Filosofia chinesa, tigres e pintura

Posted on 6/22/2008 by UNITED PHOTO PRESS

Tigres pintados a óleo por Lui Chak Hong constituem a primeira exposição individual do artista no espaço Creative Macau, até ao dia 30 de Junho. Hong diz que “Puncture Vessel” representa a filosofia chinesa. Para além da arte, o artista desdobra-se entre a medicina tradicional chinesa e consultas de feng shui. São vários tigres coloridos, pintados com traços grossos. Laranja, rosa, amarelo, azul. A passear na neve ou a espreguiçar-se em cima de um monte. Mas os tigres principais são aqueles que estão pintados a vermelho e com contorno a preto, obras a que o autor dá grande importância, a confirmar também pelos preços que constam na lista. A tela mais cara ascende a 23 mil patacas. Mas quando se fala de arte, não se fala de preços. Fala-se de motivações ou aspirações. Lui Chak Hong explica que a cor usada “é influência da caligrafia chinesa e da filosofia chinesa em geral”, como a interferência do feng shui, das estações do ano, do ciclo cósmico yin e yang ou dos doze símbolos do zodíaco chinês no bem-estar das pessoas.“Na filosofia chinesa há vários significados para uma palavra apenas. Por exemplo, yin (寅) refere-se a tigre ou Primavera, enquanto wu (午) significa cavalo ou Verão. Mas quando combinados, o significado é fogo e a cor vermelha deriva do fogo”, elucida. Assim, o tigre vermelho simboliza poder, coragem, agressão e temperamento, de acordo com a crença chinesa. E o que lhe interessa é o tema que tentou retratar e não o retrato em si, ou seja o tigre. “Se são repetições do mesmo tigre ou não, pouco importa. O enfoque é a filosofia chinesa”, como teima em frisar. “Deve aprender-se o significado das palavras com velhos mestres, porque se apenas recorrerem aos livros, asseguro a cem por cento que pouco irão perceber da essência. Espero transmitir essa essência através da pintura”, realça.No entanto, todos os tigres representados demonstram olhar meigo, pachorrento e pouco agressivo. Porquê? “Todos os felinos são meus amigos”, responde. Num próximo trabalho a realizar sobre a natureza, Lui Chak Hong revela que “poderei pintar novamente um tigre ou optarei por um cavalo”.As explicações são dadas à distância. Durante a sua exposição em Macau, Lui Chak Hong encontra-se em Londres onde trabalha em medicina tradicional chinesa e presta consultas de feng shui.Lui aprendeu feng shui com um sábio mestre chinês, tendo publicado um livro relacionado com esta área do conhecimento – “Learning Feng Shui by Yourself”. Em Nanjing, estudou medicina tradicional chinesa. “Não consigo explicar o que me motivou a escolher este curso. Está relacionado com o meu modo de vida. Acho que foi Deus que quis e não eu”, justifica. De Veneza a LondresA arte surgiu como um talento que tem vindo a aperfeiçoar. Com 30 anos, Lui Chak Hong conta já com um vasto currículo de participações artísticas e prémios arrecadados. Com apenas seis anos iniciou-se numa competição de pintura que envolvia estudantes de Macau. A sua participação prolongou-se durante 12 anos consecutivos, levando para casa diversos prémios e uma bolsa de estudo. O artista coloca no mesmo nível de importância a sua profissão e a arte. Ao mesmo tempo que pinta, dedica-se também à fotografia e escultura. Além da presença em competições, expôs com o seu irmão Chak Keong Lui numa mostra de pintura organizada pela Direcção de Serviços e Educação e Juventude de Macau. No ano passado, participou, também com o irmão, na 52ª Edição Internacional de Arte – Bienal de Veneza, com o projecto “Gôndola Macau”, com elementos das Ruínas de S. Paulo e do Templo de A-Ma.“Puncture Vessel” é a sua primeira exibição a solo e há planos para uma segunda individual, desta feita em Londres. A inspiração foi buscá-la ao feng shui, mas também a esposa foi musa. A assinatura lá está em forma de sinete. A responsável pela Creative Macau, Lúcia Lemos, explica que os artistas chineses “sentem maior liberdade ao saber que vão expor neste espaço, longe das regras estabelecidas da pintura chinesa, por exemplo” e reitera esta afirmação com uma questão que imagina que muitos artistas coloquem a si próprios: “Será que não posso pintar como me apetece?” Quanto a Lui Chak Hong, a galerista considera-o “um artista muito versátil”. Em relação à exposição em particular, Lúcia Lemos diz que “este trabalho é figurativo e a sua interpretação depende do público que a visita, das referências que tiver. Se não conhecer a filosofia chinesa poderá não encontrar a essência”, finaliza.A exposição encerra a programação do primeiro semestre da Creative Macau.