A Arte Possível em Portugal

Posted on 12/22/2008 by UNITED PHOTO PRESS

A 8.ª edição da Arte Lisboa, a decorrer até amanhã, poderá ficar marcada como a feira da crise. Espera-se que não e que os resultados contrariem as visões mais pessimistas. Crise à parte, resta ir à FIL (Parque das Nações) e ver o que os artistas fazem.


Acontece todos os anos e tem tentado afirmar-se como a plataforma principal do negócio da arte contemporânea em Portugal. A maioria das galerias portuguesas tem mantido a sua presença porque, para uns, trata-se da principal feira em que participam e, para as galerias com currículo internacional, de uma comparência motivada pela esperança de que um dia a feira de Lisboa atinja uma dimensão mais apetecível e dinâmica.Em traços gerais, pode dizer-se que esta edição da feira não traz grandes novidades, o modelo é o possível para Portugal e em termos internos não se pode fazer mais: estão lá quase todas as galerias e quase todos os artistas representativos da "cena" da arte portuguesa têm trabalhos expostos. O crescimento, a acontecer, terá de vir do exterior através da criação de uma rede internacional que traga a Lisboa artistas, galerias, curadores, coleccionadores e críticos cuja presença legitime e afirme esta feira além- -fronteiras. Como é normal neste tipo de acontecimentos, a Arte Lisboa é um lugar de confusão:


boas obras misturam-se com más obras, o silêncio com o ruído, os bons artistas com os maus artistas. No entanto, é possível ter encontros felizes com autores e trabalhos que resistem à diluição na massa indistinta em que normalmente caem as obras quando mostradas neste tipo de contexto.O ambiente desta feira é, em clara oposição ao que acontecia no início desta década, em que o vídeo e o som enchiam de ruído a totalidade do recinto, mais calmo e tranquilo. Nota-se um forte regresso da pintura e da escultura e uma consolidação da fotografia como meio artístico privilegiado, e a exuberância passada parece estar a dar lugar a uma certa contenção e sobriedade. Uma transformação que não é fruto da escassez de meios, mas da necessidade dos artistas em afirmar o seu trabalho não como entretimento mas enquanto formas pertinentes de pensar as diferentes disciplinas e dinâmicas culturais.


No que toca aos project rooms, este ano da responsabilidade do curador espanhol Paco Barragán com o título "Pintura e outras histórias", o panorama não é nada animador. Ao contrário do que acontecia na edição passada, este ano as propostas individuais dos artistas, à excepção da performance da dupla Sara e André, não são surpreendentes, não acrescentam nada ao debate sobre a pintura na contemporaneidade.A visita à feira é é uma mais-valia sobretudo como forma de desco-berta de trabalhos de artistas que de outra forma não se poderiam encontrar. Fica a vontade de que fos- se melhor, maior e com maiores consequências nas dinâmicas de mercado.