O melhor de Picasso em Madrid

Posted on 2/20/2008 by UNITED PHOTO PRESS

"La cabra", a obra criada em 1950, no ateliê de Vallauris (França), é uma das centenas de peças que integram esta mostra restrospectiva do trabalho de Picasso Jacqueline, a última mulher Marie Fernande Olivier Olga Koklowa, bailarina russa Nush Eluard, modelo do pintor Marie-Thérèse Walter Dora Maar, fotógrafa. É a maior exposição retrospectiva de Pablo Picasso em Espanha e uma das maiores realizadas em todo o Mundo.

  • São mais de 450 obras, entre pintura, desenho, gravura, escultura, cerâmica, textos, fotografias da autoria daquele que é considerado o maior génio da pintura do século XX e que decorre actualmente no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid. São autênticas preciosidades, não apenas por ser assinadas por Picasso (e isso por si só bastava, naturalmente), mas também por se tratarem de obras do acervo particular que o pintor sempre se recusou vender. Muitas delas - a grande maioria - permaneceram guardadas quase até aos seus últimos dias de vida, nos vários ateliês do génio da pintura e doadas pelo próprio, com o propósito da instalação do Museu Picasso, em Paris. O que aqui está são fundamentalmente peças que o artista confidenciava serem especiais, aquilo que dizia serem "os picassos de Picasso" e que agora integram a colecção do Museu Nacional Picasso, de Paris, instalado no Hotel Salé, actualmente encerrado para obras de restauro.

  • Catedral picassianaAté ao dia 5 de Maio, Madrid e particularmente o Centro Rainha Sofia transformou-se numa verdadeira "catedral picassiana" onde, além de serem visíveis as diversas fases e estilos do pintor, transparecem - através das suas múltiplas criações - as suas influências, os estados de espírito, os seus amores e desamores. O combate exaustivo e acertivo à violência, à guerra e à injustiça são linguagens estéticas frequentes, onde o expoente máximo são dezenas de esboços e a majestosa "Guernica", que representa o bombardeamento desta cidade, em 1937, por aviões alemães.Os painéis de publicidade em Madrid anunciam por toda a cidade, principalmente na área da Gran Via e na Porta del Sol, o evento. No dia em que se iniciou a retrospectiva, logo pela manhã, estavam grandes filas de espera que chegavam à praça frente ao museu. Pacientes, individualmente ou em grupos, homens, mulheres e crianças aguardavam a entrada. Visivelmente bem dispostos, um grupo de portugueses, a maioria professores de Educação Visual, que vieram de Aveiro e que não quiseram perder a oportunidade de ver a obra do génio. Lurdes Martinho confessa que o propósito da deslocação a Madrid se deveu à ARCO, mas logo que soube, nunca mais tirou da ideia a visita ao "Rainha Sofia".

  • "Quero ver, com os meus olhos, a "Guernica", que nunca vi e quero ver aquela imensidão de quadros que só conheço dos livros", disse a professora aveirense que confidenciou ser admiradora da obra de Picasso", sobretudo "do período azul, onde ele começou a evidenciar a sua mestria e talento no desenho e na pintura". Ordem cronológica - A exposição é apresentada de forma ordenada cronologicamente, ocupando quatro grandes salas, entre o edifício principal e as recentes salas ampliadas (onde esteve patente a antológica de Paula Rego). No início, o visitante poderá observar, na Sala A1, a obra criada entre o período de 1895 e 1924, destacando-se a série dos "Primeiros retratos", onde se inclui "La muerte de Casagemas", um óleo datado de 1901, o "auto-retrato"(1901) e "La Celestina" (1904) que são peças emblemáticas do período azul. Também neste espaço estão expostas obras do cubismo e neoclassicismo, como "Las señoritas de Aviñón"(1907) ou do díptico constituído por "Hombre con mandolina y hombre com guitarra" (1911-1913).Na nova ampliação do museu (Sala Picasso 2) está patente a fase do surrealismo pela qual o artista passou entre os anos de 1924-1935. Neste pólo destaca-se um importante grupo de obras que permitem seguir todo este período, nomeadamente "El bejo, el pintor y su modelo" (1925). Também se salientam as obras, o retrato de Marie-Thérèse Walter, a escultura "Cabezas" e "bustos de mujer", esculpidas no ateliê de Boisgeloup e que se reportam aos anos entre 1929 e 1931.

  • Numa outra sala, que aliás é a dedicada à "colecção permanente do museu", a que foi dado o nome de sala Picasso 3, o destaque vai, indubitavelmente, para "Guernica". Além desta grande tela, estão várias obras realizadas entre 1933 e 1951. Aqui estão expostos uma série de trabalhos que colocam em evidência o compromisso do pintor com a luta que assolava a Espanha durante os anos 30. Neste naipe, poderão distinguir-se três inquietantes obras, "La mujer que llora", "La suplicante" e o retrato de "Dora Maar" que integram os estudos feitos para "Guernica". Também neste espaço poder-se-ão ver as esculturas de grandes dimensões, "Cabeza de toro"(1942), e "El hombre del cordero" (1943), que traduzem a revolta e a angústia sentida na sequência da matança provocada pela Segunda Guerra. A mostra conclui-se na grande sala "Picasso 4" onde se mostram os mais significativos trabalhos realizados entre 1947 e 1972. A primeira série patente neste espaço mostra as obras dos anos 50 que, segundo a comissária da exposição, Anne Baldassari, corresponde "a uma versão totalmente picassiana da culturapop". Ao lado, está um autêntico bestiário criado e recriado a partir de objectos domésticos, desde o ferro e a madeira, onde, neste caso, sobressai uma das mais conhecidas esculturas de Picasso, "La cabra"(1950).Nesta sala também se poderão observar as telas "El taller de La Californie"(1956), pintado em homenagem a Matisse e a série dos "Déjeuners sur l'herbe según Manet", que constituem um importante trabalho de reflexão sobre a história da pintura. No espaço que finaliza esta mostra da colecção do Museu Picasso de Paris, evidenciam-se ainda o retrato de "Jacqueline com las manas cruzadas", dedicada à última mulher do artista e também as telas, "Grandes desnudos" e "Abrazos", através das quais Picasso recorreu a temas tratados, entre outros, por Rembrandt, Ticiano ou Velázquez. Nesta sala, onde se vêem as últimas obras criadas pelo mestre, também está em foco a actividade como ceramista. São mais de vinte peças únicas, criadas entre 1947 e 1957 que vêm reafirmar o multifacetado talento de Picasso que fez, como se sabe, incursões nas mais variadas áreas das artes plásticas.