Flamenco

Posted on 7/31/2009 by UNITED PHOTO PRESS



Quando falamos de Flamenco temos, obrigatoriamente, de mencionar a Andaluzia e a forte mescla cultural e musical que teve lugar em Espanha ate ao século XVIII. Árabes, Judeus, Hindus, Sírios e Persas são apontados por diversos historiadores como influenciadores no desenvolvimento do que viria a ser chamado de Flamenco.
A partir do século XV, e depois da reconquista cristã da Andaluzia pelo Reino de Castela, o que hoje é denominado de Flamenco, sofreu fortes influencias, desta vez, pelos romances de Castela, entre as quais as “coplas” e as “seguidillas”, que ainda hoje se podem identificar nas diferentes formas do Flamenco moderno.
Na mesma época, a chegada dos ciganos europeus, provavelmente oriundos do Egipto, também ajudou à gestação do que é hoje conhecido como uma forma de arte por excelência. Depois de se estabelecerem no Sul da Península Ibérica, este povo deparou-se com o folclore Andaluz, que, aparentemente, assimilou e transformou de acordo com as suas raízes culturais, mudando a face desse mesmo estilo.
Foi a partir do século XIX que o Flamenco começou a dar os primeiros passos como um estilo distinto que passou do campo para a cidade, onde cresceu à noite em pátios, bares e “ventorros”, iluminado por uma lâmpada de óleo. Depressa, os espectáculos passaram a ser apresentados, regularmente, nos cafés, sendo o café “Los Lombardos”, em Sevilha, apontado como um dos pioneiros.
“El Planeta” foi um dos primeiros cantores de Flamenco profissionais de que há memória e não podemos, também, deixar de referir outro nome que ficou intimamente ligado a divulgação do Flamenco. Silverio Franconetti que depois de dedicar toda a sua vida a esta arte como intérprete, acabou por ser um dos grandes promotores do Flamenco do século XIX, inaugurando o primeiro café cantante Flamenco.

Mas o que é o Flamenco?

A origem etimológica da palavra Flamenco não é de todo consensual, havendo diferentes teorias. Por exemplo, a quem aponte para o facto de ter a ver com os próprios animais com o mesmo nome, devido à sua elegância. Também há quem defenda que, devido ao facto de ser o estilo musical dos fellah-mengu (campesinos mouros sem terra), se denominou de Flamenco.
Ou por estar intimamente ligado a cultura cigana e aos ciganos, também chamados de “flamencos”, em Espanha.
O Flamenco originalmente era apenas cantado (cante), sem acompanhamento, sendo o tradicional acompanhado por uma guitarra (toque), palmas, sapateado e dança (baile).
Actualmente, foram introduzidos instrumentos tais como o “cajon” (caixa de repercussão), com o intuito de dar mais vida ao Flamenco.
Este estilo musical pode dividir-se em três categorias. A primeira denominada de “Jondo” que é a forma mais tradicional. O Clássico, acompanhada de novas técnicas para a guitarra e dança, que consiste numa forma mais moderna. E o Flamenco Contemporâneo que além de misturar o “Jondo” e o Clássico, também engloba o Jazz e Fusion.
O Flamenco passou de uma forma de arte um pouco marginalizada por parte da sociedade, devido as suas raízes, a um ícone da cultura espanhola.

Actualmente, podemos mencionar como mais populares e importantes autores do estilo Flamenco, Paco de Lúcia e Tomatito (guitarra), Camaron de la Isla, Nina Pastori, José Mercê, Rocio Marquez e Cármen Linares (cante), Ojos de Brujo (flamenco contemporâneo).

Entrevista com Alfredo Mesa (guitarra)

NRG: Fala-nos um pouco da historia do Flamenco na tua vida?

AM: Tudo começou com 7 anos numa “rondalla” (grupo musical), onde aprendi o folclore próprio da minha terra, tal como as “alboreas”, “cachuchas”, “la mosca” e o “fandango de Albaicin”. Pouco depois, juntei-me as “juventudes musicales”, onde aprendi a tocar guitarra a um nível elementar (4 anos), e nível médio (6 anos). No entanto, estes estudos foram realizados com uma guitarra clássica porque na altura ainda não existia a especialidade de guitarra flamenca no conservatório. Nesta altura conjugava concertos de flamenco com o gosto pela linguagem instrumental da guitarra.
Entretanto, em Córdoba, chegou finalmente a oportunidade de tirar uma licenciatura de guitarra flamenca, oportunidade essa que agarrei sem hesitar visto ser o que ambicionava há já bastante tempo.
Ou seja, se juntar todos estes anos de aprendizagem, levo já 14 anos só a estudar guitarra.

NRG: E o que significa para ti tocar e porque começaste?

AM: Para mim, Flamenco é uma forma de vida, é uma droga que me alimentará até ao dia da minha morte. É a música que me acompanha desde pequeno e que me seduz pelo seu ritmo, pela sua tonalidade e pelo seu selvagismo.
Quando comecei, era apenas um hobbie mas pouco a pouco tornou-se em algo mais. Desde pequeno, com cerca de 4 anos, costumava pedir pelas portas com um vizinho meu, eu com uma guitarra de plástico e o meu amigo com um acordeão. E pelo natal, sempre pedia uma guitarra como presente.

NRG: O que sentes quando tocas?

AM: Quando toco sinto um alivio tremendo, é como quando alguém tem algo para dizer e só descansa quando deita tudo cá para fora. Transporta-me a um lugar onde estou muito “agusto”. E, nesse lugar, tenho tudo o que necessito.

NRG: Quais as tuas influencias?

AM: As minha influencias são Paco de Lúcia, Manolo Sanlucar, Riqueni e, sobretudo, Camaron de la Isla.

NRG: Que projectos tens em mente?

AM: Como referi antes, acabo de me licenciar em guitarra flamenca, algo que desejava há muito tempo. De resto, tenho uma agenda repleta de concertos, não só em Espanha como também fora, nomeadamente em Portugal, e acima de tudo estar de bem com os meus, comigo mesmo e com os meus amigos. Tudo o resto é secundário.

Noite de Flamenco nos “Jardines de Zoraya”, em Granada

Baile: José Cortes “El Indio” e Judith Cabrera
Cante: Raul Sakay
Guitarra: Alfredo Mesa
Reportagem de Nuno Reis - nuno.reis@unitedphotopressworld.org