenciais. Protótipos, produtos de colegas, mas talvez tenha um mais essencial que os outros: um conjunto de jardim do escultor britânico Tony Craig.

E o que nunca lá entra?
Muitas coisas, mas talvez destaque um jacuzzi – nunca ninguém desenhou um bonito. Prefiro nadar no mar.

João Galvão | máxima interiores